Ajudar os pais nas tarefas domésticas traz uma série de benefícios às crianças, entre os quais, responsabilidade, autonomia, respeito e senso de colaboração. Porém, nem sempre é fácil fazer com que os filhos se envolvam nesses afazeres ‒ pelo contrário, muitas vezes, eles resistem a colaborar ou se fazem de desentendidos como se os pedidos de ajuda não fossem com eles.
Para conseguir a participação dos filhos, há quem defenda um sistema de recompensas e pagamentos por tarefas realizadas, mas educadores e alguns especialistas em educação financeira desencorajam essas práticas, argumentando que não se trata de uma troca, e sim de fazer as crianças entenderem que elas podem e devem ajudar os pais e que as obrigações com o lugar onde vivem também são delas.
Maya Eigenmann, pedagoga e educadora parental, afirma que a recusa a colaborar vai além do comportamento de teimosia ou afronta da criança, podendo indicar uma manifestação de seus sentimentos. “A gente tem que entender, como adulto, que uma criança que se opõe muito não faz isso por causa da tarefa, ela está deixando claro que tem algo na relação que não está muito encaixado”, explica a pedagoga.
Ela enfatiza que os comportamentos desafiadores são formas dos filhos expressarem aos pais necessidades que não estão sendo atendidas. “A primeira coisa que a gente tem que fazer é olhar para a nossa relação com a criança, como é que eu estou com essa criança”, afirma. Eigenmann recorda que, assim como um adulto, a criança se sente muito mais encorajada a ajudar alguém quando há uma relação de confiança entre pais e filhos. “A gente também não sente vontade de fazer coisas para pessoas que são ingratas, grosseiras ou que nos desrespeitam. Mas quando alguém chega com gentileza ou é uma pessoa na qual confiamos, não pensamos duas vezes em querer colaborar.”
Para cada idade, uma abordagem
Para a pedagoga, fortalecer a conexão com o filho é essencial para incentivá-lo a participar mais na casa. Com crianças a partir de cinco, seis anos, vale falar com elas sobre o assunto. “A gente pode ter uma conversa mais estruturada explicando o porquê de estar fazendo essa divisão de tarefas. A criança, às vezes, não vai achar bom, vai reclamar, mas a gente pode dar a devolutiva e deixar que ela ajude na estruturação da solução”, comenta Eigenmann. Ela sugere, por exemplo, dizer algo como: “então o que você acha que pode fazer? Não dá para os adultos da casa fazerem tudo sozinhos, todos precisamos colaborar. Como é que você pode colaborar?”.
Em relação às crianças menores de cinco anos, Eigenmann afirma que a iniciativa de participar nas tarefas domésticas pode vir de forma espontânea por uma tentativa de imitar o comportamento dos pais. Nesse sentido, ela diz que a abordagem deve ser feita de forma lúdica e deixando a criança fazer do jeito dela para que ela sinta confiança em participar mais vezes. “Muitas vezes nós ficamos criticando o jeito que a criança faz ou botamos muita limitação, mas tem que deixar a criança fazer esse movimento de limpar a casa do jeitinho dela e num momento lúdico. Temos que entender que a criança não precisa limpar para ficar limpo, mas para imitar esse movimento e se apropriar dessa experiência”, afirma a pedagoga.
Combinados sobre as tarefas domésticas
A psicopedagoga Helen Mavichian dá algumas dicas e sugere comportamentos que podem ajudar a fazer com que as crianças se sintam úteis e desenvolvam o sentimento de pertencimento por meio da participação nas tarefas domésticas.
Mavichian recomenda que as famílias organizem as tarefas como um verdadeiro trabalho em equipe, em que cada um faça o seu papel e ao mesmo tempo possa ajudar os demais. Assim, há uma maior sensação de união e conexão na criança. “Essa é uma forma do filho se sentir conectado e que todos estão fazendo alguma coisa. Não adianta ele estar fazendo alguma tarefa e os pais estarem sentados ou trabalhando no home office ou fazendo qualquer outra coisa”, afirma.
Além disso, a psicopedagoga reforça a ideia de evitar recompensas para cada participação das crianças, com dinheiro, brinquedos ou coisas semelhantes. Mais interessante pode ser investir em um tempo de qualidade com os filhos após as tarefas. Por exemplo, com sessões de filmes em família, passeios, “coisas que não sejam monetárias, mas que sejam momentos que criem uma recordação sentimental para eles”, relata.
Mavichian diz ainda que a colaboração nas demandas da casa não precisa ser diária. “Além de aprender a limpar a casa, esses trabalhos são importantes para desenvolver o senso de responsabilidade, de organização e preparar essa criança para a vida adulta. Então não tem problema essas tarefas serem só um dia na semana, mas precisa ter um momento de diálogo”, conclui.