Como as relações familiares afetam a saúde mental da criança

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    Laços afetivos protegem as crianças do estresse crônico. || Foto: Pixabay

     

    Por José Martins Filho*

    Se uma criança não é bem acolhida, se ninguém a pega no colo quando chora ou se ela é simplesmente ignorada, as consequências emocionais e biológicas são imprevisíveis e podem aparecer a qualquer momento da infância ou da vida adulta.

    Estamos falando do chamado estresse tóxico precoce infantil, que hoje começa a ser muito estudado por neurocientistas e principalmente por pesquisadores em grandes universidades, interessados em conhecer como o estresse e o abandono podem influenciar no desenvolvimento cerebral, muitas vezes causando lesões no sistema nervoso.

    O estresse é uma reação de defesa do organismo contra ameaças e agressões. Por isso, quando estamos diante de um perigo, nosso corpo se prepara para reagir, aumentando a frequência cardíaca, dilatando as pupilas, preparando os músculos para ataque ou fuga. Esse preparo é feito principalmente por dois hormônios, a adrenalina e o cortisol. Ambos atuam em nível cerebral. Se o estresse se torna crônico, acaba por lesar as sinapses neuronais, ligações entre os neurônios fundamentais para o desenvolvimento psíquico e para o bom controle emocional.

    Independentemente dessas explicações biológicas e bioquímicas, o que podemos entender disso tudo? Que amor, afeto, vínculo, carinho e presença calorosa dos pais são fundamentais no desenvolvimento da personalidade e do bem- estar na infância e na vida adulta. Mas até que idade uma criança precisa da presença real dos pais ao seu lado? Muitos pais e mães, infelizmente, saem para trabalhar às 7 horas da manhã e voltam às 18h ou 19h. Precocemente, crianças são enviadas para as creches, às vezes antes dos 4 meses de idade.

    O que é incrível, e não divulgado, é que uma criança só vai ter a imunidade bem desenvolvida por volta dos 2 anos. Assim, ao ser colocada numa creche precocemente sem a imunidade biológica e psicológica bem desenvolvida, todos os fenômenos infecciosos e emocionais aumentam. Eu atuo para tentar conseguir uma melhora no tempo de licença da mãe, se possível para um ano, e pelo menos um mês para o pai. Já é tempo de começarmos a pensar na importância da presença dos pais no desenvolvimento de nossas crianças. E todos sabemos que cuidar da infância e prevenir danos futuros é um trabalho que só trará benefícios para a família, para a sociedade e para a humanidade como um todo.

    *Martins Filho é médico pediatra e professor titular emérito de pediatria pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Foi chefe do Departamento de Pediatria, diretor da Faculdade de Medicina e reitor da Unicamp. É presidente da Academia Brasileira de Pediatria, conferencista nacional e internacional e autor de vários livros, entre os quais A Questão da Amamentação no Brasil (Editora Brasiliense) e Lidando com Crianças, Conversando com os Pais (Editora Papirus).

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