Se para os adultos é difícil ter um controle do que consumimos, para as crianças e os adolescentes pode ser ainda mais desafiador, sobretudo diante da pressão social para que tenham determinado brinquedo ou se vistam e se comportem de certa maneira e assim possam ser aceitos em seus grupos. Cabe aos pais ensinar que “ter” é diferente de “ser”, e isso passa por impor limites e falar o tão difícil e temido “não” na hora certa, lembra a educadora Carolina Delboni, especialista em comportamento adolescente.
“Há uma geração de pais que tem extrema dificuldade em dizer “não” aos filhos, em colocar limites. São pais que, por diversas razões – como frustrações, desejo de dar o que não tiveram, medo de enfrentar o próprio filho – acabam cedendo e dizendo “sim” em muitas situações do cotidiano”, diz Carolina. Como consequência, as crianças e os adolescentes crescem “sem limites materiais e, principalmente, sociais pois ganham a falsa sensação de que tudo podem, inclusive atravessar o limite do colega”, acrescenta.
Com a chegada do fim do ano e a aproximação do Natal, as ofertas dos mais variados bens de consumo ficam ainda mais em evidência, e muitos pais sofrem para fazer com que os filhos entendam o que podem ou não ganhar de presente. Não é raro nos depararmos com as clássicas cenas de pequenos fazendo escândalo no meio de uma loja porque querem que os pais comprem determinado produto.
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O brinquedo em troca de presença
Segundo Carolina, a criança sente necessidade de possuir algo de forma rápida, quer apenas saciar o desejo, o que tem uma relação muito forte com as telas e a velocidade com que estamos consumindo conteúdos. “Tudo é muito rápido, as imagens são rápidas, os produtos aparecem e desaparecem e logo lançam outra coisa mais interessante, e todo este contexto vai moldando um comportamento fugaz na criança”, diz.
E os pais, muitas vezes, suprem os pedidos como forma de demonstrar amor, substituir presença e não frustrar o próprio filho. “Mas isso é uma bola de fogo que a qualquer momento vai explodir porque não existe espaço na sociedade para esse tipo de consumo e desejo ilimitado”, explica a especialista.
Essa atitude permissiva dos pais contribui para uma geração de crianças e adolescentes que não são capazes de esperar, de conter os próprios desejos, e não sabem lidar com o “não” – e assim vão rompendo com uma série de regras da vida em sociedade. Carolina ressalta que “para educar um filho, é preciso se autoeducar também. Ao dizer “não” para os filhos, ao dar limites para essa criança, estou fazendo a mesma coisa comigo, internamente”.
Dicas para um consumo mais consciente
Além de impor limites e dizer “não” aos filhos, a educadora sugere alguns exercícios e atitudes que podem ensinar as crianças a lidar com os desejos de compra.
O exemplo dos pais
“Como diz o bom e velho ditado, os filhos são espelhos dos pais e acabam copiando as atitudes e comportamentos dos adultos. Sendo assim, é importante dar o exemplo e evitar o consumismo em si mesmo”, diz a educadora.
Educação financeira
Outro ponto importante é falar com os filhos sobre finanças e sempre usar da transparência, explicando a diferença entre o que ele quer, e o que ele pode de fato ter ou ganhar.
Mesada
Para crianças mais velhas, já na adolescência, pode ser interessante que os pais deem uma mesada, e ensinem como lidar com aquela quantia, criando assim um senso de responsabilidade financeira.
Passeios, brincadeiras e experiências
A troca de um bem material por experiências sensoriais e simples, também pode ser uma boa. Um piquenique no parque, uma sessão de jogos, leitura, e outras atividades do tipo podem fazer com que a criança perceba que há coisas muito mais legais do que adquirir aquele brinquedo, roupa ou eletrônico tão desejado.
Tempo de qualidade
Vale lembrar, ainda, que a presença de qualidade dos pais junto às crianças é fundamental para que elas cresçam e se desenvolvam de forma plena. Muitos adultos cismam em compensar a ausência – devido a compromissos, ritmo de trabalho acelerado, viagens profissionais etc. – com presentes materiais, o que é um erro. “Esteja mais perto do seu filho, converse, troque experiências, se interesse pelos assuntos deles e mostre que a vida é muito mais do que só adquirir e desejar bens materiais”, conclui Carolina.