This is Us é uma série que fala de família, que nos cativa e nos faz sentir parte da história. Uma narrativa com seis temporadas, exibidas na Amazon Prime Video/Star+, que eu não queria que acabasse nunca.
São vários os temas importantes abordados, mas, na coluna de hoje, eu resolvi trazer a relação do casal Kate e Toby. Eles se conheceram num grupo de ajuda para pessoas com transtornos alimentares, namoraram, casaram e passaram por alguns desafios juntos.
Toby, em um dado momento, sofre um ataque cardíaco e tem uma recaída da sua depressão ‒ na série, fica claro que ele não tinha uma relação tranquila com os pais.
Já Kate sofreu um aborto espontâneo e foi desencorajada pelos médicos a tentar novamente, por ser obesa. Mas ela queria muito ser mãe e resolveu correr o risco. O casal engravida novamente e ela entra em trabalho de parto prematuro. Com isso, acabam passando dias bem difíceis com o bebê Jack lutando pela vida na UTI. O episódio que mostra esse período, foca na dificuldade do pai em aceitar o filho naquelas condições. A mãe amorosa, cuidadosa, estava sempre presente, passando força para o filho. Já Toby rejeitou a situação. Tem uma cena que o mostra com medo de segurar o filho, se afastando e deixando Kate sozinha no hospital.
Sabemos que isso acontece com frequência na vida real. Segundo o Instituto Baresi, 78% dos pais não conseguem lidar com as fortes emoções diante de um diagnóstico difícil e vão embora, deixando a mãe sozinha para cuidar da criança.
No caso de Kate e Toby, logo após a alta, eles descobrem que o filho tem uma deficiência visual e precisam aprender juntos como fazer as adaptações necessárias.
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Assim que souberam do diagnóstico da retinopatia da prematuridade de Jack, o casal ficou triste, mas aos poucos foram se adaptando ao filho, que estava distante daquela expectativa do indivíduo “normal e perfeito”.
Kate logo se dispôs a aprender tudo que podia a respeito de crianças cegas e até se inscreveu em um retiro para família com crianças que tinham essa condição. Nesse dia, o marido não quis ir e ela chamou a mãe (avó de Jack) para acompanhá-la.
Já Toby, ficou um pouco distante e teve que lidar com seus sentimentos de insegurança e medo. Ele só aprendeu como se relacionar com Jack, mais tarde, durante o tempo em que perdeu o emprego e teve que ficar cuidando do filho em casa, enquanto a esposa trabalhava.
Kate sempre se preocupou em desenvolver no filho uma certa autonomia. Durante a festa em comemoração aos dez anos de aniversário de casamento da mãe dela, o pequeno Jack escapa de casa e caminha sozinho até o parque. Apesar de cego, ele seguiu direitinho os passos ensinados pela mãe. O garoto, porém, se machuca ao cair e bater a cabeça no chão e tem que ir para o hospital dar pontos. Isso causou uma briga entre o casal que ficou trocando acusações de quem seria o culpado pelo acontecido.
O casamento já vinha em crise por outros motivos. Toby começou a emagrecer, fazer academia e ficar mais vaidoso. Ao contrário de Kate, que continuava sempre em casa, comendo muito e cuidando dos filhos – eles adotaram uma garotinha e Jack virou o irmão mais velho.
A série mostra o casal ficando distante e discutindo com frequência. Eles tiveram um desentendimento feio quando Toby quis mudar de cidade por causa do trabalho e Kate não aceitou, pois achava que isso poderia prejudicar o filho com deficiência que já estava adaptado à rotina e ao ambiente da outra cidade.
Filhos com deficiência têm necessidades específicas e exigem bem mais cuidados que uma criança com desenvolvimento típico. Normalmente, quem abre mão do trabalho, do lazer e do estudo, e fica por conta dessa função é a mãe. Isso pode gerar um distanciamento do casal, quando o homem não colabora e não entende o cansaço e a ausência da mulher, ou quando a mãe sem perceber, investe todo tempo e energia no cuidado do filho, vira uma mãe superprotetora e negligência a relação do casal.
Atenção ao spoiler:
No final da série, Kate e Toby acabam se separando.
A primeira regra da parentalidade positiva é: pais felizes = filhos felizes. Para os pais de crianças e adolescentes com deficiência que querem ficar juntos, sugiro que:
1) Tenham uma rede de apoio. Alguém que possa ficar com os filhos de vez em quando – para que consigam se curtir e cultivar a relação do casal. É válido fazer algum programa que faziam quando ainda eram namorados, como ir ao cinema , sair para dançar, ouvir músicas que trazem boas lembranças, jantar juntos ou se for possível, até viajar.
2) Invistam na saúde emocional. Façam terapia, participem de grupos de apoio.
3) Pratiquem o autocuidado. Se alimentem, durmam bem, façam exercícios.
4) Tenham alguém que os escute nos momentos difíceis, sem julgá-los.
5) Foquem nos pontos fortes do outro e usem a comunicação não violenta. Ao invés de fazerem acusações e ficarem buscando culpados, falem sobre o que vêm observando e precisa ser melhorado, deixando claro como se sentem e quais são as suas necessidades.
6) Usem a pausa positiva. Quando um dos dois estiver nervoso, se afastem, esperem o cérebro se regular, para só então terminarem a conversa.
7) Realizem reuniões de família. Se concentrem em achar soluções para os problemas.
8) Se vejam como uma equipe que colabora. Agir como se fossem inimigos, que ficam disputando quem faz mais e ganha, não é construtivo.
Voltando a This is us, é uma série que traz reflexões importantes sobre o que é ser família e eu recomendo muito assistir.
*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.