Dados de um estudo coordenado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) divulgados no início de dezembro evidenciaram um cenário de consumo frequente de alimentos ultraprocessados por crianças. Segundo o levantamento do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI), oito a cada dez (80%) das crianças brasileiras de até cinco anos costumam consumir alimentos ultraprocessados, ou seja, alimentos que passam por técnicas e processamentos com alta quantidade de sal, açúcar e gorduras para realçar o sabor, como biscoitos, refrigerantes, salgadinhos de pacote e macarrão instantâneo.
O Enani é uma pesquisa científica para avaliar crianças menores de cinco anos quanto a práticas de aleitamento materno, consumo alimentar, estado nutricional e deficiências de micronutrientes. Para o levantamento da pesquisa, foram realizadas visitas domiciliares em 123 municípios brasileiros, entre fevereiro de 2019 e março de 2020, com um total de 14.558 crianças menores de cinco anos.
Consumo de frutas e verduras em bebês é reduzido
Dentre outros marcadores de alimentação não saudável analisados pelo estudo, estão a ingestão de temperos industrializados, o não consumo de hortaliças e frutas e consumo de bebidas adoçadas. No grupo pesquisado, a prevalência do consumo de temperos prontos no Brasil, como caldos em cubo e molhos prontos, chegou a 20,9% entre crianças de 6 a 23 meses. Além disso, bebês menores de 2 anos são o grupo que menos ingere frutas e hortaliças, e somente 22,2% das crianças brasileiras dessa faixa etária são alimentadas preferencialmente com vegetais e frutas em detrimento de industrializados.
De acordo com a diretora-presidente do Instituto Opy de Saúde, Flavia Antunes Michaud, a ingestão excessiva de itens ricos em sódio, conservantes e açúcar é uma das principais causas de doenças crônicas como o diabetes, acidente vascular cerebral, infarto, e a hipertensão arterial. “Sabemos que 20% dos nossos genes e saúde são influenciados por questões hereditárias, e todo o resto por fatores externos como alimentação, amamentação, medicamentos, quantidade de infecções e prática de exercícios. Dessa forma, seguir uma dieta rica em alimentos saudáveis faz com que a obesidade infantil e doenças associadas possam ser evitadas”, explica Flávia.
Os resultados obtidos pelo levantamento apontam, em geral, práticas alimentares distantes das recomendadas para expressiva parcela da população de crianças brasileiras menores de 5 anos. O Enani ressalta que, com base nesses resultados, estratégias de promoção de alimentação saudável podem ser planejadas, bem como o monitoramento da evolução destes indicadores ao longo do tempo.
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