Crianças de 0 a 9 anos têm apresentado um aumento de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), uma condição grave, que exige cuidados médicos e que se caracteriza obrigatoriamente por:
- febre;
- um ou mais sintomas de infecção respiratória, como tosse, dificuldade de respirar, falta de ar e sensação de aperto no peito;
- alteração em radiografia do tórax, que mostre, por exemplo, indícios de pneumonia.
A SRAG pode ser provocada por vários vírus, entre os quais, o Bocavírus, Parainfluenza 3 e 4, Rinovírus e Vírus Sincicial Respiratório (VSR). Este último, em especial, tem apresentado um crescimento significativo, maior até do que o registro de casos por coronavírus, nessa faixa etária infantil, se comparados os últimos dados semanais. O alerta é do Boletim InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado nesta quinta-feira (28), tendo como referência o período de 17 de setembro a 23 de outubro, com base nos dados inseridos no Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) até o dia 25 de outubro.
O pesquisador Marcelo Gomes, coordenador do boletim, diz que o número de casos pela Síndrome Respiratória Aguda Grave apresentaram pequenas variações quando comparados a momentos de picos da pandemia, mas seguem dentro da média. “Houve apenas um leve aumento nas últimas semanas em alguns locais, mas se mantendo dentro da média recente. O importante é destacar essa volta de outros vírus respiratórios gerando SRAG”, afirma o pesquisador. O boletim também destaca a presença da síndrome na faixa etária de 10 a 19 anos de idade, provocada, no entanto, principalmente pelo Rinovírus.
O reaparecimento de outros vírus respiratórios (que não o do coronavírus), entre crianças de 0 a 9 anos, é maior na região centro-sul do país, de acordo com o coordenador da Fiocruz. No estado de São Paulo, predominam os casos provocados pelo Vírus Sincial Respiratório – são cerca de 35 casos nessa faixa etária contra 15 a 20 casos prvocados pelos outros vírus. O VSR causa infecções respiratórias, sendo responsável por grande parte dos casos de bronquiolites e pneumonias em crianças de menos de dois anos de idade.
LEIA TAMBÉM:
Retomada da rotina pode ter contribuído para maior contato com outros vírus, opina pediatra
A pediatra Marcela Noronha explica que durante a SRAG, “o vírus acomete o pulmão e, de uma gripe comum, a criança passa a ter falta de ar, chiado no peito, com uma reação inflamatória sistêmica, a criança necessita de oxigênio e cuidados hospitalares”, relata Marcela. Ela comenta que todos esses vírus causam um resfriado comum ou uma gripe – quando há febre –, só que em alguns pacientes a resposta inflamatória do organismo é maior, provocando a SRAG grave.
“Não tem como saber qual paciente vai evoluir de forma mais grave, mas, em geral, quanto menor a idade, maior a chance de evoluir para um quadro pior. Bebês menores que um ano, portanto, exigem mais atenção neste momento”, orienta a pediatra.
Ela acredita que o retorno às escolas, o contato com os amigos, a volta dos pais ao trabalho, também convivendo com outros adultos, fez com que as crianças retomassem o contato com esses vírus, que durante o período de isolamento era muito menor. E o que para um adulto pode não fazer nada, para as crianças pode ser bem ruim.
“Uma das hipóteses para o aumento de SRAG é que o sistema imunológico das crianças ficou cerca de um ano a um ano e meio, durante o período de isolamento, sem precisar se defender desses diversos vírus. Agora, até o organismo se acostumar, demora um pouco. Além do mais, o retorno às aulas e o maior convívio social fazem com que as crianças voltem a ficar mais doentes, algumas vezes, com evolução ruim, necessitando de suporte de oxigênio e de hospital”, afirma a médica.
Cuidados que ajudam a evitar os vírus
Para se proteger desses vírus, a orientação é a mesma que vale para o coronavírus: distanciamento social, preferência por lugares abertos e arejados, uso de máscara para crianças acima de 2 anos de idade e lavar as mãos com frequência. Além disso, Marcela orienta os pais a lavarem o nariz dos filhos pequenos três vezes por dia com soro, pois evidencias cientificas constatam que a prática de lavagem nasal diária diminui a chance de infecções de vias respiratórias altas.
LEIA TAMBÉM: