Toda mãe tem medo de pagar mico?

"Eu tenho medo de ir a um banheiro no restaurante com a criança e ela ficar ameaçando abrir a porta", conta a escritora Sheila Trindade

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Será que toda mãe, assim como eu, tem medo de pagar mico?; Mulher com as mãos no rosto espiando por entre os dedos
Toda mãe tem medos parecidos, mas eu, além desses, fico imaginando ainda certas situações constrangedoras
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Toda mãe tem medo. Medo do filho do filho doente; da queda repentina; e de na queda o braço quebrar. Medo do filho não receber o convite da festinha que a sala inteira recebeu, da internet e dos monstros que lá se escondem. Toda mãe tem medos parecidos.  Eu, além de todos esses, nutro pensamentos que me apavoram só no pensar. Às vezes, tarde da noite, me pego imaginando certas situações que só existem aqui na minha cabeça e fico me perguntando se outras mães passam por isso.

Veja bem, eu tenho medo de ir a um banheiro no restaurante com a criança e ela ficar ameaçando abrir a porta. Eu imagino a cena: No meio do xixi, a criança fazendo aquelas perguntas constrangedoras, em um tom bem alto, para todos ouvirem:

– Não, filho, eu não estou fazendo cocô.

O dedinho na fechadura começa a futricar, você entra em pânico, pede baixinho para o filho não abrir. Aquela cara de sapeca sorri se divertindo com meu desespero. Ele abre um pouquinho, a gente se levanta, ainda com uma gota escorrendo pela perna, sobe a calcinha às pressas, sai ainda abotoando a calça e fica aliviada quando não há ninguém à espera. Azar mesmo é se a porta der para o restaurante todo, não para dentro do restante do banheiro, o pânico é triplicado. Na última vez que fui ao banheiro assim, a barra do meu vestido caiu na água do vaso, saí correndo para tentar lavar na pia, esqueci da criança que saiu correndo pela porta à procura do pai. Lavei o que podia, mas fiquei  o resto do passeio com nojo daquilo encostando em mim.

Outro medo que sempre tive foi do meu vestido ser levantado em alguma festa e todo mundo ver minha calcinha. Sempre usei calças, principalmente naquela fase em que a criança se joga no chão por tudo – a ideia era evitar acidentes. À medida que as crianças cresciam, fui me enchendo de confiança e em um fatídico Natal em família, meu filho, já crescido, decidiu levantar meu vestido na frente de todos os tios, primos, namorados dos primos e família dos namorados dos primos.

Sempre tem uma tia que ri escandalosamente, daquelas que apontam e dão um grito. Certamente usará a história para contar em todos os outros Natais. E em momentos assim, sempre estamos usando uma calcinha larga e velha, com um furo, talvez. Nunca é aquela calcinha sexy, a depilação nunca está em dia, a tragédia tem que ser completa. Procuro não pensar muito sobre este momento, só no próximo Natal, quando a história será contada novamente.

Estamos em agosto, seria muita maldade sonhar com um escândalo na família para esquecerem minha história de vez?

Mas, como mãe, o medo que mais me apavora, é de criança ao pé da cama me olhando dormir durante à noite. Minha filha aos três anos tinha essa mania. Eu acordava às 3h da madrugada e ela estava na porta, eu piscava, ainda atordoada de sono, e ela aparecia ao pé da cama. Quando eu me virava para chamar meu marido, num instante reaparecia em pé ao meu lado, me olhando pálida com os olhos arregalados. Todos os filmes de terror me vêem à mente. Teve uma vez que ela, em uma madrugada fria, pegou no meu tornozelo com a mão gelada. Dei um grito e um pulo na cama. Este dia se superou, nunca senti tanto medo na vida! Se desse para escolher, preferiria ficar com o medo do dia da calcinha. Pensando bem, prefiro não.


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