Pais e mães exaustos: 3 atitudes para enfrentar o turbilhão

A colunista Magda Gomes Dias destaca práticas que ajudam as famílias a manter uma rotina e aliviar o cansaço

759
Pais exaustos: 3 atitudes para enfrentar o turbilhão; homem sentado no sofá com mãos na cabeça e mulher ao fundo em pé segura bebê nos braços
"Procuramos manter as rotinas, que são, de fato o que nos alivia o cansaço, mas percebemos que, ainda assim, é difícil assegurar algumas delas", diz Magda
Buscador de educadores parentais
Buscador de educadores parentais
Buscador de educadores parentais

A Gretchen Rubin, escritora americana, tem uma frase que adoro e que diz “ Os dias são longos , mas os anos são curtos.” Esta frase é verdade para quem tem filhos pequenos, naquelas fases muito desafiantes. A ela juntamos a outra frase que diz: passa a correr, passa rápido. Ou seja, a noção de tempo é altamente subjetiva. Não tem só que ver com o tempo que passa, mas também com o tempo social. Ouço pessoas da geração dos meus dizer “No meu tempo e com a tua idade eu já estava/já era, já tinha.” Hoje, aos 43 anos, sinto-me com 20, vejo-me com 20, mas a realidade ao espelho e na forma como me tratam “a senhora” mostram-me a realidade. O tempo mental é um, o tempo físico é outro. O tempo é uma medida altamente subjetiva.

Falando com várias pessoas, a noção em relação ao tempo deste último ano é algo que daria uma tese ou uma comédia. Não sei se te aconteceu também, mas dei por mim, por vezes, a não saber exatamente, em que fase do ano estava, em que mês ou dia era. Ao trazer o trabalho para dentro de casa, e a viver todas as esferas da minha vida ao mesmo tempo, as fronteiras temporais começaram a desaparecer. Trabalho ao fim de semana – algo que a maior parte dos empreendedores e pessoas que têm os seus próprios negócios fazem – mas acredito que passei dos limites. Não me dei conta. E percebi que tomo decisões o tempo todo. Entre o tempo que não sabemos que temos até esta pandemia terminar, tomo decisões. O que fazer para o jantar, o que fazer se este projeto não der certo, o que fazer com este cansaço. A angústia das decisões, tão bem definida num texto de Sartre que postei há umas semanas arrasa conosco. 


Leia também: O principal é decidir em família uma rotina que seja boa para todos


Tenho percebido que, de uma forma geral, estamos todos esgotados, com falta de vitalidade. Procuramos manter as rotinas, que são, de fato o que nos alivia o cansaço, mas percebemos que, ainda assim, é difícil assegurar algumas delas.

Vejo pais completamente exaustos, num estado de burnout que só tem solução quando se pede ajuda para que se volte a equilibrar a balança. 

A organização do nosso tempo, onde existimos nas diferentes esferas, torna-se então algo que precisamos de olhar com a máxima seriedade para sairmos deste turbilhão em que muitos já estamos metidos.

Alguém disse, e cheio de razão: Podemos ter tudo – só não podemos ter tudo ao mesmo tempo.

Para manter uma rotina, precisamos ser generosos consigo mesmos: não dá para ter tudo ao mesmo tempo.

Então, e para começar, vamos olhar para esta tríade super importante:

O descanso 

A alimentação 

A atividade física

São 3 elementos que precisam estar presentes na nossa vida. 

Eu passei a permitir-me dormir a sesta (um cochilo à tarde), de vez em quando. Permitir foi o verbo que usei, é verdade. Porque preciso respeitar o meu corpo, o cansaço que sinto.

Se sempre fui cuidadosa com a alimentação, a verdade é que estou a seguir um plano sério, com benefícios anti-oxidantes. É fácil cair no “só um copo de vinho, só uma batata frita”. Também é fácil, para quem não tem filhos, passar o dia sem comer, porque está a fundo no seu trabalho. Já para quem tem filhos, cozinhar pode ser um pesadelo. Para mim, neste segundo confinamento quase foi quase isso, o que me fez retomar um hábito que me salva sempre: decidir os menus e tirar uma manhã por semana, para preparar todas as refeições da semana. Também vou buscar fora ou mando vir, mas porque quero alimentar-me bem, resolvo tudo numa manhã. E posso garantir que a obrigação deixa de existir porque está assegurada de uma vez só.

E finalmente, a atividade física. Já não procuro os “6 pack” (a chamada “barriga de tanquinho”) – mas o treino de força, de equilíbrio, porque um dos motivos de morte ou invalidez a partir de uma certa idade é a falta de força derivado à perda de músculo. Claro que praticar esportes traz muitas outras vantagens, mas eu foco também nesta – sinto mais força, mais agilidade. Como se tivesse os tais 20 anos…

E se estes três pontos são importantes para a rotina, também precisamos de trazer mais coisas à nossa vida. Criatividade, diversão, leveza, felicidade. Sabem, as coisas estão puxadas.

No início do confinamento passado, e neste, decidi desafiar-me. Decidi que, enquanto durasse o confinamento, não iria repetir a mesma roupa. Decidi que iria cozinhar um prato diferente todos os dias. Não sei como consegui quase dois meses de pratos diferentes – mas o desafio de um conjunto diferente, todos os dias, é um bossa na minha criatividade e auto-estima. Posso não sair todos os dias, mas todos os dias cuido de mim. Visto-me, coloco os meus cremes, o meu eyeline (delineador) e rímel, e o meu batom. Não é negociável. 

Em jeito de resumo: os dias podem ser longos ou curtos, mas os anos, esses, passam a voar. E no nosso dia a dia, precisamos de assegurar que existimos nas diferentes esferas que temos, nos diferentes papeis. E para que isso aconteça precisamos de repetir que “Podemos ter tudo, só não podemos ter tudo ao mesmo tempo” – e isso vai trazer um olhar mais generoso para conosco que é o que nos permite conciliar o que é importante, sem culpas, de forma tranquila.


Leia também: Pediatras dão dicas a pais que ainda não conseguiram organizar rotina


Gostou do nosso conteúdo? Receba o melhor da Canguru News, sempre no último sábado do mês, no seu e-mail.

Magda Gomes Dias
Magda Gomes Dias, 44 anos, tem dois filhos: Carmen, 12 anos, e Gaspar, 9 anos. É natural do Porto, Portugal, e fundadora da Escola da Parentalidade e Educação Positivas, onde oferece programas de certificação e especialização na área. Autora do blog 'Mum's the boss', escreveu os best-sellers 'Crianças Felizes' e 'Berra-me Baixo', além do livro 'Para de Chatear a Tua Irmã e Deixa o teu Irmão em Paz'.

DEIXE UM COMENTÁRIO

Por favor, deixe seu comentário
Seu nome aqui