Cadê a vacina das crianças?

Há previsão para imunização do público infantil ainda para este ano? Infectologistas explicam o processo de aprovação dos imunizantes e falam sobroe os riscos de não vacinar as crianças

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Vacinação contra o coronavírus: e a vez das crianças?; médica de luvas e máscara azuis aplicando vacina em criança de blusa azul listrada usando máscara
Primeiras doses da vacina infantil devem chegar na segunda quinzena de janeiro, segundo o ministério da Saúde
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A vacinação contra o coronavírus no Brasil vem avançando e, felizmente, a vez dos adolescentes já chegou, mas as crianças menores de 12 anos ainda não foram contempladas. Porém, em outros países, como Chile, China e Estados Unidos, a vacinação dessa faixa etária já começou. Isso nos faz perguntar, cadê as vacinas das crianças brasileiras?

“Cada país tem o seu órgão regulatório e cada um tem a sua mecânica, o seu nível de exigência e os seus experts alimentando e analisando os pedidos dos laboratórios. É uma decisão particular de cada país”, explica Flávia Bravo, médica pediatra e diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Dessa forma, pode haver uma variação em relação à aprovação das vacinas em nações diferentes. Mas o uso do imunizante em outros países também deve ser celebrado, pois pode ajudar no avanço de pesquisas nacionais. “Os resultados que estão sendo publicados pelo Chile, que já está usando a Coronavac nas crianças a partir de 3 anos, certamente trarão informações que podem auxiliar na velocidade da aprovação da vacina no Brasil, pois estão acumulando dados sobre efetividade e impacto na ocorrência de doenças”, diz a médica.

A boa notícia é que os pedido de autorização está em andamento no Brasil. No dia 12 de novembro, a Pfizer solicitou avaliação da Anvisa para incluir o público entre 5 e 11 anos na bula da vacina contra a Covid-19. O órgão, por sua vez, solicitou novos dados sobre a segurança e eficácia que sustentem o uso do imunizante para o público pretendido. Nesta segunda-feira (6), a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) recebeu a resposta da Pfizer em relação à exigência feita e os dados já estão sendo analisados.

Além disso, o Governo do Estado de São Paulo anunciou nesta quarta-feira (8) que o Instituto Butantan vai encaminhar à Anvisa, nas próximas semanas, nova solicitação para liberação da Coronavac para crianças e adolescentes de 3 a 17 anos. O primeiro pedido foi protocolado em agosto, mas a agência negou o pedido e solicitou mais informações. O governo paulista também divulgou que reservou 12 milhões de doses da Coronavac para esse público, para quando o imunizante for liberado.

Esperança para o próximo ano

Com as crianças, é preciso de ainda mais cuidado com a aprovação da vacinação contra o coronavírus, pois a reação do organismo pode variar de acordo com a faixa etária, como afirmam especialistas. Por esse motivo, os testes de imunizantes no geral começam sempre a partir dos adultos saudáveis e somente depois seguem para a população infantil. Assim, o processo pode ser um pouco mais demorado. “Nós, no Brasil, certamente daremos este passo. Os estudos estão acontecendo, nós precisamos ter informações não só em relação à eficácia, mas também em relação à segurança para essas faixas etárias pediátricas”, ressalta Flávia Bravo.

De acordo com os especialistas, infelizmente, existe uma chance muito baixa da vacinação de crianças menores de 12 anos começar ainda neste ano, que já está praticamente no fim. No entanto, há altas expectativas para as crianças no próximo ano. “Com a aprovação da Anvisa, é bem provável que, havendo vacina disponível, no início do ano que vem nós já estaremos pensando em incluir, ou já incluindo, crianças entre 5 e 11 anos no calendário vacinal”, aponta Bravo.

O passo a passo para liberar uma vacina

Todo o processo de análise prevê muitas etapas. “Antes de mais nada, o laboratório fabricante tem que submeter a documentação e o pedido de aprovação ou de licenciamento de uma vacina”, destaca Bravo. O imunizante precisa ser averiguado, com base nos dados e estudos apresentados pelo órgão regulatório, que vai ficar satisfeito ou não e autorizar o uso emergencial ou o licenciamento pleno de uma vacina. “É uma decisão de saúde pública, tem que considerar o impacto da doença naquela faixa etária, qual é a carga da doença na população, número de doentes, número de óbitos e disponibilidade de vacinas também”, diz a presidente da SBIm.

“A aprovação de vacinas demora meses ou até anos. Tudo depende da publicação de dados que comprovem a eficácia e a segurança do imunizante para determinado grupo para que possam ser feitos estudos”, reforça André Ricardo Araújo da Silva, infectologista pediátrico do Grupo Prontobaby. Por isso, a vacina contra o coronavírus está sendo desenvolvida e autorizada em uma enorme velocidade. “Existem várias vacinas que estão sendo estudadas em faixas etárias menores. A Moderna, por exemplo, já foi aprovada e a Pfizer já tem aprovação em outros países. Temos que lembrar o tempo de pandemia e a rapidez com que estes estudos estão sendo feitos”, diz Bravo.

A importância da vacinação dos pequenos

Flávia Bravo, médica pediatra e diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)/ Foto: arquivo pessoal

Apesar das crianças terem sido mais poupadas pelo coronavírus em relação às outras faixas etárias, como diz André da Silva, ainda existem riscos. “Desde 2020, foram mais de 34 mil crianças e adolescentes que adoeceram no nosso país, com mais de 2500 mortes provocadas pelo coronavírus. É claro que em outras faixas etárias foi maior proporcionalmente, mas não podemos menosprezar estes números”, aponta a médica pediatra e diretora da SBIm.

Por isso, quando chegar o momento, é fundamental que as crianças sejam vacinadas. Esta semana, o médico oncologista e escritor Drauzio Varella publicou um artigo para conscientizar as famílias da necessidade de imunização das crianças. “Vacine seus filhos contra o coronavírus, é irracional ficar com medo. Como esse vírus vai permanecer entre nós por muitos anos, quase todas as crianças que não receberem a vacina, um dia serão infectadas. A maioria terá sintomas leves ou ficará assintomática, mas uma minoria apresentará a forma grave da doença. Não é essa a mesma razão que nos faz vaciná-los contra sarampo, difteria, coqueluche e outras doenças de curso benigno na maioria das crianças, mas que podem causar complicações graves?”, destaca o médico.


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Crianças podem desenvolver quadros graves

Embora as crianças normalmente apresentem quadros leves, também existe a possibilidade de evoluírem para situações mais preocupantes. A Síndrome Inflamatória Multissistêmica em crianças (MIS-C), por exemplo, é uma doença rara, mas muito grave, que está associada a infecção prévia pelo coronavírus. “Temos notificado esse ano no Brasil 1010 casos confirmados desta síndrome, com 650 óbitos. É um número, quando se pensa em uma população de 220 milhões de habitantes, que parece pequeno, mas a gente nunca sabe se uma criança nossa estará incluída neste grupo”, indica a diretora da SBIm.

Sem contar que, se não forem vacinadas, as crianças podem passar a adoecer muito mais. “É importante lembrar que, com a vacinação de outras faixas etárias, vamos começar a ver um número crescente de casos de coronavírus em crianças”, destaca a médica. Dessa forma, os não vacinados, incluindo as crianças, serão os mais suscetíveis a contrair a doença e até desenvolver casos mais graves. 

A população pediátrica também tem um papel na transmissão da doença, segundo Bravo, e, mesmo com sintomas leves, podem acabar infectando pessoas mais suscetíveis, que tenham alguma comorbidade, podendo desenvolver quadros graves e até falecer. As crianças são cruciais para que haja uma alta cobertura vacinal e o coronavírus pare de circular sem controle.

“A vacinação não é só uma medida de proteção individual, é uma medida de proteção coletiva. Quando vacinamos alguém para protegê-lo, acabamos protegendo indiretamente outras pessoas”, ressalta Bravo.


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Hesitação vacinal das crianças e adolescentes

Atualmente, há uma grande preocupação em relação à vacinação das crianças não apenas contra o coronavírus, mas também contra outros vírus. “Temos visto muitas crianças com atraso na aplicação de vacinas que protegem contra doenças que já nem deveriam existir mais. O Brasil tem um calendário nacional bastante amplo, é um dos programas mais aclamados do mundo. É importante que seja aproveitado”, destaca o infectologista André da Silva. Por isso, as autoridades da saúde pública também estão aflitas que mesmo quando os imunizantes contra o coronavírus sejam aprovados, os pais não levem os filhos para serem vacinados. 

Inclusive, o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), está realizando o estudo VacinaKids, que busca avaliar a intenção dos pais e responsáveis por crianças e adolescentes em vaciná-los para a prevenção da Covid-19. A ideia é compreender o posicionamento e motivações que permeiam essa tomada de decisão. Para participar do projeto, você precisa ser brasileiro(a), estar morando no Brasil, ter no mínimo 18 anos de idade, e ser pai, mãe ou responsável por uma criança e/ou adolescente menores de 18 anos de idade. Os interessados poderão participar até o dia 30 de janeiro de 2022.


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