Estou velha demais para tudo isso?

O tempo passa e nossos hábitos mudam, mas isso não quer dizer que não possamos mais ser felizes com as frivolidades da vida, lembra a escritora Sheila Trindade

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Mulher rockeira vibra ao lado de instrumento de bateria
Pintar o cabelo, fazer uma tatto, colocar um piercing... Somente a juventude pode?
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Ainda me assusto com a idade. Trinta e seis anos vividos é muito tempo. “Cheguei na metade da vida”, pensei. Vários pensamentos me atordoam:

Tenho que excluir aquela pasta com todos os cabelos coloridos que eu sonho em fazer? Também não tenho nenhuma tattoo. Todo ano planejo fazer, quem sabe o combo com um piercing? Todo ano adio. Passou o tempo e eu nem vi. 

Pintar o cabelo, fazer uma tattoo, viajar para ir a um show: estou velha demais para tudo isso? 

Conhecer uma banda nova, quem sabe um crush famoso que talvez tenha metade da minha idade.

Ah, se fosse no meu tempo… Pronto, pareço aquelas velhas assanhadas. 

E sobre não saber opinar de tudo: eu realmente preciso ter opinião sobre tudo? Ou posso escolher me abster, mesmo conhecendo do assunto? 

Dia desses comentei que queria fazer um piercing e fui metralhada por olhares julgadores. Será mesmo que estou velha? Para, por exemplo, andar de bicicleta, se a última vez que andei tinha 15 anos. Ainda posso subir naquele banco desconfortável e tentar pedalar? E se eu cair? Dou risadas ou posso chorar? Adulto chora quando dói o joelho ralado? E joelho de adulto? Ainda rala ou só dói na fila da lotérica?

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Posso começar uma nova faculdade? E trocar de profissão, assim do nada? Passei daquela idade em que é “cool” embarcar em um novo desafio? Ou agora que posso tomar minhas decisões com mais liberdade, é mais fácil tomar qualquer rumo?

Vou usar All Star com vestido e sair para balada. Mas será que dançar vai doer as costas? Mesmo assim posso dançar? Experimentar um drink novo? E ficar de ressaca? 

Dançar de forma ridícula tá liberado? Rir dos próprios erros também?  

Rir com as amigas até doer a barriga é coisa de adolescente? Usar roupa colorida também? Zoar com a turma ainda tá na moda? Ainda usa-se o tempo “zoar”? Desculpe, estou desatualizada.

Ainda posso pular carnaval de maiô e meia arrastão? Há bloco exclusivo para quem não consegue ficar muito tempo em pé? E show? Aqueles festivais estão acabando comigo. Não tem assentos. É a céu aberto e os “xovens” ficam lá oito, doze horas, veja só que absurdo, em pé. Gente, à meia noite preciso estar na cama. O show não poderia começar às 17h e terminar às 22h? Legal é show da Sandy, Roupa Nova, Oswaldo Montenegro. Todo mundo sentadinho no ar condicionado. 

No dia que o Jão fizer um show desses, eu topo. Por enquanto só ouço as músicas à distância, porque ficar em pé no sol quente, meu menisco já dá aquela pontada. Será mesmo que estou velha e só cabe aos jovens a benesse de poder ser feliz com as frivolidades da vida? E faço o que com o meu tempo? Jogo damas na praça? Ahh vá… Eu quero é sair para dançar com minhas amigas!

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Sheila Trindade
Sheila Trindade é escritora e fundadora do Blog Uai Mãe. Mãe de quatro filhos, um monte de histórias para contar cheias de aventuras, dúvidas e receios. De forma autêntica e com bastante humor, quer provar que a maternidade pode ser divertida quando a gente se permite rir dos próprios erros.

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