“As crianças desafiadoras são aquelas que nos convidam mais à presença, a buscar informações, porque só do jeito que a gente aprendeu, a gente não consegue lidar com elas”, explica a psicopedagoga Isa Minatel, palestrante TEDx e autora dos livros “Crianças Sem Limites” e “Temperamentos Sem Limites”.
Durante palestra no 3o Congresso Internacional de Educação Parental, Isa falou sobre os desafios em educar as “crianças da raiva” e as “da tristeza”, divisão que se baseia na teoria dos quatro temperamentos – colérico, sanguíneo, fleumático e melancólico. “As crianças predominantemente coléricas e sanguíneas vão para a raiva quando as coisas não saem do jeito que elas gostariam, então a gente fala que são as “crianças da raiva”, e, muitas vezes, elas são consideradas desafiadoras”, relatou Isa.
Segundo a psicopedagoga, as crianças com esse perfil partem para a ação, têm muita energia e força, e agem assim em situações de frustração, falta de autonomia e de independência, por exemplo, quando o adulto não as deixa ter um mínimo de controle sobre sua vida.
“Tem criança “terrível” que não é terrível, só que está sofrendo tanta frustração desnecessária que ela fica assim, porque os pais não sabem outra forma de educar e criam um ambiente que não está adequado ao seu crescimento e desenvolvimento”, afirmou a especialista. São essas crianças que durante momentos de crise dizem frases como “eu não gosto mais de você”, “vou achar outra casa para morar sozinho, sem mamãe nem papai”.
Isolá-las e mandá-las para o quarto não vai funcionar, melhor é apoiá-las e ver o que precisam, avalia Isa, que disse também ser importante orientar os filhos a usar a raiva de forma produtiva, para que consigam o que querem. Se as notas em matemática não estão boas, em vez de socar a almofada ou a parede e se chatear, a criança deve focar em melhorar as notas, exemplificou.
Crianças da tristeza
As “crianças da tristeza” são aquelas de temperamento melancólico ou fleumático, que guardam para si suas mágoas e desapontamentos e não costumam expressar o que sentem. Logo, é importante que os pais atentem se algo não vai bem e evitem usar a chantagem emocional – dizendo que ficaram tristes com tal comportamento do filho – se isso realmente não for verdade, pois o fará se sentir ainda pior. Mais indicado é conversar com a criança, explicar o porquê da inadequação de seu comportamento, recomenda Isa.
“A criança da tristeza já vem de fábrica. A tristeza faz você pensar, refletir, e não agir, pensar no outro, por que ele fez aquilo, por que agiu daquela forma. A criança empatiza na hora que as coisas não vão bem. Ela fica mal por ter decepcionado o outro, acha que a culpa é dela, que fez tudo errado, e cresce pensando assim”, comentou a psicopedagoga. Para filhos com esse perfil, portanto, é preciso cuidar para não reforçar tais características, prejudicando-os ainda mais.
Assim como a raiva promove a ação, a tristeza também tem as suas vantagens. “Ela é maravilhosa, sem tristeza, não tem empatia, não tem refazimento para seguir a vida depois de uma dor, de uma perda, de um luto. Sem tristeza é difícil se conectar com o sagrado, porque da tristeza vem o recolhimento, para se escutar, se sentir, se ouvir”, analisa a especialista.
E ainda que as crianças sejam diferentes de acordo com seus temperamentos, haverá momentos em que as “da tristeza” terão momentos de raiva e explosão, e vice-versa. “Bater é certo ou errado? Depende. Faz uma semana que ela está apanhando e hoje ela bateu. Ela está certa. Demorou!”, afirmou Isa. Ela destacou, porém, que não se deve limitar a educação dos filhos apenas ao certo e ao errado, sendo preciso deixar espaço para as individualidades de cada criança – ainda que especialistas tendam a defender a resolução de conflitos de forma pacífica.
Cantinho do pensar
Isa também falou sobre o cantinho do pensamento, prática que sugere deixar o filho pensando sobre o que fez em algum canto da casa, quando se comporta de modo inadequado. “O ser humano vai ali e pensa, mas não pensa o que a gente queria que ele pensasse, isso não funciona com ninguém, só reforça a raiva para a “criança da raiva”, assim como reforça a tristeza, para a criança triste.”
Abrir a cabeça e entender com quem estamos lidando é fundamental. A psicopedagoga lembra que toda criança traz desafios e é preciso estudar para saber lidar com eles.
“A gente está olhando a criança desafiadora como algo a ser resolvido, consertado, e na verdade, o que precisa ser consertado é o tamanho da nossa ignorância. Quanto mais conhecimento eu busco, menos desafiadora é a criança. Se a gente souber o que fazer, a criança pode ter o temperamento que ela tiver”, disse Isa Minatel.
Ela declarou ainda que lidar com os comportamentos difíceis dos filhos é um desafio lindo, que nos coloca olhando para nós mesmos, para dentro da nossa história. “E nos permite sair do outro lado melhor do que entramos se aceitarmos o convite da vida de passar pelo portal do maternar com consciência. É lindo de viver”.
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