Nas últimas semanas, viralizou nas redes sociais um vídeo em que uma criança de 2 anos, Alice, fala palavras de difícil pronúncia como “liquidificador”, “esquistossomose”, “paralelepípedo” e “ornitorrinco”. A habilidade com que a bebê repete as palavras que ouve, rapidamente, conquistou as pessoas – o post já tem mais de 800 mil curtidas – e chamou a atenção, em especial, de mães e pais de crianças pequenas, que ficaram se perguntando se o domínio da fala que Alice tem pode ser uma referência para outras crianças.
“Temos que ter cuidado para não mostrar para outras famílias que esse (o desenvolvimento de Alice) é o padrão natural, pois não é. Com 2 anos as crianças já falam frases, compreendem bastante da comunicação, dão explicações, mas ainda possuem dificuldades e trocas de pronúncias de alguns fonemas, que ainda estão em desenvolvimento”, diz a neuropsicóloga Bárbara Calmeto, diretora do Autonomia Instituto, uma clínica de desenvolvimento infantil com sede no Rio de Janeiro.
A bebê Alice vive com a família em Londres e, além da língua inglesa, conversa com os pais em português. A mãe, a fotógrafa Morgana Secco, conta que estimula o desenvolvimento da filha por meio de brincadeiras, aulas de música e muita leitura. Não é raro ver vídeos de Alice cantando e lendo gibis da turma da Mônica no Instagram. Morgana diz que a filha não assiste televisão nem tem acesso a tablets e celulares, e é sempre encorajada a desenvolver atividades que explorem habildades como a imaginação. No podcast mãe mulher ela ressaltou o fato de que as mães não devem comparar seus filhos com a Alice, visto que cada criança possui o seu tempo.
A neuropsicóloga Bárbara destaca que diversos estudos já relacionaram o uso excessivo de telas ao atraso na fala. Um deles, por exemplo, publicado na “Jama Pediatrics”, mostra que um número maior de horas de uso de telas como tablets e celular foi associado a menores habilidades de linguagem. A mesma pesquisa também afirma que o uso de tela de forma cuidadosa – em que as crianças assistem a programas educacionais e junto com os pais – foi associado a uma melhor habilidade de linguagem entre as crianças. Permitir o uso de telas somente após os 12 anos também foi correlacionado a uma melhor desenvolvimento da fala, segundo o estudo.
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O desenvolvimento da fala de 0 a 5 anos de idade
A fonoaudióloga Lilian Papis, especialista em linguagem, explica que o desenvolvimento da fala começa no nascimento e depende de diversos fatores, avançando conforme a idade. “Esse complexo processo depende não somente do desenvolvimento auditivo, mas também do desenvolvimento do controle motor oral (que envolve os órgãos fonoarticulatórios, dentre os quais, lábios, língua, bochechas, palato duro e palato mole), além de uma integridade e maturação neurológica do córtex pré-frontal e temporal, no cérebro”, informa a especialista. Abaixo, Lílian detalhou como a criança desenvolve a fala de acordo com sua idade, de zero a cinco anos.
Para estimular o desenvolvimento da fala na criança, a fonoaudióloga afirma que é importante, desde o nascimento, falar e brincar com ela. “Os pais podem conversar, cantar músicas, brincar de imitar sons de animais e de meios de transporte, mandar beijos, estalar a língua e fazer com que o filho entenda e imite as feições e falas dos adultos. Também devem ler e contar histórias todos os dias, sempre usando a linguagem correta para se comunicar com as crianças.” diz Lilian. Ela diz ainda que é importante ter paciência e estimular a criança sempre que possível, para ajudar nesse processo.
Outra questão que deve ser considerada, principalmente em bebês que nasceram durante a pandemia, é o isolamento. “O isolamento social pode trazer alguns prejuízos no desenvolvimento da fala, principalmente pela falta de estímulos ambientais e sociais a que eles estavam anteriormente expostos, como por exemplo, na escola, na saída com amigos e passeios em família”, informa a fonoaudióloga Lilian Papis.
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Atenção a estes hábitos comuns dos pais, mas que devem ser evitados*
- Expor em excesso o filho às telas
- Conversar pouco com o filho por achar que ele não entende o que falamos
- Falar como se fosse um bebê, por acreditar que assim será mais fácil para a criança entender
- Imitar os erros da criança
- Usar palavras no diminutivo, como casinha, carrinho e plantinha
- Atender as necessidades da criança sem ela exteriorizar o que deseja. Por exemplo, se ela aponta para a água, os pais devem esperar que ela fale quer quer água – e não devem se antecipar e falar por ela.
- Deixar a criança usar chupeta, mamadeira e/ou dedo por mais do que os 2 anos
- Oferecer alimentos muito moles para as crianças que já têm os dentes molares e, logo, podem amolecer os alimentos por meio da mastigação
*Fonte: fonoaudióloga Lilian Papis e neuropsicóloga Bárbara Calmeto.
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