Com a pandemia, 40% dos estudantes da educação básica podem abandonar a escola, diz Datafolha

Pesquisa aponta que os pais e responsáveis não sentem que os alunos estão motivados ou evoluindo na aprendizagem

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Com a pandemia, 40% dos estudantes da educação básica podem abandonar a escola, diz Datafolha; criança entediada assistindo aula online
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O abandono escolar já era um conflito preocupante do cenário educacional brasileiro. Com a Covid-19, essa realidade foi ainda mais agravada. Para pais e responsáveis, 40% dos estudantes da educação básica da rede pública não estão evoluindo na aprendizagem, não estão motivados e admitem que podem abandonar a escola devido à pandemia, segundo pesquisa Datafolha encomendada pela Fundação Lemann, Itaú Social e BID. Houve um aumento de 14 pontos percentuais no período de um ano, em comparação a maio de 2020, quando o levantamento apontava 26% dos estudantes.

A pesquisa identificou que apesar de 96% dos alunos terem recebido algum tipo de atividade escolar neste ano, não tiveram um bom desempenho e aprendizado do conteúdo. Para 86% dos pais e responsáveis, o desempenho escolar dos seus filhos antes da pandemia era ótimo ou bom e, agora, esse índice caiu para 59% ー uma diferença de 27 pontos percentuais. 

“O efeito de longo prazo da Covid-19 no Brasil será na educação. Uma geração inteira ficará profundamente marcada pela pandemia e o Brasil precisará de múltiplas ações para superar as perdas de aprendizagem. Isso deve ser prioridade para o país”, afirma Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann.


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Desigualdades históricas acentuadas

Segundo a pesquisa, 35% dos estudantes brancos estão no grupo de risco de abandonar a escola durante a pandemia, já entre os negros, esse número sobe para 43%. Em relação às diferenças socioeconômicas, o problema afeta quase metade dos estudantes das famílias que vivem com apenas um salário mínimo, em contraste com os 31% daquelas com renda entre dois e cinco salários mínimos. O risco é ainda maior nas áreas rurais (51%) do que nas urbanas (39%) e incide mais na região Nordeste (50%) do que na Sul (31%).

Além da preocupação com o aluno abandonar a escola, outra questão levantada pela pesquisa foi o impacto da pandemia na alfabetização. Segundo a percepção dos pais e responsáveis entrevistados, 88% dos estudantes matriculados no 1º, 2 º e 3 º ano do Ensino Fundamental estão em “processo de alfabetização”. Desse número, mais da metade (51%) das crianças não aprendeu nada de novo (29%), ou desaprendeu o que já sabia (22%).

Novamente, as desigualdades regionais chamam atenção. No Nordeste, 28% dos familiares disseram que a criança desaprendeu, enquanto no Sul esse percentual é de 17%. Além disso, a pesquisa mostra que 57% dos estudantes brancos aprenderam coisas novas durante a pandemia, de acordo com os responsáveis. Para os negros, o índice que cai para 41%. 


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Retorno presencial ineficaz

Apenas 24% dos estudantes tiveram as escolas reabertas, mesmo que parcialmente, segundo os pais e responsáveis. Esse índice é ainda mais baixo na região Norte, de apenas 6%. As diferentes classes sociais também apresentaram números destoantes. Somente 16% dos estudantes de baixo nível socioeconômico tiveram escolas reabertas, em comparação a 38% daqueles que estudam em unidades de alto nível socioeconômico.

Entre os alunos que tiveram a escola reaberta, 40% não foram para a aula presencial, sendo que a principal razão para isso foi algum fator ligado à pandemia. No retorno às escolas, 63% dos estudantes estão sendo avaliados para identificar as suas dificuldades, mas só 29% estão recebendo aulas de reforço. 

Para os alunos que acompanham as aulas de forma remota, a dificuldade em manter a rotina aumentou de 58%, em maio de 2020, para 69% um ano depois. A alta ocorreu entre estudantes de todas as idades, sendo mais acentuado entre as crianças dos anos iniciais (1º ao 5º ano do ensino fundamental) e da região Nordeste (que passou de 58% para 74%).

“Em um ano de acompanhamento, os dados mostram esforços importantes das redes públicas para oferta do ensino remoto. Entretanto, as desigualdades em relação à qualidade dessa oferta se acentuaram, assim como os riscos de abandono escolar. É urgente para o país estabelecer uma estratégia compartilhada, que traga coerência ao processo, com o compromisso de ampliar as oportunidades aos mais vulneráveis, de modo a recuperar o que foi perdido agora e melhorar os resultados educacionais para as próximas gerações”, aponta Patricia Mota Guedes, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Itaú Social.


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