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A importância dos primeiros mil dias de vida da criança
Você já ouviu falar sobre a importância dos primeiros mil dias de vida de uma criança? De acordo com especialistas, esse momento é o mais importante do desenvolvimento físico e mental de qualquer ser humano. Por isso, o que acontece durante a gestação e os primeiros 2 anos da criança pode determinar inúmeros fatores de sua vida quando adulto.
Surgimento ou não de doenças crônicas, saúde física e mental e até mesmo o seu papel na sociedade. Todas essas características podem ser relacionadas com os primeiros anos de vida de uma criança.
“O que todo mundo espera é que a criança se torne inteligente, emocionalmente equilibrada, socialmente adaptável, biologicamente saudável”, diz Ana Escobar, pediatra, livre-docente da Faculdade de Medicina da USP e consultora do programa Bem-Estar, da TV Globo. Ela foi uma das palestrantes de evento promovido pela Danone Nutricia, divisão de nutrição especializada da Danone, que promoveu na quinta-feira (25) a 7ª edição do curso de imersão “Primeiros 1000 Dias”, voltada a profissionais de saúde.
O ‘intervalo de ouro’ é o período que vai desde o primeiro dia de gravidez até os dois anos de idade das crianças.
O evento abordou os principais aspectos que envolvem o chamado “intervalo de ouro”, período que vai desde o primeiro dia de gravidez até os dois anos de idade das crianças, ressaltando a importância de nutrir, cuidar e estimular o bebê nesse período. A influência dos fatores ambientais no desenvolvimento infantil e o impacto dessas ações na família e na sociedade como um todo também foram abordados.
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A nutrição nos primeiros mil dias da criança
Uma alimentação saudável é um dos pilares da qualidade de vida, independentemente da idade. Entretanto, durante os primeiros anos de vida, o hábito ganha um poder ainda maior já que, segundo médicos e nutricionistas, consegue evitar inúmeras doenças futuras e ainda ajudar no desenvolvimento.
A atenção com a questão nutricional, portanto, deve existir desde a gestação. De acordo com obstetra Dra. Lilian de Paiva Hsu, hoje em dia não é mais aceito ou indicado que a gestante ganhe 10 ou mais quilos. O mais importante mesmo é como essa grávida se alimenta de modo a melhorar o aporte nutricional do feto.
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Essa questão é tão relevante que a especialista apontou a presença de elementos intergeracionais. “Aquela história de que nós somos o que comemos, é verdade. Mas nós somos o que comemos, o que nossas mães comeram grávidas de nós e o que nossas avós maternas comeram”, afirma.
A nutricionista Dr. Carolina Pimentel, complementando o tema, falou sobre alguns nutrientes-chaves nessa fase: ferro, ajudam na síntese de hemoglobina; ácido fólico, importantes para a função neurológica e o desenvolvimento do cérebro; ácidos graxos, que atuam no desenvolvimento neurológico; e probióticos, que contribuem para maior tempo de gestação e maior peso ao nascer.
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Após o nascimento – a ação do leite materno
Depois do nascimento, os cuidados da mãe com a alimentação devem continuar, mas também é o momento de se atentar à nutrição do bebê. É mais que sabido que o leite materno é alimento essencial e de extrema importância até os 2 anos e deve ser dado de forma exclusiva pelo menos nos primeiros seis meses de vida.
Ana Escobar, explica que “o leite materno tem diversas células embrionárias que se tornam outras [no organismo do bebê]. Se tornam células musculares, do sangue, neurônios, coração, fígado… é o único alimento que oferece todos os aspectos nutricionais essenciais de defesa imunológica”.
A pediatra ainda explica que o leite materno é uma grande fonte de ômega 3 e 6, essenciais para o desenvolvimento humano. Segundo ela, esses ácidos graxos são fundamentais para garantir a fluidez das membranas que envolvem as células do corpo, que têm consistência oleosa. “O tipo de gordura ingerido pode alterar a composição desses ácidos graxos nas membranas, influenciando o desenvolvimento e funções das nossas células e, portanto, o desenvolvimento dos órgãos. Isso é essencial no começo da vida”, diz Ana Escobar.
Além disso, esses ácidos graxos (que precisam ser consumidos desde a gestação pela mãe) também tem papel importante no desenvolvimento neurológico da criança nos primeiros mil dias de vida da criança, pois contribuem com a transmissão de impulsos nervosos pelos neurônios. “E o leite materno é um alimento rico nesses elementos”, finaliza.
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O desenvolvimento emocional e social – a importância do afeto
Arthur Lorenzetti, diretor de Pediatria da Danone Nutricia, e Márcia Schöntag, diretora de Medical Affairs e Acesso ressaltaram o impacto dos primeiros anos de vida no desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças, assim como na sociedade e na economia como um todo.
Em conjunto com o aporte nutricional, o afeto é fator fundamental para o desenvolvimento das crianças. Oferecer interações e estímulos afetivos ao bebê garante que ocorram conexões entre seus neurônios, favorecendo assim a atividade cerebral.
“Um bebê, quando estimulado, pode desenvolver até 700 sinapses por segundo”, afirma a pediatra Ana Escobar.
“Um bebê, quando estimulado, pode desenvolver até 700 sinapses por segundo”, afirma Ana Escobar, explicando que a neuroplasticidade ocorre principalmente quando há vínculo afetivo entre o bebê e seu cuidador.
Sobre isso, a psicóloga e terapeuta familiar Dra. Tais Masi aponta que o ambiente em que o bebê está inserido é determinante em seu desenvolvimento, sendo necessário estimular o tato, o equilíbrio, o movimento e aspectos vitais (como sono e harmonia, por exemplo).
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E, para garantir isso, também é necessário estar atento às mães no momento pós-parto, já que o desenvolvimento do bebê, de acordo com ela, tem relação com a saúde física e emocional da mãe e cuidadores. Por conta disso, especialistas defendem que seja feito um acompanhamento multidisciplinar durante e após a gestação.
“Em relação à afetividade e ao afeto, o pediatra vai precisar da equipe multidisciplinar e, na minha opinião, é preciso promover na formação do pediatra, de maneira mais aprofundada, o aspecto relacionado a abordagem das mães na depressão pós-parto”, explica o pediatra Dr. André Laranjeira.
Todos esses estímulos — nutricionais e afetivos — compõem a formação do bebê e sua transformação para a infância e vida a adulta. Mas quais os resultados disso?
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Efeitos positivos na vida adulta
Na verdade, não é necessário esperar até que a criança chegue à idade adulta para observar os efeitos positivos que os cuidados com os primeiros mil dias de vida da criança trazem.
Desde o início da fase escolar, por exemplo, é possível notar aptidão para aprendizagem, memória e até empatia. Mais tarde, tudo isso pode ser notado quando se fala em competência social e até produtividade.
O Dr. Ricardo Halpern, fundador do Departamento Científico de Comportamento e Desenvolvimento da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), ressalta como as interações diárias com a família e o engajamento na comunidade são alguns dos aspectos responsáveis pelo desenvolvimento da competência social posteriormente.
“O sistema familiar funciona como um móbile, em que é preciso ter estabilidade”, diz o pediatra Ricardo Halpern.
“O sistema familiar funciona como um móbile, em que é preciso ter estabilidade. Neste sistema, as interações interpessoais, as alianças, a adaptabilidade e o modo como a família atua em situações de estresse, por exemplo, possuem impacto direto na formação do indivíduo competente”, explica.
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A competência e a produtividade do indivíduo, claro, têm relação direta com questões econômicas do país, por exemplo. A partir de dados de pesquisa, o economista e professor do Insper Naércio Menezes Filho mostrou que existe uma relação entre o desenvolvimento neurológico, afetivo e a produção econômica do indivíduo depois de adulto.
Para ele, problemas de desenvolvimento durante a infância (considerando o aspecto nutricional, afetivo e social) levam a dificuldades de aprendizagem, as quais, por sua vez, podem causar evasão escolar ou menor rendimento, tornando o indivíduo menos preparado e produtivo posteriormente.
“Problemas de desenvolvimento durante a infância levam a dificuldades de aprendizagem”, destaca o economista Naércio Menezes Filho.
“Para um futuro mais sustentável, é preciso igualar oportunidades, principalmente com a reformulação de programas sociais, para garantir que todas as crianças, independentemente de renda, cor, sexo e região, tenham acesso à nutrição adequada, ambiente familiar afetivo e seguro, sejam estimuladas e tenham uma educação de qualidade para, assim, atingirem um desenvolvimento saudável”, aponta o especialista.
O Dr. André Laranjeira fala sobre a importância de existirem políticas públicas para que tudo isso aconteça. “Investindo de maneira precoce em programas de pré-natal e fase inicial da vida, o retorno sobre investimento em uma sociedade é muito maior que se investirem em treinamento de emprego para adultos”, afirma.
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Thainá Zanfolin
Jornalista formada pela UNESP, tem experiência na área de Ciência e Saúde, inclusive em temas que envolvem desenvolvimento e bem-estar infantil. Já participou da produção editorial de livros informativos e revistas de diversos assuntos.
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