Os medos de cada um<\/a><\/p>\n\n\n\n
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Toda m\u00e3e tem medo. Medo do filho do filho doente; da queda repentina; e de na queda o bra\u00e7o quebrar. Medo do filho n\u00e3o receber o convite da festinha que a sala inteira recebeu, da internet e dos monstros que l\u00e1 se escondem. Toda m\u00e3e tem medos parecidos. Eu, al\u00e9m de todos esses, nutro pensamentos que me apavoram s\u00f3 no pensar. \u00c0s vezes, tarde da noite, me pego imaginando certas situa\u00e7\u00f5es que s\u00f3 existem aqui na minha cabe\u00e7a e fico me perguntando se outras m\u00e3es passam por isso.<\/p>\n\n\n\n
Veja bem, eu tenho medo de ir a um banheiro no restaurante com a crian\u00e7a e ela ficar amea\u00e7ando abrir a porta. Eu imagino a cena: No meio do xixi, a crian\u00e7a fazendo aquelas perguntas constrangedoras, em um tom bem alto, para todos ouvirem:<\/p>\n\n\n\n
\u2013 N\u00e3o, filho, eu n\u00e3o estou fazendo coc\u00f4.<\/p>\n\n\n\n
O dedinho na fechadura come\u00e7a a futricar, voc\u00ea entra em p\u00e2nico, pede baixinho para o filho n\u00e3o abrir. Aquela cara de sapeca sorri se divertindo com meu desespero. Ele abre um pouquinho, a gente se levanta, ainda com uma gota escorrendo pela perna, sobe a calcinha \u00e0s pressas, sai ainda abotoando a cal\u00e7a e fica aliviada quando n\u00e3o h\u00e1 ningu\u00e9m \u00e0 espera. Azar mesmo \u00e9 se a porta der para o restaurante todo, n\u00e3o para dentro do restante do banheiro, o p\u00e2nico \u00e9 triplicado. Na \u00faltima vez que fui ao banheiro assim, a barra do meu vestido caiu na \u00e1gua do vaso, sa\u00ed correndo para tentar lavar na pia, esqueci da crian\u00e7a que saiu correndo pela porta \u00e0 procura do pai. Lavei o que podia, mas fiquei o resto do passeio com nojo daquilo encostando em mim.<\/p>\n\n\n\n
Outro medo que sempre tive foi do meu vestido ser levantado em alguma festa e todo mundo ver minha calcinha. Sempre usei cal\u00e7as, principalmente naquela fase em que a crian\u00e7a se joga no ch\u00e3o por tudo \u2013 a ideia era evitar acidentes. \u00c0 medida que as crian\u00e7as cresciam, fui me enchendo de confian\u00e7a e em um fat\u00eddico Natal em fam\u00edlia, meu filho, j\u00e1 crescido, decidiu levantar meu vestido na frente de todos os tios, primos, namorados dos primos e fam\u00edlia dos namorados dos primos. <\/p>\n\n\n\n
Sempre tem uma tia que ri escandalosamente, daquelas que apontam e d\u00e3o um grito. Certamente usar\u00e1 a hist\u00f3ria para contar em todos os outros Natais. E em momentos assim, sempre estamos usando uma calcinha larga e velha, com um furo, talvez. Nunca \u00e9 aquela calcinha sexy, a depila\u00e7\u00e3o nunca est\u00e1 em dia, a trag\u00e9dia tem que ser completa. Procuro n\u00e3o pensar muito sobre este momento, s\u00f3 no pr\u00f3ximo Natal, quando a hist\u00f3ria ser\u00e1 contada novamente. <\/p>\n\n\n\n
Estamos em agosto, seria muita maldade sonhar com um esc\u00e2ndalo na fam\u00edlia para esquecerem minha hist\u00f3ria de vez?<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n
Mas, como m\u00e3e, o medo que mais me apavora, \u00e9 de crian\u00e7a ao p\u00e9 da cama me olhando dormir durante \u00e0 noite. Minha filha aos tr\u00eas anos tinha essa mania. Eu acordava \u00e0s 3h da madrugada e ela estava na porta, eu piscava, ainda atordoada de sono, e ela aparecia ao p\u00e9 da cama. Quando eu me virava para chamar meu marido, num instante reaparecia em p\u00e9 ao meu lado, me olhando p\u00e1lida com os olhos arregalados. Todos os filmes de terror me v\u00eaem \u00e0 mente. Teve uma vez que ela, em uma madrugada fria, pegou no meu tornozelo com a m\u00e3o gelada. Dei um grito e um pulo na cama. Este dia se superou, nunca senti tanto medo na vida! Se desse para escolher, preferiria ficar com o medo do dia da calcinha. Pensando bem, prefiro n\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n
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