Por Sabrina Abreu e Catarina Ferreira – Uma das mais conhecidas canções natalinas conta a história de alguém que deixou o sapatinho na janela e recebeu, em troca, um presente do Papai Noel. Os versos da música dizem: “Seja rico ou seja pobre, o velhinho sempre vem”. Mas nem todas as famílias aceitam que Papai Noel seja atração principal nas celebrações do Natal.
Curitibana residente em São Paulo, a cozinheira Priscila Fiori sempre estimulou Manuella, sua primogênita, hoje com 11 anos, a acreditar em Papai Noel. “Falava que íamos deixar a chupeta para ele, incentivava-a a escrever cartinha todos os anos, passeávamos no shopping para tirar foto, porque ela amava”, lembra. O resultado foi que, até o ano passado, Manuella continuou acreditando na existência do “bom velhinho” e curtindo essa fantasia.
Porém, com a filha mais nova, Alice, de 4 anos, Priscila começou a notar outra reação a essa crença. A associação entre o Natal e o consumismo fez soar um alarme. “A pequena começou a falar coisas do tipo ‘se você não me der, o Papai Noel vai dar’, e isso me deixou incomodada”, conta. A saída encontrada pela mãe foi revelar parte do segredo. “Permito que ela pense que o Papai Noel vai trazer uma lembrancinha, mas deixo claro que os presentes mais caros são dados pelo papai Rodrigo”, conta, referindo-se ao marido, o bancário Rodrigo Victor Silva. Priscila crê que a diferença de personalidade entre as duas meninas contribuiu para a forma como cada uma lidou com a figura do Papai Noel, mas a mãe também credita o problema ao grande apelo do consumo na infância.
Estimular a gratidão a quem de fato é responsável por presentear a criança é uma das razões pelas quais as instituições de ensino ligadas à logosofia preferem se manter neutras quando o assunto é Papai Noel. “Temos na escola famílias de diferentes orientações religiosas e também famílias não religiosas. Respeitamos a forma como cada uma escolhe tratar esse assunto em casa, mas, na escola, nossa opção é pela neutralidade”, explica a diretora do Colégio Logosófico de Belo Horizonte, Liara Moreira Salles.
Pais de Helena, de 4 anos, a secretária Cíntia e o professor de inglês José Caetano são evangélicos e fazem questão de mostrar para a filha que Jesus é a razão do Natal. “Para não causar confusão, acabamos deixando Papai Noel de lado”, explica Cíntia. Porém, se Helena fala algo sobre o “bom velhinho”, a mãe não reprime a imaginação. “Deixo bem à vontade, porque as crianças se desenvolvem a partir da fantasia. Até já a levei para tirar foto com Papai Noel no shopping, porque ela pediu”, conta.
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Personagens
“As crianças pequenas vivem entre o mundo da fantasia e a realidade, um mundo cheio de super-heróis, princesas e vilões. Elas se identificam com alguns desses personagens e formulam histórias com eles, para amenizar seus medos e angústias”, esclarece a psicóloga Cristina Castro Aguiar, de Belo Horizonte. A especialista lembra que, a certa altura, os pequenos amadurecem e, naturalmente, param de crer, sem maiores transtornos. Ela não vê essa fantasia como algo nocivo: “Na atualidade, com tanta falta de respeito e tantos valores distorcidos, que mal há em utilizar a imagem do “bom velhinho” para incentivar a criança a ter respeito ao próximo, educação ligada à moral e bons costumes?”, questiona.
A psicóloga carioca Luciana Genial alerta para o perigo de chantagens feitas em relação ao amor do Papai Noel. “Isso é uma maldade com a criança e com uma figura tão fofa”, define. Ela também reforça que, naturalmente, as crianças que deixam de acreditar passam para o outro lado, o daqueles que sabem o segredo. “Em casa, estou experimentando isso: meu filho não acredita mais e vai ajudar a construir a fantasia da irmã, tudo com leveza”, diz, sobre João, de 10, e Helena, de 4 anos.
No Colégio Visconde de Porto Seguro, em São Paulo, Papai Noel é mero figurante. Graças à tradição alemã, base do currículo bilíngue da instituição, o destaque é o Menino Jesus, que é o responsável por colocar os presentes no sapatinho. Sim, num sapatinho, igual ao dos versos daquela canção de Natal, na qual quem presenteia é o Papai Noel. Esse exemplo só serve para mostrar como, ao longo dos séculos e até hoje, as tradições se misturam e, em família ou na sala de aula, com ou sem “bom velhinho”, os ritos e, especialmente, os desejos natalinos têm muito em comum.
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A carta de Virginia
Em 1897, chegou ao jornal The Sun, de Nova York, uma carta escrita por uma garotinha de 8 anos chamada Virginia O’Hanlon, com a seguinte pergunta: “Existe Papai Noel?”. A resposta foi escrita pelo editor Francis Pharcellus Church e publicada pelo jornal como um editorial, no dia 21 de setembro daquele ano. Desde então, tornou-se um dos textos mais importantes da história do jornalismo mundial, com inúmeras traduções, tendo aparecido em vários livros, filmes e outras publicações ao redor do planeta. Leia essa famosa resposta na íntegra, CLICANDO AQUI.
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