Unesco sugere proibição de celular em sala de aula

Estudo de Monitoramento da Educação Global aponta melhora no aprendizado dos alunos após restrição do dispositivo móvel

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Mãos de menino mexendo no celular em sala de aula
Após uma distração, o aluno demora até 20 minutos para retomar o foco | Crédito: depositphotos. com
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Países europeus como a Holanda, França e Itália proibiram o uso do celular em sala de aula com o objetivo de reduzir a distração e melhorar a concentração e a aprendizagem dos alunos. No Brasil, em julho, a rede municipal de ensino do Rio de Janeiro também publicou um decreto em que regulamenta o uso dos aparelhos nas escolas públicas. Tais medidas são vistas como positivas segundo o Relatório Global de Monitoramento da Educação, da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), que faz um alerta sobre o uso das tecnologias nos ambientes de aprendizado e destaca uma melhora na evolução dos alunos após a restrição dos dispositivos. O documento intitulado “A Tecnologia na Educação: uma Ferramenta a Serviço de Quem?” mostrou que cerca de um em cada quatro países adota alguma política relacionada à restrição de telefones móveis em sala de aula.

Os aparelhos dificultam a concentração dos alunos nas aulas e se tornaram um desafio diante do enorme volume de estímulos aos quais eles têm acesso numa fase em que ainda estão elaborando sua capacidade de discernimento. “Após uma distração, um estudante leva até 20 minutos para restaurar o foco e a atenção”, afirma Anna Bohn, pediatra da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

O relatório da Unesco cita diferentes estudos sobre o assunto: “Um deles, realizado em 14 países, entre diferentes faixas etárias, concluiu que somente a presença do celular na sala, ou próximo, já causa distração”, conta a médica. Ela explica que as inquietações aparecem com a simples percepção de uma notificação da rede social, do aplicativo ou do jogo instalado, assim como distrações a partir de uma mensagem na tela fechada. “Imagina eventos como esses acontecendo diversas vezes ao dia?”, questiona a especialista a respeito do efeito desse comportamento no aprendizado.

O relatório da Unesco aponta reflexões, estudos e orientações no que diz respeito às ferramentas digitais dentro da sala de aula. “Uma das mais duras recomendações é banir os celulares dentro do ambiente escolar”, informa Anna, ao acrescentar que diversos países europeus estão avaliando como realizar a medida. “Estudos em locais que já restringiram o uso perceberam uma melhora objetiva em scores de aprendizado e performance escolar”, diz.

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Proteção de dados

O relatório também aborda a questão da proteção de dados. Apenas 16% dos países têm leis explícitas sobre privacidade de dados. Durante a pandemia, uma análise revelou que de 163 produtos educacionais recomendados, 89% faziam pesquisa com os dados dos usuários, dados esses que pertenciam a crianças.

A pediatra lembra que, principalmente após a entrada no contexto pandêmico, muitos governos passaram a usar a educação online de alguma forma, mas 39 dos 42 analisados durante a pandemia infringiram direitos infantis de alguma forma. “As crianças não têm maturidade emocional para controlar o uso e entender a complexidade destes dispositivos e das consequências do seu uso exagerado e deliberado”, ressalta Anna.

Cyberbullying

Uma outra preocupação levantada pelo relatório é a questão do cyberbullying, um aspecto mais difícil de ser identificado pela própria condição virtual das relações. “Um trabalho inglês mostrou que 50% das crianças em escola entre 8 e 11 anos possuem um aparelho celular. Destas, mais de 10% sofrem cyberbullying”, informa a pediatra. Ela revela ainda que a Espanha restringiu o uso de celulares na escola e que, depois disso, os registros de cyberbullying caíram de forma significativa, enquanto as notas em matemática e ciências melhoraram.

Para Anna, a tecnologia pode ser usada a favor da educação, desde que haja um uso consciente. “Com boas escolhas de aplicativos, em vez de vídeos sem objetivo e estímulo cognitivo, é possível incluir o aparelho, mas adicionando o contraponto às telas, estimulando as interações sociais, o sono adequado e as brincadeiras ao ar livre para o desenvolvimento infantil”, finaliza.

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