
Desobedecer a uma regra ou solicitação de um adulto é comum na infância e adolescência. Porém, se as crianças insistem em continuar com o comportamento, apesar de conversas ou advertências mais sérias, pode ser sinal de um Transtorno Opositivo Desafiador (TOD).
A psicopedagoga Luciana Brites, mestre e doutoranda em distúrbios do desenvolvimento e CEO do Instituto NeuroSaber, explica que as características principais desse transtorno incluem um comportamento desafiador e oposicionista, com uma postura de teimosia frequente, hostilidade e desafios constantes, que acabam gerando dificuldades no convívio social e escolar da criança.
O TOD é descrito no DSM-5 como parte dos Transtornos Disruptivos, do Controle de Impulsos e da Conduta, cujas características são comportamentos desafiadores, negativistas e desobedientes, principalmente diante de figuras de autoridade. “A diferença entre a desobediência e o TOD está na intensidade: enquanto a primeira ocorre em determinados momentos, o segundo é recorrente e impacta diretamente a vida social e familiar da criança. Por exemplo, birras intensas várias vezes por semana, desafio direto a regras ou até pequenas vinganças”, afirma Luciana.
Segundo a psicopedagoga, o diagnóstico do TOD é feito quando os sintomas persistem por mais de seis meses e ocorrem em diversos ambientes, exigindo uma avaliação por um especialista, como psicólogo, psiquiatra ou neurologista infantil.
É importante ainda avaliar sinais de depressão, ansiedade e perturbações do sono, pois essas condições podem causar sintomas semelhantes aos do TOD, como irritabilidade e desobediência. O TOD também costuma aparecer como uma comorbidade do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), tendo ambos sintomas parecidos. Luciana ressalta que metade das crianças com TOD também tem TDAH. “Geralmente, crianças com TOD correm maior risco de desenvolver depressão e abuso de substâncias, especialmente quando o transtorno é acompanhado por outras condições, como TDAH, depressão e dificuldades de aprendizagem”, aponta a especialista.
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Os principais sintomas costumam surgir por volta dos 4 anos e podem persistir até a adolescência. “Pais e responsáveis devem ficar atentos à irritabilidade, acessos de raiva constantes, discussões com adultos ou figuras de autoridade, desafio às regras e sensibilidade exagerada a críticas, entre outros aspectos.
De acordo com a psicopedagoga, as causas não são totalmente compreendidas, mas, segundo evidências, fatores genéticos, ambientais e psicológicos contribuem para o seu desenvolvimento. Ela relata que fatores como um histórico familiar de transtornos mentais, experiências adversas na infância e estilos parentais inconsistentes podem aumentar o risco de uma criança desenvolver o TOD.
O tratamento pode incluir terapia familiar e intervenções cognitivas que possibilitem estabelecer estratégias comportamentais eficazes.
“A desobediência é algo natural na infância e pode ser corrigida com uma abordagem educativa. Porém, quando os sinais se tornam persistentes e impactam a rotina da criança e da família, é essencial buscar um diagnóstico preciso para descartar o TOD. Se houver dúvidas sobre o comportamento da criança, procure ajuda de um profissional para um tratamento adequado e o desenvolvimento de habilidades sociais eficazes”, finaliza Luciana.