Outro dia eu me deparei com uma história inspiradora, dessas que a gente quer ouvir. Sara Blakeley começou a vida profissional vendendo máquinas de fax, batendo de porta em porta. Queria ser advogada como o pai, mas foi reprovada múltiplas vezes no exame seletivo da faculdade de Direito. Aos 25 anos, decidiu tomar um rumo diferente. Investiu tudo o que tinha, 5 mil dólares, em sua ideia inovadora: lingeries feitas de meia-calça, que modelariam o corpo sem marcar as roupas. Quatorze anos depois Sara já tinha seu primeiro bilhão. Estampou a capa da Forbes aos 41 anos como a mulher mais jovem a se tornar bilionária no mundo.
Sara tem uma história admirável, mas não é sobre ela que eu quero falar. Eu queria te contar sobre o pai da Sara. Porque segundo Sara, foi ele o grande responsável por seu sucesso. E não foi por conta de conselhos profissionais nem ajuda financeira. O que o pai da Sara fez foi repetir, todas as noites, uma simples e única pergunta. Uma pergunta que pode impactar os seus filhos também: “Qual erro você cometeu hoje?”.
A importância de celebrar os erros do filho
O pai da Sara não queria saber sobre as boas notas, os gols que ela marcava no futebol, ou quantos desafios ela conquistou. Todas as noites, o pai pedia que Sara lhe contasse sobre seus erros. Quando ela errava, eles celebravam juntos. Sara aprendeu que a capacidade de errar era admirável porque significava que ela havia desafiado a zona de conforto. Nas palavras de Sara, “isso definiu não apenas meu futuro, mas minha definição de fracasso. Muitas vezes os empresários não buscam novas ideias porque têm medo de errar. Meu pai me ensinou que as falhas são necessárias para que você possa dar um próximo grande passo”. Sara aprendeu que tropeçar é normal, e até admirável, quando se tenta algo novo.
Mentalidade de crescimento
A pesquisadora Carol Dweck, da Universidade de Stanford (EUA), autora do livro “Mindset: A nova psicologia do sucesso”, de 2017, construiu carreira e notoriedade estudando as atitudes das pessoas quando elas falham. Sua grande descoberta aconteceu na segunda metade dos anos 80, quando ela convidou crianças para resolver uma sequência de quebra-cabeças. A ideia era deixar a tarefa cada vez mais difícil e observar as atitudes das crianças frente ao fracasso. Dweck esperava variações nas estratégias de enfrentamento e um desconforto geral associado ao erro. Mas para sua surpresa, um grupo de crianças pareceu gostar da experiência. Eram crianças que eram motivadas pelo erro e que se sentiam energizadas com a dificuldade. Semelhante à Sara, elas não consideravam que estavam falhando, elas achavam que estavam aprendendo.
Dweck identificou que estas crianças gostavam de desafios porque elas tinham uma crença em comum. Elas acreditavam que as qualidades e habilidades humanas poderiam ser aperfeiçoadas através do esforço. Logo, o desafio era uma forma de aprendizado e um recurso para a evolução. A pesquisadora nomeou esta crença como mindset de crescimento e chamou de mindset fixo a crença oposta. Pessoas com mindset fixo acreditam que as qualidades e habilidades humanas são algo que não podemos mudar. Ou você é inteligente, ou não é.
Mindset afeta comportamentos, comportamentos afetam a realidade
Trinta anos de pesquisa revelam que o mindset das pessoas afeta a capacidade que elas têm de conquistar aquilo que almejam. Com o tempo, as pessoas que têm o mindset de crescimento performam melhor em suas carreiras e alcançam maior satisfação pessoal.
O raciocínio é simples. Se você acredita que suas características e qualidades são imutáveis, é bem importante que você descubra que é inteligente e capaz. Por isso, a pessoa com mindset fixo supervaloriza o sucesso. Para estas pessoas, o erro é uma prova de incompetência, portanto elas evitam novos desafios e aquilo que não fazem bem. Elas preferem focar em tarefas com as quais já estão confortáveis. Elas são menos resilientes diante do fracasso.
Por outro lado, se você acredita que as suas características e qualidades são apenas um ponto de partida, cada situação passa a ser uma oportunidade de aprendizagem e evolução. Pessoas com mindset de crescimento ficam motivadas a partir de desafios, e estão mais preparadas para aprender. Para estas pessoas, o erro é prova de que estão se desafiando e progredindo. Como elas têm menor aversão ao fracasso, elas se recuperam mais rápido quando falham.
Elogie o processo e não as habilidades
Se a esta altura você já se convenceu que quer ensinar o mindset de crescimento para o seu filho, você tem duas opções. Você pode se espelhar no pai de Sara, celebrando os erros, ou nos conselhos de Dweck, elogiando o processo que levou seu filho ao sucesso em vez das habilidades que ele tem.
Dweck explica que as crianças adoram ser elogiadas por suas habilidades e isso até as motiva no curto prazo. Eu, por exemplo, adorava escutar a minha mãe contar o quanto eu era inteligente, usando o meu sucesso como prova “ela nunca tirou menos de 95 em 100”. Porém, segundo Dweck, este tipo de elogio faz com que as crianças aprendam a associar sucesso com a presença de habilidades e, consequentemente, o fracasso com a ausência delas. De fato, eu associei inteligência ao sucesso e lembro como se fosse hoje o dia que eu tirei uma nota inferior a 95. A nota era 93, mas a sensação era de incompetência e fracasso. Este é o mindset fixo.
O melhor, segundo Dweck, é não usar elogios que tragam um julgamento (mesmo que positivo) sobre as qualidades e talentos da criança. Em vez disso, é mais produtivo que os elogios valorizem o processo e o esforço do seu filho, associando o sucesso com a persistência, o estudo, a prática e o uso de boas estratégias. “Você leu o material várias vezes, grifou as partes importantes e respondeu as perguntas de estudo que a professora sugeriu. Realmente funcionou!” Quando associamos o sucesso ao esforço e ao processo, o fracasso deixa de significar a ausência de habilidades. Ele só significa que o processo precisa ser ajustado, ou mais esforço precisa ser feito.
Quando o seu mindset é o elefante na sala
Monitoramos se os filhos falam, andam e desfraldam na idade certa, se aprendem a ler antes dos colegas, se demonstram habilidades matemáticas superiores, ou se precisam correr atrás do prejuízo. Temos cada vez menos filhos e estamos superinvestidos no sucesso dos poucos que habitam a nossa casa. Prova disso é a indústria multimilionária que se alimenta da nossa insegurança vendendo todo tipo de apetrecho. Outro dia achei, por 150 dólares, o Babypod, uma caixa de som na forma de um absorvente interno que serve para grávidas colocarem música para seus fetos no útero. A empresa espanhola monetiza há 7 anos a promessa de que a música clássica aumenta o QI do bebê. Fazemos as coisas mais malucas para aumentar as chances de sucesso dos nossos filhos porque no fundo temos medo de que eles falhem. Certamente o pai da Sara estimulou as falhas da filha porque ele acreditava que os erros eram fundamentais para o aperfeiçoamento dela. Ensinamos as crianças a temerem o fracasso quando nós também tememos, quando somos nós quem temos o mindset fixo. E quando o assunto é ensinar aos filhos, as suas ações valem mais que mil palavras. Portanto, precisamos ir além das estratégias e refletir sobre as nossas próprias crenças se pretendemos ensinar qualquer coisa para aqueles que nos têm como exemplo. Talvez seja na nossa supervalorização do sucesso onde more o problema. Mas isso é assunto para um próximo artigo.
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