Por Agência Einstein – Mesmo antes da pandemia do novo coronavírus, a Organização Mundial de Saúde (OMS) tinha definido 2020 como o ano internacional de enfermeiros e parteiras. Ambas as profissões ainda sofrem com a falta de prestígio e investimentos, especialmente as parteiras – ou obstetrizes, parteiras profissionais que se formaram em alguma especialização, mas ainda vistas com desconfiança por grande parte da comunidade. Segundo a OMS, o investimento em educação para essas profissionais ajudaria a salvar as vidas de 4,3 milhões de mães e bebês até 2035.
O estudo da organização se baseou em dados e projeções feitos no aplicativo Lives Saved Tool, que estima o resultado de diversas ações por meio de cálculos matemáticos. O foco da pesquisa foram 88 países que concentram 95% das mortes maternas, natimortos e recém-nascidos mortos. Juntos, esses países concentram 76% da população mundial, porém, apenas 46% do corpo de profissionais da saúde ao redor do globo. Utilizando esse sistema matemático, os pesquisadores fizeram três projeções: aumento no investimento atual em 10% e 25% feito por essas nações a cada cinco anos; e crescimento até o ideal considerado pela OMS.
No primeiro modelo, os estudiosos projetaram que o investimento mais modesto já diminuiria em 22% o número de óbitos de mães, em 23% o de recém-nascidos mortos, e reduziria em 14% o número de natimortos. Isso, no ano de 2035, salvaria a vida de 1,3 milhões de pessoas. Já no segundo, a redução de óbitos seria ainda maior: 41% das mães seriam salvas, 39% dos recém-nascidos sobreviveriam e os casos de natimortos seriam reduzidos em 26%. O resultado dessas ações levaria a 2,2 milhões de vidas salvas em 2035.
No melhor dos casos, quando o investimento consegue abranger toda a população, os índices chegam a quase dobrar. Seriam evitadas as mortes de 67% das mães, 64% de recém-nascidos e 65% de natimortos. No total, 4,3 milhões de vidas seriam salvas. Contudo, se os governos optarem por reduzir os investimentos – apenas 2% a cada cinco anos –, o número de mortes aumentará em 552 mil.
“As parteiras estão ali para ajudar a família. A mãe sabe que, com a parteira ao seu lado, ela terá com quem contar. Essas profissionais podem ser uma peça fundamental em todo processo da gravidez, desde o pré-natal, durante o parto e no puerpério”, afirma Frances McConville, obstetriz e conselheira da OMS em obstetrícia. “O trabalho dessas profissionais é um trabalho em grupo, com o médico e os enfermeiros”, conclui.
Outros benefícios no investimento em parteiras seriam a redução de abortos, que diminuiriam de 40 milhões para 25 milhões por ano. Além disso, devido ao seu trabalho com as famílias e aos cuidados com a saúde do feto, essas profissionais, se bem capacitadas, podem reduzir a morte de crianças pelo vírus HIV de 27 mil para 15 mil anuais.
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Obstetriz como parte fundamental do planejamento familiar
“Ela vai observar toda a família com carinho. Desde a mãe até o pai, passando por outros membros familiares. É importante entender que o nascimento de uma criança é um evento familiar”, explica a conselheira da OMS.
Um dos atributos da obstetriz, além de auxiliar a mãe no momento do parto, é ajudar a família a se planejar para o nascimento da criança. Ela pode fazer isso conversando e dando informações para os pais sobre as formas de cuidar da mãe, do bebê, e de ajudá-los na manutenção da saúde.
Para as mães, o trabalho das parteiras é ainda mais benéfico. Além de acompanhá-las nos partos, essas profissionais têm papel importante no suporte psicológico durante a gestação, no auxílio para o empoderamento das mulheres, e ainda providenciam ajuda às mães e aos recém-nascidos logo após o parto. “Essas mulheres fazem parte da comunidade. As mães confiam nelas e toda família também. Para nós, obstetrizes, a família vem em primeiro lugar”, conclui a McConville.
Situação no Brasil
Em um país onde 55% dos nascimentos ocorrem de forma cirúrgica (40% a mais do que recomendado pela OMS), a profissão de obstetriz ainda é muito rarefeita. Ainda é comum vermos parteiras da comunidade, mas que possuem pouco treinamento e especialização.
Segundo o deputado federal Camilo Capiberibe, autor do Projeto de Lei 912/2019, que prevê a qualificação para as parteiras tradicionais, existem atualmente cerca de 60 mil parteiras no Brasil. O número abrange profissionais e amadoras, e a maioria está localizada na região Norte. A profissionalização e a especialização são raras no País, ficando restrita a algumas universidades nos principais centros. No curso da Universidade de São Paulo (USP), já se formaram 394 obstetrizes. Já a ação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em parceria com o Governo Federal e com o grupo Curumim, capacitou 416 parteiras tradicionais no estado do Amazonas.
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