O certo é dividir o brinquedo com o amigo. Será que é mesmo?

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    Crédito: Ostap SenyukUnsplash

     

    Da redação

    ‘Filho, divide o brinquedo com seu amigo.’ Que pai ou mãe nunca disse isso à criança, na tentativa de fazer com que ela empreste ‘só um pouquinho’ o seu brinquedo? No parquinho, por exemplo, quantas vezes não mediamos conflitos porque o nosso filho quis pegar o balde, a pá ou a bola que eram de outra criança ou vice-versa? Há quem diga até que, por esse motivo, ir a um parque é algo muito estressante.

    Nós, os adultos, nos sentimos olhados e cobrados pelos outros pais, mães, avós ou cuidadores, se não fazemos nada quando surge uma situação dessa ordem. A gente acha que é nossa obrigação intervir e mostrar às crianças que o certo é dividir. Mas será que é mesmo?

    Nem todos os pequenos estão preparados para compartilhar. E, às vezes, a nossa própria intervenção pode levar a um conflito que talvez não tivesse chegado a tanto. 

    Até os quatro ou cinco anos, as crianças podem não estar preparadas para dividir”, afirma a psicóloga Verónica Pérez Ruano, fundadora do centro de psicologia infantil Raízes, da Espanha, em matéria publicada no jornal El País.

    Segundo Verónica, antes dessa idade as crianças vivem o mundo de uma forma egocêntrica, em que tudo acontece conforme sua vivência e perspectiva. É uma fase em que a palavra ‘meu’ costuma ser uma das preferidas e mais repetidas. Mas dividir, assim como andar, falar e pintar, é um aprendizado que não pode ser antecipado.

    Julio Rodríguez, doutor em medicina molecular, psicólogo e autor do livro Lo Que Dice la Ciencia Sobre Crianza y Educación (O que a Ciência Diz Sobre Criação e Educação), de 2019, diz que devemos considerar que as crianças pequenas ainda estão nas primeiras fases do neurodesenvolvimento.

    “Isso significa que seu cérebro ainda está em evolução e noções como empatia e habilidades sociais não existem ou são extremamente rudimentares”, explica o psicólogo. Ele completa que quando as interações sociais com outras crianças começam a aumentar, elas acabam dividindo naturalmente. 

    A vida na praça é frenética. “Costumamos levar o conflito infantil ao plano dos adultos e o transformamos em um problema maior do que é”, relata Verónica.

    Ela ressalta que se uma criança não quer dividir e sabemos que nao está preparada para isso, mas ainda assim há outras famílias olhando, nos sentimos presisonados a intervir.

    O que fazer, então, quando não dividir?

    Argumentos como ‘um pouquinho cada um’ ou ‘você já tem o seu brinquedo’ não adiantam porque as crianças pequenas não entendem.

    Essas explicações são mais para que os outros adultos que presenciam a cena se sintam bem, diz a psicóloga. Ao prever a ‘tragédia’, o melhor a fazer é distrair as crianças. “Desviar a atenção a outro ponto, introduzir outro brinquedo ou cantar uma música costuma funcionar muito melhor do que explicar a duas crianças de três anos a importância de compartilhar”, completa a especialista.

    Como se acalmar se o nosso filho quer algo e não lhe dão?

    Verónica responde que quando nosso filho divide seus brinquedos na praça mas ninguém lhe empresta nada, geralmente sentimos um mal-estar como adultos, já que vemos um desequilíbrio de poder e pensamos que os outros meninos podem estar se aproveitando dele. No entanto, ela lembra que as crianças nem sequer têm essa vivência. Elas apenas estão brincando com outras coisas e pode ser que emprestem ou não os seus brinquedos.

    Os adultos é que não estão acostumados a dividir.

    “Não deixamos o carro a um desconhecido, nem nosso celular, nem algo que estamos comendo, mas pedimos que as crianças façam isso com alguém que acabam de conhecer. Ainda assim, queremos que compartilhem, mas não muito, e mandamos mensagens contraditórias de maneira contínua. Temos que saber muito bem o que estamos pedindo a uma criança e se não estamos enviando sinais contraditórios que sejam difíceis de integrar”, resume Verónica.

    A hora certa de ensinar a compartilhar

    É entre os quatro e os seis anos que aparece o jogo cooperativo ou colaborativo, em que as crianças gostam de brincar com outras, apreciam as regras e o fato de ter que se coordenar e entrar em acordo. É nesse momento em que habilidades como empatia, compartilhamento e cooperação frente à competição podem ser trabalhadas.

    O papel dos pais

    Para Julio Rodríguez, nosso papel na educação deve ser o de um guia, não o de um ditador. “Devemos nos transformar num especialista ao qual [as crianças] possam recorrer para que explique as razões do comportamento, das normas, das decisões. E estar presente para resolver dúvidas e apoiá-las em tudo que for necessário. Isso dá trabalho, mas ajuda nossos filhos a construírem a sua personalidade através de uma grande autoestima e uma profunda segurança”, afirma na reportagem do El País. Segundo Rodríguez, a criança precisa “entender” que emprestar é benéfico, e tem que “entender” quando fazê-lo e em que medida.

    Como agir diante do conflito

    Os especialistas recomendam que as crianças tentem resolver o problema sozinhas. A intervenção do adulto só deve ocorrer em casos de agressão ou violência. Segundo Verónica, não devemos dar uma resposta e sim facilitar que as crianças possam se expressar, se escutar, ter seu próprio aprendizado e chegar a um acordo .

    Ela ressalta que a visão adulta deve ser deixada de lado, pois os acordos aos quais as crianças podem chegar talvez nos pareçam injustos. “Mas se funcionarem para elas e servirem para continuar a brincadeira, não podemos fazer prevalecer nossa vida adulta, exterior e desconectada de sua vivência infantil”, conclui.

     

    Leia a matéria completa sobre o assunto no El País.

     

     

     

     

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