Ter um filho requer planejamento, dois então mais ainda! Engravidar com anos de distância entre uma gestação e outra pode ser por opção e planejamento, ou em alguns casos uma surpresa. Filhos com grandes diferenças de idade podem trazer vantagens e desvantagens para a vida em família. No entanto, cuidar de filhos em fases bastante distintas de desenvolvimento é um desafio.
A jornalista Vera Magalhães, colunista de política do jornal “O Globo” e apresentadora do programa Roda Viva, da TV Cultura, contou em vídeo à Canguru News que, após ter o seu primogênito, Lucas, 21, chegou a pensar que não conseguiria engravidar mais. Ela teve três abortos espontâneos após a primeira gestação e depois engravidou de Felipe, hoje com 12 anos. Neste vídeo ela fala sobre o relacionamento afetuoso e o companheirismo dos seus dois filhos. Na experiência da família, a diferença de idade entre eles nunca foi um problema. Ao contrário.
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Já a professora de dança em Belo Horizonte, Andrea de Azevedo Anhaia, de 45 anos, conta que não foi uma escolha ter Tom Klaus, de 12 anos, e Isadora Klaus, 3 anos, com idades tão distantes. “O Tom foi muito planejado. Já a Isadora chegou quase 9 anos depois, quando eu já tinha decidido não ter mais filhos. Eu estava evitando e ela chegou no susto. Não foi uma gravidez fácil e eu tive que parar mais cedo por ser bailarina e professora de dança. Todo o processo de Isadora foi diferente e mais complicado”, conta a professora.
Sobre a convivência da Isadora e do Tom na pandemia, a professora relata: “A relação entre eles em casa oscila. O Tom é o ídolo de Isadora, ela tem uma admiração enorme por ele. Outro dia ela chegou da escola e falou que ‘tretou’ com a amiga, coisa que o Tom fala quando está conversando com os amigos. Mas de vez em quando brigam como se tivessem a mesma idade e eu chamo atenção do tom por ter 12 anos e ser mais velho. Às vezes as idades se confundem”.
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“A dica é criarmos um espaço de consideração entre todos, onde as regras sejam equalizadas, respeitando a diferença do momento de cada um. Assim, todos se percebem na mesma medida. É importante estar atento às necessidades de cada idade das crianças, pois além de lidar com os diferentes temperamentos, pontos de flexibilidade de cada um, deve-se criar um espaço onde todos tenham voz, se sintam participantes dessa família e aprendam a valorizar esse espaço como um bom lugar para se relacionar”, explica a psicopedagoga e neuroeducadora do Espaço Aprender, Fernanda Araujo Farias Vieira.
Além da segunda gravidez de Andréa ter sido uma surpresa e conturbada, ela relata as dificuldades de recomeçar um novo ciclo com a chegada da Isadora: “Acho que o lado negativo é mais na minha relação com o meu marido, porque no momento em que Tom estava independente e eu poderia ter uma vida de casal novamente, ir em um jantar e deixar o Tom, agora isso não pode acontecer mais, porque tenho uma bebê”.
“Busque não partir da premissa, num momento de discórdia, de que o mais velho é quem está errado e o mais novo está certo. Muitas vezes esta dinâmica pode estar invertida. Procure deixar que eles se resolvam, tente interferir o mínimo para que ninguém se sinta injustiçado”, aconselha a psicóloga da clínica Zero Barreiras, Christiane Valle.
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Crises da adolescência: como lidar?
A fase da adolescência pode trazer dificuldades emocionais e psicológicas adicionais para os pais. Lidar com as crises da idade e tentar manter a relação entre irmãos o mais saudável possível pode ser um desafio.
De acordo com a professora de dança Andrea de Azevedo, Tom, seu filho mais velho, agora vive no videogame com os amigos e não quer mais contar as coisas para a mãe. “Ele está mais fechado, reservado e eu tento colocá-lo como responsável por algumas tarefas dentro de casa, o que é difícil e tem aquele atrito por ele não querer fazer. Eu tenho momentos em que acabo perdendo a paciência, mesmo achando que é o que mais temos que desenvolver quando temos filhos com essa diferença de idade. E ainda mais presos dentro de casa nessa situação complicada [da pandemia]”, diz a professora de dança.
A educadora Fernanda Araujo Farias Vieira preparou para a Canguru News uma lista com dicas de como lidar com essas crises e com a convivência entre os filhos:
- Os responsáveis precisam conscientizar, principalmente o filho maior, de que toda ação tem uma consequência;
- Buscar estimular um ambiente colaborativo, em que o adolescente se sinta acolhido e os pais participem ativamente da vida do mesmo, encontrando o equilíbrio entre dar autonomia e assistência;
- Lembrar que a adolescência é um período de mudanças no corpo e na mente, uma fase de transição para a vida adulta, momento este que os adolescentes precisam se encontrar e tomar decisões que irão impactar seu futuro, sendo de suma importância a participação dos pais na tomada de decisões e na sinalização de comportamentos;
- Os pais devem investir no desenvolvimento de competências sociais, como: a partilha, a assertividade e o senso de justiça, para se obter um maior laço entre os irmãos;
- Não exercer uma cobrança em excesso do filho mais velho em relação ao caçula;
- Criar momentos de diálogo com o adolescente, de forma que o mesmo entenda a posição dele como irmão mais velho e de que não terá que se encarregar dos cuidados essenciais e primordiais do seu irmão, mas que terá um papel importante de colaboração na liderança e ensino, em que o mais novo irá imitar, seguir e se comportar como aprendiz;
- Delegar algumas funções ao filho adolescente em que o aproxime das atividades diárias do pequeno, como ajudá-lo em tarefas escolares e nas brincadeiras;
- Estabelecer com os filhos, independente da idade, uma rotina em que eles participem ativamente e igualmente de todas as atividades diárias, respeitando suas fases e idades, de forma que todos serão cobrados na mesma proporção.
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