Por Vanessa Selicani – Metro Jornal – Elas estudam mais, passam mais horas cuidando da casa e da família, e encontram cada vez mais dificuldades em se manter no mercado de trabalho com salários justos. Se a opção é ter filhos, é preciso deixar sua profissão por não contar com ajuda de creche ou outra rede de apoio. Parece com a vida de alguma mulher que você conhece? De acordo com o IBGE, o órgão oficial de estatísticas do país, essa é a realidade da maioria delas. O instituto divulgou ontem (4), às vésperas do Dia Internacional da Mulher, celebrado na próxima segunda (8), o estudo Estatísticas de Gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil.
Entre as diversas desigualdades enfrentadas pelo público feminino, o IBGE destaca o afastamento delas do mercado de trabalho nos primeiros anos de vida dos filhos. O nível de participação de mulheres entre 25 e 49 anos cai de 67,2% para 54,6% quando elas vivem em residências com crianças menores de 3 anos de idade. “Tal comportamento sugere que a existência de oferta adequada de creches possa contribuir para o crescimento da ocupação das mulheres no mercado. O maior compartilhamento entre homens e mulheres dos cuidados e afazeres domésticos também é outro fator importante para a ampliação da autonomia das mulheres”, afirma o responsável pelo estudo, André Simões.
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Quando a análise é sobre homens com crianças pequenas em casa, o fenômeno é o inverso. A participação no mercado para os que têm menores de 3 anos em casa é 89,2% e para os sem crianças, 83,4%.
O estudo mostra ainda que é bastante desigual a divisão de tarefas de casa e cuidados com demais integrantes da família. Em 2019, elas realizaram 21,4 horas semanais dessas atividades ante 11 horas dos homens, quase o dobro mais de tempo.
O IBGE aponta que as mulheres também estudam mais. Para a população com idade acima de 25 anos, a porcentagem dos que têm ensino superior é de 15,1% para eles e 19,4% para elas.
Mas o empenho não garante melhores salários ou posições às mulheres. A pesquisa mostra que o rendimento médio feminino é pouco mais de três quartos (77,7%) do que recebe um homem. Elas são minoria também nos cargos de gerência: apenas 37,4% dos postos são ocupados por mulheres.
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Com a pandemia, situações das mulheres deve se agravar
A pesquisa divulgada pelo IBGE ainda não capta os efeitos da pandemia de covid-19 para as mulheres no mercado de trabalho. Mas os dados sobre o terceiro trimestre da pesquisa de emprego do instituto mostram que 8,5 milhões delas abandonaram o mercado. A taxa de participação na força de trabalho delas despencou para 45,8%, queda de 14% em relação a 2019.
O fechamento de escolas e creches pode explicar a debandada. A atendente Sara Cristina Oliveira Coelho, 27 anos, optou por deixar o trabalho logo no início da pandemia para poder cuidar dos filhos de 10 e 3 anos. “As crianças não tinham com quem ficar. Pretendo voltar, é muito complicado ficar sem trabalho. Mas nós pais precisamos da volta das escolas com segurança. Tudo ficaria melhor se essa vacinação já estivesse disponível para professores e crianças.”
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