As esperanças do tratamento da doença de Batten

A doença de Batten é uma patologia rara, que atinge cerca de 1 em cada 200 mil nascidos. Seus sintomas se manifestam a partir dos 18 meses de vida, partindo de atrasos na linguagem até perda dos movimentos. Apesar de não existir cura, especialistas comentam sobre medidas paliativas
Menina em cadeira de rodas, com as pernas imobilizadas
Especialistas explicam sintomas e tratamentos da Doença de Batten, enfermidade que causa atraso na fala e degeneração dos movimentos nas crianças

A Lipofuscinose Ceróide Neural (CLN), mais conhecida como doença de Batten, é uma doença rara, que afeta cerca de 1 em cada 200 mil nascidos. Por se tratar de uma doença neurodegenerativa pouco conhecida, com sintomas e características que a princípio não despertam maiores preocupações, muitas vezes seu diagnóstico é realizado de forma tardia. Esse atraso afeta gravemente as possibilidades de tratamento e qualidade de vida da criança. 

A doença de Batten é causada por alterações em diversos tipos de genes, que se tornam incapazes de produzir as proteínas necessárias para o metabolismo das células neurais. Como resultado, os neurônios sofrem danos progressivos, desencadeando uma série de problemas ao sistema nervoso. Até os 3 anos de idade, o atraso na linguagem é a principal manifestação da doença. 

“Várias mutações genéticas foram associadas à doença. Todas essas mutações afetam a capacidade das células de se livrarem de resíduos, levando a um acúmulo de substâncias que são tóxicas para os tecidos do corpo, especialmente para as células nervosas do cérebro e das células do olho, bem como na pele e outros tecidos”, explica Paulo Telles, pediatra da Sociedade Brasileira de Pediatria. 

Para auxiliar pais e famílias em que algum dos membros foi diagnosticado com uma doença rara, o Instituto Vidas Raras publicou um livro, explicando em detalhes cada uma das enfermidades.

Atraso neurológico

Dos 3 aos 5 anos, o atraso neurológico se mostra mais evidente, em conjunto com as contrações musculares involuntárias, que podem provocar movimentos repetitivos. Até os 12 anos, a criança pode perder a fala e o andar, com necessidade de recursos para locomoção e alimentação. 

“Os sintomas podem começar insidiosamente como mudanças sutis de comportamento e personalidade, atraso no desenvolvimento ou aprendizado. Perda progressiva da visão, convulsões e perda de habilidades motoras podem aparecer. Esses pacientes geralmente desenvolvem dificuldades de movimento semelhantes às de Parkinson e demência”, relata o pediatra Paulo telles. 

Trata-se de uma doença hereditária que, segundo Telles, requer uma séria investigação do histórico médico e familiar do paciente, além de diversos testes laboratoriais. “Estes podem incluir exames de sangue e urina, amostragem de pele, exames cerebrais e/ou um eletroencefalograma (uma medição da atividade elétrica do cérebro). Testes para determinar sinais elétricos anormais nas partes do cérebro que controlam a visão também podem ser realizados para auxiliar no diagnóstico.”

Por estar ligada a fatores genéticos, a doença de Batten deve ser encarada com preocupação pelos pais. É uma condição genética herdada de maneira autossômica recessiva, na qual uma pessoa herda duas cópias genéticas alteradas, uma da mãe e outra do pai. “É fundamental realizar um aconselhamento genético dos pais, estendido a seus parentes, alertando sobre as possibilidades de novas ocorrências”, destaca Saul Cypel, presidente do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

Novas condutas terapêuticas

A doença, apesar de não haver cura, conta com uma série de tratamentos paliativos. “Felizmente, novas condutas terapêuticas têm surgido, como: reposição enzimática deficitária, terapias gênicas, utilização de células tronco e até mesmo alguns medicamentos. Este é um excelente aceno para as crianças com a doença de Batten, cuja perspectiva de prognóstico sempre foi muito ruim. Deste modo, existem boas esperanças com relação a progressão da doença, seu estacionamento e talvez cura. Entretanto, estas propostas mais recentes necessitam de uma observação mais prolongada dos resultados para melhor juízo da sua eficácia”, enfatiza Saul Cypel. 

Fisioterapia, psicoterapia, musicoterapia e terapia ocupacional são medidas capazes de melhorar a qualidade de vida dos portadores da patologia. Nos Estados Unidos, o FDA (Administração de Alimentos e Medicamentos), liberou o uso da Cerliponase Alfa, mais conhecida como Brineura. A medicação funciona como terapia de reposição enzimática, projetada para retardar a perda da capacidade de caminhar. 

A patologia também traz sérias consequências para pais e familiares. Segundo Paulo Telles, toda família deve procurar acompanhamento especializado. “É muito importante trazer informação, acolher. Também é preciso conversar com o médico da família, buscar geneticista e neurologista, além de uma rede de apoio e acompanhamento para o paciente e para toda família.”

Maria Clara Villela

Maria Clara Villela é estudante de jornalismo na faculdade Cásper Líbero. Fascinada por escrita, já desenvolveu textos em diversas editorias, incluindo esporte, parentalidade e política, suas maiores paixões.

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