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Sobre episódio do Dalai Lama: ‘sociedade aceita com uma criança o que acha inadmissível com um adulto’
O líder espiritual do Tibete, Dalai Lama, divulgou um pedido oficial de desculpas após causar repúdio e enorme repercussão negativa com vídeo em que aparece dando um beijo de selinho em um menino e, em seguida, pedindo que o garoto chupe sua língua.
Nota publicada nas redes sociais oficiais do líder tibetano afirma que ele pretende se desculpar com a criança e a família, bem como com seus muitos amigos em todo o mundo “pela dor que suas palavras possam ter causado”.
Segundo o comunicado, “sua santidade costuma provocar as pessoas que conhece de maneira inocente e lúdica, mesmo em público e diante das câmeras. Ele lamenta o incidente”. A nota também afirma que o menino tinha perguntado ao Dalai Lama se ele poderia lhe dar um abraço.
A psicóloga e especialista em sexualidade, Leiliane Rocha disse disse ter recebido muitas mensagens sobre o assunto. Em suas redes sociais, avaliou como “inaceitável” o comportamento desse grande líder mundial.
Para ela, não se trata de um episódio pontual : “Não é só sobre este episódio de Dalai Lama. É sobre pastores, padres, presbíteros, pais de santo, monges, rabinos, diáconos e tantos outros líderes religiosos que usam o manto da religião para abusar crianças”.
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Leiliane diz existir uma cultura “na qual muitos adultos acreditam que podem fazer o que quiserem com o corpo infantil. É sobre uma sociedade que aceita com uma criança o que acha inadmissível com um adulto”.
Segundo a psicóloga, temos muito a avançar na proteção das crianças. “Precisamos buscar conhecimento para lutarmos com consciência e consistência”.
No perfil infancia_fora_da_caixa, a pediatra Luiza Menezes comentou não haver desculpas para o ocorrido. “Não existe contexto, cultura ou religião que justifique o abuso infantil. Não há margem para má interpretação. O que aconteceu foi um crime. Agravado pela importância internacional e hierárquica do agressor, visto (por muitos) como um exemplo a ser seguido”.
Luiza chamou atenção ainda para o fato de que selinho não é brincadeira. “Por essas e outras que não podemos relativizar o tema. Espero sinceramente que os órgãos responsáveis se posicionem, que toda sociedade compreenda a gravidade do ocorrido e que fique claro que os abusadores estão por todas as partes, inclusive recebendo prêmio nobel”.
Já a psicopedagoga Isa Minatel comentou o fato do líder tibetano jogar toda a sua reputação na lama. “É grave demais tudo isso. O tanto que a gente desrespeita as crianças e nem se dá conta. O tanto que a gente nem imagina as infâncias desrespeitadas que estão por trás dos adultos desrespeitosos… o ciclo é infinito!”
Para organização, prática não tem a ver com cultura tibetana
O vídeo é de 28 de fevereiro, mas se popularizou nas redes sociais recentemente. A gravação ocorreu durante uma audiência com o Dalai Lama em McLeod Ganj, subúrbio de Dharamsala, no norte da Índia, onde o líder espiritual vive exilado desde o fracasso da revolta tibetana de 1951 contra o domínio chinês.
De acordo com a CNN, a identidade do menino não é conhecida. Em resposta ao incidente, o grupo de direitos da criança com sede em Nova Deli, Haq: Center for Child Rights (Centro de Direitos das Crianças), disse à CNN em um comunicado que condena “toda forma de abuso infantil”. A organização disse ainda que “algumas notícias se referem à cultura tibetana sobre mostrar a língua, mas este vídeo certamente não é sobre nenhuma expressão cultural e, mesmo que seja, tais expressões culturais não são aceitáveis”.
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Verônica Fraidenraich
Editora da Canguru News, cobre educação há mais de dez anos e tem interesse especial pelas áreas de educação infantil e desenvolvimento na primeira infância. Tem um filho, Martim, sua paixão e fonte diária de inspiração e aprendizados.
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