Ensinar as crianças a lidar com dinheiro não é uma prática comum. Muitos pais ainda veem o tema como um tabu, e um dos motivos é que eles não tiveram acesso a esse aprendizado na infância. “Falar sobre educação financeira e sobre nossa relação com o dinheiro não é uma cultura, ainda temos muita dificuldade em abordar esse assunto”, explica a administradora e empresária Nathalia Rodrigues, 25 anos.
Mais conhecida como Nath Finanças, nome de seu perfil no Instagram, que tem mais de meio milhão de seguidores, ela está nas redes sociais desde 2019 e ganhou popularidade ao dar dicas sobre dinheiro e finanças pessoais, principalmente, para pessoas com baixa renda.
Nascida na periferia de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, ela foi a única brasileira a integrar o ranking das 50 maiores lideranças do mundo da revista norte-americana Fortune, em 2021. A linguagem simples e acessível que usa nas postagens tornou o tema mais atrativo para quem pouco entende de finanças. E é com esse mesmo tom informal que ela conversa com a Turma do Menino Maluquinho no livro O Plano Perfeito, da editora Melhoramentos, lançado em fevereiro.
“Foi demais! Estou vivendo um sonho, minha mãe lia as histórias do Ziraldo desde que sou muito pequena, então, virar personagem de suas histórias é muito especial para mim”, revelou a orientadora financeira.
Neste primeiro livro da série Conta tudo, Nath e o Menino Maluquinho mostram como as crianças podem ajudar a família e os amigos a se organizar financeiramente para ganhar independência e realizar sonhos. A partir da criação de um clube, que exige planejamento para conquistar objetivos e metas, o livro aborda conceitos da educação financeira de forma acessível e que busca a interação com os pequenos leitores.
“É uma história com situações do dia a dia das crianças. Ali, os pais e cuidadores podem fazer leituras junto com as crianças, trazendo os exemplos da rotina da própria casa, como o livro propõe nas atividades”, disse a especialista.
Em entrevista para a Canguru News, Nath dá dicas de como falar sobre finanças com os filhos, comenta sobre sua participação no livro de Ziraldo, orienta os pais quanto a como organizar as próprias finanças e fala de seu trabalho de orientação financeira para adultos. Confira a seguir.
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1. Antigamente, não se falava de dinheiro com as crianças. Você acha que essa prática mudou?
Nath: Ainda não. Falar sobre educação financeira e sobre nossa relação com o dinheiro não é uma cultura, ainda temos muita dificuldade em abordar esse assunto. Nós mesmos, enquanto adultos, nem sempre nos sentimos confortáveis em falar sobre isso. Mas eu acredito que essa conversa deve começar em casa, porque quando a família explica para a criança que ela é importante nas decisões que vão além da economia doméstica, é uma forma de deixar o papo mais natural. O livro O Plano Perfeito é uma forma muito prática e eficiente para começar a fazer isso. Os pais vão descobrir que dá pra falar de educação financeira de forma leve, simples e muito divertida!
2. Todas as crianças devem aprender educação financeira?
Nath: Sim. Todas as crianças merecem ter acesso ao conhecimento financeiro. Vivemos em uma sociedade que é pautada pelas relações comerciais e pelo consumo. Mas a gente não pode esquecer que a situação econômica tem um impacto muito grande na forma como esse assunto pode ser abordado. Há problemas sociais e de distribuição de renda, não é simples eu falar que a relação das pessoas com o dinheiro precisa melhorar quando não há dinheiro para cobrir o básico das contas da casa, por exemplo. Então, não posso dizer que falar sobre o tema é a solução para questões que dependem também de decisões políticas.
3. Como os pais podem ensinar as crianças a lidar com o dinheiro?
Nath: O livro O Plano Perfeito é um material muito legal para começar, porque é uma história com situações do dia a dia das crianças. Ali, os pais e cuidadores podem fazer leituras junto com as crianças, trazendo os exemplos da rotina da própria casa, como o livro propõe nas atividades. O lúdico aqui é muito importante para que as crianças entendam o que está sendo passado. Além disso, a conexão com adultos que já tiveram uma história com o Ziraldo, com certeza vai fazer a experiência ser muito mais impactante
4. E o que dizer aos pais que não aprenderam educação financeira?
Nath: Esse processo é difícil, de mudar a nossa cultura e ter a responsabilidade de passar isso de forma diferente para outras pessoas, né? As pessoas continuam endividadas e a chance dos problemas financeiros virarem uma bola de neve assombra quem vive com o dinheiro contado! As famílias precisam pensar na educação financeira para além da economia doméstica. Comigo também não foi simples, porque eu não venho de uma casa com mentalidade de educação financeira. Eu cresci vendo meus pais falando sobre as contas da casa, mas não ia além disso, e eu precisei aprender a falar sobre o assunto.
A primeira coisa é a pessoa entender que ela precisa decidir por cuidar de suas finanças e controlar seu orçamento, e começar a poupar, fazer sua reserva de emergência e, quem sabe, até começar a investir! Começando com passos simples, como anotar as despesas fixas (água, luz, gás, aluguel) e as variáveis (telefone, combustível, supermercado), além das dívidas e parcelamentos, é um ótimo ponto de partida. É entender como está a sua situação real. Anote tudo, não existe mágica ou método único. A disciplina vai ajudar bastante.
5. O que você achou de fazer parte da Turma do Menino Maluquinho?
Nath: Foi demais! Esse é o nosso primeiro livro, e vem mais novidades por aí. Estou vivendo um sonho. Minha mãe lia as histórias do Ziraldo desde que sou muito pequena, então, virar personagem da Turma do Menino Maluquinho é muito especial para mim
6. O que significa para você ganhar destaque nas redes sociais, num universo tão restrito como é o das finanças?
Nath: Eu me apaixonei pelo assunto ainda na faculdade de administração, quando um professor me apresentou ao tema da educação financeira e me incentivou a estudar mais sobre isso. Passei a fazer conteúdos em casa, com um celular e um sonho – e a minha forma de falar, com clareza, de forma simples, foi o que cativou a minha comunidade. As pessoas encontraram alguém que falava a língua delas, então, o momento foi ideal para que isso acontecesse, e eu estava ali para ajudá-las, como faço até hoje. Nisso, já se vão quatro anos que mudaram a minha vida.