Especialistas esclarecem as principais dúvidas sobre vacinação de crianças contra covid-19

O pediatra e sanitarista Daniel Becker e a biomédica Mellanie Fontes-Dutra, coordenadora da Rede Análise Covid-19, falam sobre a segurança do imunizante Pfizer, riscos adversos, miocardite e a importância da vacinação infantil para controle da pandemia no país

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Especialistas esclarecem dúvidas sobre vacinação de crianças; criança de máscara tomando vacina
A vacinação de crianças é crucial para o combate da pandemia, dizem médicos
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A recente aprovação da vacina contra o coronavírus para crianças de 5 a 11 anos foi uma notícia muito esperada pela maioria dos pais. A Anvisa autorizou no dia 16 de dezembro o uso da vacina Pfizer para o público infantil e ontem, quarta-feira, 4 de janeiro, o Ministério da Saúde anunciou que as crianças dessa faixa etária serão inclusas no Plano Nacional de Operacionalização. As doses para o público infantil começam a chegar ao país no dia 13 de janeiro. Porém, alguns pais ainda têm dúvidas em relação à segurança e eficácia da vacinação para as crianças, como explica o pediatra, sanitarista e membro do Conselho de Especialistas para o Enfrentamento da Covid-19 da Prefeitura do Rio de Janeiro, Daniel Becker.

“Existe uma campanha de grupos antivacina associados ao governo brasileiro. Isso é um pecado, porque está se rompendo com uma tradição brasileira maravilhosa: a vacinação”, diz o médico, que também é autor do site Pediatria Integral. Segundo ele, o medo e a insegurança estão colocando a população contra a ciência. “O povo brasileiro sempre confiou muito nas vacinas, tanto que temos um índice de vacinação tradicionalmente superior à maior parte do mundo, mas essa confiança está sendo minada”, completa.

A pandemia enfrenta uma alta de casos de covid em todo o mundo. No dia 3 de janeiro, houve mais de 2 milhões de casos novos da doença em todo o planeta, segundo dados do Our World in Data. Evidências científicas sugerem que a variante ômicron do coronavírus oferece menos risco de causar complicações, contudo dados dos Estados Unidos mostraram aumento na média de hospitalizações diárias de crianças, sendo a maioria não vacinada.

No Brasil, já ocorreram 300 mortes de criança de 5 a 11 anos durante a pandemia, o que equivale a cerca de 1 morte a cada 1 dias por causa da covid-19, segundo a Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19, que presta consultoria ao Ministério da Saúde. Além de evitar óbitos, a vacina também previne contra internações, covid longa e transmissões para pessoas mais vulneráveis.

Segundo especialistas da saúde, é importante que os pais sempre busquem respostas na ciência, consultando informações confiáveis e verdadeiras. “A ciência sempre será nossa melhor lente para ver a sociedade e nossa melhor conselheira para tomar as menores a maiores decisões”, diz Mellanie Fontes-Dutra, biomédica, divulgadora científica e coordenadora da Rede Análise Covid-19, um grupo multidisciplinar de divulgação de dados sobre a doença.

Para tirar os receios dos pais que estão com dúvidas sobre a vacinação das crianças contra a covid, os médicos Daniel Becker e Mellanie Fontes-Dutra responderam as principais perguntas em relação ao uso do imunizante nos pequenos. Confira!


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A vacina da Pfizer é segura para as crianças?

“Toda a ciência afirma que a vacina da Pfizer é segura e eficaz”, destaca Becker. Para serem aprovados para uso, todos os imunizantes passam por processos e testes muito rigorosos, com as crianças o cuidado é redobrado. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a aplicação da vacina para a faixa etária de 5 a 11 anos em dezembro. Além disso, mais de 30 nações já começaram a vacinação de crianças.

“O imunizante da Pfizer é seguro. Temos uma vacina que, além de ser um terço da dose recebida por adultos, possui baixa reatogenicidade, trazendo ainda mais segurança”, adiciona Mellanie Fontes-Dutra.

Quais efeitos colaterais a vacina pode causar nas crianças?

Assim como qualquer imunizante, a vacina contra a covid pode causar alguns efeitos colaterais nos pequenos, porém, segundo os médicos, não duram muito tempo. “Os efeitos mais frequentes podem ser: dor no local da injeção, febre e dor no corpo. Mas se resolvem em poucos dias, geralmente em três”, aponta Mellanie Fontes-Dutra.

Existem riscos em relação às vacinas da Pfizer para crianças?

“Na ciência, falamos de probabilidades. As chances de efeitos mais sérios em crianças são muito baixas, mostrando o alto custo-benefício que a vacinação tem por si só”, ressalta a biomédica. Para ela, os perigos da contração da doença podem ser muito piores para os pequenos. “Quando comparamos, os riscos que a covid-19 pode trazer para essas crianças são muito mais elevados do que qualquer possível risco que a vacina poderia trazer”, reforça.

Mellanie Fontes-Dutra, biomédica e divulgadora científica/ Arquivo pessoal

Crianças podem desenvolver casos graves da covid-19?

Apesar de não ser muito comum, as crianças podem apresentar quadros graves de covid-19, segundo especialistas da saúde. Além disso, existe a Síndrome Inflamatória Multissistêmica (MIS), que está relacionada à infecção prévia da covid. Esta doença é muito rara, mas grave, que afeta diferentes órgãos do corpo e pode requerer cuidados intensivos e até internalização. “Existe também a covid longa, crianças que ficam com sequelas, com sintomas durante muito tempo”, completa Daniel Becker. Por isso, os pequenos devem tomar cuidado em relação ao coronavírus.

“A covid-19 é uma doença grave que precisa ser tratada de forma séria e não com palpites de vídeos falsos e médicos que querem vender seus kits de tratamento precoce, desmerecendo a vacina por causa disso”, destaca o pediatra.


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A covid-19 pode causar a morte de crianças?

Embora o óbito causado pelo coronavírus seja menos comum em crianças do que em adultos e pessoas do grupo de risco, ele pode ocorrer. “Mais de 2500 crianças morreram de covid nos últimos dois anos e mais de 300 morreram só na faixa etária de 5 a 11 anos”, ressalta Becker. A biomédica acrescenta que o Brasil é o segundo país com mais mortes por covid em crianças. 

De acordo com Daniel Becker, a população costuma vacinar os pequenos contra a influenza, que é um vírus que causa uma doença banal para a maioria das crianças, a gripe. “Nós vacinamos contra a influenza. Como que não vamos vacinar contra uma doença que mata mais do que qualquer outra doença prevenível por vacinação?”, acrescenta, referindo-se a doenças que são evitadas quando seguido o calendário de vacinação infantil, entre as quais hepatite, poliomielite e tuberculose, entre outras.

A miocardite deve ser uma preocupação?

Nos Estados Unidos, que já iniciou a vacinação de crianças com o imunizante da Pfizer, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) declarou em dezembro (cerca de seis semanas após o início da campanha de vacinação do público infantil) ter recebido muito poucos relatos de problemas sérios. Foram apenas 11 queixas relativas à miocardite de um total de 8 milhões de doses aplicadas, vindas de médicos, fabricantes de vacinas ou outros membros do público. Desses 11 casos, sete crianças haviam se recuperado e quatro estavam se recuperando quando o CDC apurava informações sobre o assunto. Um estudo divulgado pelo CDC no dia 30 de dezembro concluiu que problemas graves são extremamente raros entre crianças de 5 a 11 anos imunizadas com a vacina Pfizer-BioNTech. Outro, que acompanhou centenas de internações pediátricas em seis cidades americanas no ano passado, apontou que quase todas as crianças que ficaram gravemente doentes não haviam sido totalmente vacinadas.

“A miocardite é uma inflamação do coração e ela é muito mais comum quando contraída pela covid do que pela vacina. A miocardite em casos de síndrome inflamatória também pode ser muito mais grave do que quando causada pelo imunizante. É bem mais rara e, caso aconteça, é muito mais leve”, explica Daniel Becker. Ainda segundo o pediatra, a proporção da miocardite na faixa etária de 5 a 11 anos é mínima, menor do que entre adolescentes.

Embora rara, a possibilidade de miocardite pode deixar alguns pais apreensivos, mas, de acordo com os médicos, essa doença não deve ser uma grande preocupação. “Os riscos que a vacina pode trazer são baixos comparados ao risco que a covid-19 pode trazer para a miocardite”, aponta Mellanie Fontes-Dutra. 

Por que é importante vacinar as crianças contra a covid-19?

Segundo Mellanie Fontes-Dutra, além dos benefícios individuais trazidos para a criança, como evitar o risco de infecção e desenvolvimento de casos graves, a vacinação também trará benefícios sociais. A imunização contribuirá para a redução da transmissão do vírus e para o alcance de uma alta cobertura vacinal.

“As crianças vão ficar mais seguras, elas são o último grupo não protegido. A variante ômicron já está se espalhando pelo Brasil, vai ter muita criança adoecendo, vai ter um número maior de crianças internadas e até morrendo se elas não forem vacinadas”, completa Becker. Em países como Estados Unidos e Inglaterra, este aumento de casos de covid-19 entre crianças já está ocorrendo, principalmente devido ao afrouxamento das medidas de prevenção. Segundo Becker, isso também pode começar a acontecer no Brasil. “Nós não podemos nem sequer esperar mais, precisamos vacinar as crianças rapidamente”, destaca o pediatra.

Daniel Becker, pediatra e sanitarista/ Divulgação

O que dizer a pais que estão receosos e com medo de vacinar os filhos?

Para Mellanie Fontes-Dutra, é importante que os pais busquem informações científicas. “Há muita desinformação sendo repassada e isso não traz benefício algum em nossas escolhas e ações. É compreensível estar apreensivo com a situação, mas não podemos nos estagnar e deixar de tomar uma decisão relevante para a saúde das crianças por causa dessa insegurança”, reforça a médica. Segundo ela, é preciso procurar divulgadores científicos e especialistas que reconhecidamente se baseiam na ciência. “Temos várias formas de entrar em contato nas próprias redes sociais”, aponta.

Daniel Becker concorda com a visão da biomédica. “A vacinação é fundamental, vai proteger as crianças e os adultos, porque nós vamos impedir a cadeia de transmissão. Também vai permitir uma escolaridade mais plena e tranquila. Quem é que não quer que as crianças estejam mais seguras?”, finaliza o pediatra.


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