Os dias quentes e o aumento das chuvas no verão favorecem o aparecimento de doenças virais como a dengue. Nas crianças, porém, os sintomas dessa doença, que é transmitida por meio da picada do mosquito Aedes aegypti, se parecem com os que levantam suspeita da covid-19, o que pode causar confusão na hora do diagnóstico para ambos os casos. E se acontecer dos médicos suspeitarem que a criança tem covid-19 mas for dengue, há o risco de que enquanto se aguarda confirmação do exame de infecção pelo coronavírus, a dengue se agrave seriamente na criança.
Entre janeiro e novembro de 2020, o Ministério da Saúde registrou aproximadamente 970 mil de casos de dengue no país. Em 2019, o órgão havia diagnosticado 2 milhões de pessoas com a doença no mesmo período. Já a covid-19 infectou 9 milhões de brasileiros desde que desembarcou em território nacional.
Entre os principais sinais comuns da dengue e da covid-19 estão febre, dor de cabeça e recusa alimentar. “A criança também pode ter dor no corpo, sonolência, vômito e diarreia. Esse quadro pode ser semelhante nas duas doenças”, explica a clínica médica Débora Medeiros. Ainda sim, alguns sintomas específicos ajudam a diferenciar os problemas.
“Na covid-19, geralmente a criança vai apresentar dor de garganta, congestão nasal e pode ter algum quadro pulmonar associado, que não acontece na dengue”, diferencia. Além disso, de acordo com a médica, quando se trata de dengue, outros detalhes devem ser analisados: “Na dengue, pensamos em dor nas articulações ou atrás do olho, ainda que, na criança, às vezes seja difícil diferenciar isso de uma dor de cabeça normal”, revela.
Por conta disso, a médica explica que o fechamento do diagnóstico nem sempre é simples e alguns pais podem deixar os sintomas passarem despercebidos e sequer levarem as crianças ao médico por acharem que se trata de uma simples virose a ser tratada com remédios disponíveis em casa. Mas é aí que está o perigo, pois o agravamento do quadro, em ambas as doenças, é muito arriscado.
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Como é confirmado o diagnóstico da dengue
Diante do aparecimento de sintomas, é fundamental levar a criança a um especialista, que será responsável por avaliar o seu histórico de doenças e os sintomas para então solicitar exames específicos e concluir o diagnóstico.
Antes da solicitação dos exames, os sintomas são avaliados clinicamente. Débora explica que, na dengue, há a “prova do laço” em que os médicos avaliam a presença de manchinhas vermelhas no corpo. Trata-se de um exame rápido, indicado para pacientes com suspeita de dengue, zika virus ou chikungunya, que ajuda a identificar se há pequenos sangramentos nos vasos sanguíneos – uma das características da dengue é a dificuldade de coagulação do sangue. Com o aparelho de aferir a pressão, os médicos observam a presença de pontos vermelhos em uma área pré-determinada do antebraço da criança, o que pode revelar se há fragilidade nos vasos sanguíneos mais finos. O resultado positivo pode confirmar um caso moderado ou grave da dengue.
A médica ressalta que é importante também saber se a criança tem parentes infectados pelo coronavírus ou se viajou a alguma zona endêmica de dengue. “A história que o paciente traz é muito importante para conseguirmos pensar mais de um lado ou do outro”, explica Débora. Por isso, os pais devem contar aos médicos sobre os últimos passos da criança e se há possibilidade de ter se contaminado por meio do contato com outra pessoa doente ou mesmo por picadas de mosquito em uma região infestada.
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Exames que podem ser solicitados no caso de dengue
Para a confirmação dos quadros, seja dengue ou Covid-19, a prática comum é pedir exames para identificar a presença do vírus ou de anticorpos no organismo. “Geralmente, pedimos a sorologia da dengue para as crianças que foram à zona endêmica da doença, que tem bastante Aedes aegypti, o mosquito que transmite a dengue”, explica Débora Medeiros. A sorologia identifica a presença de antígenos e anticorpos no soro sanguíneo. No entanto, é possível que o médico solicite também um hemograma para avaliar nas células sanguíneas o baixo nível de glóbulos brancos (responsáveis pela resposta imune do organismo) a fim de comprovar a presença de uma infecção.
A depender da gravidade da doença na criança, os médicos podem indicar as medicações necessárias para o tratamento em casa ou realizar a internação. “É um pouco complicado falar sobre tratamento porque varia e é preciso uma avaliação médica. Mas o básico é hidratação, alimentação e analgésico ou antitérmico para dor e febre em casos leves. Em cada caso específico, a gente precisa avaliar se é necessário entrar com outras medicações”, pontua Débora. Assim, é imprescindível consultar um especialista que irá orientar quanto ao tratamento mais adequado para a criança.
Exames que podem ser solicitados no caso de covid-19
Quanto ao coronavírus, o exame mais solicitado costuma ser o RT-PCR, também conhecido como exame do cotonete, que coleta amostras do trato respiratório (nariz e garganta). “Atualmente, em muitas crianças com sintomas suspeitos da covid-19, fazemos o RT-PCR, mas não nas muito pequenas pelo desconforto”, destaca a médica. Ela diz que se os pais estão com covid, a chance de a criança contrair a doença é grande. No caso das crianças maiores, assim sim é realizado o exame do cotonete, cujo resultado pode ficar pronto entre 2 a 7 dias, a depender do local onde foi realizado.
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Prevenir é melhor do que remediar
No caso do coronavírus, o isolamento social, o uso de máscaras de proteção e os cuidados frequentes de higiene são medidas eficazes para evitar a transmissão da doença. Na dengue, por outro lado, o combate ao mosquito é o meio mais fácil para controle do número de casos. “A dengue, como é transmitida por um mosquito, não precisa fazer isolamento social. O importante são as medidas de higiene ambiental: não deixar água parada e usar repelente. A dengue não é uma doença transmitida igual o Covid, de pessoa para pessoa. A dengue passa de pessoa para inseto para pessoa. Então, no Covid, com certeza o isolamento social é importante e, na dengue, são as medidas ambientais”, explica Débora Medeiros.
É de conhecimento científico que o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, deposita seus ovos em locais com água. Assim, como forma de prevenção, algumas medidas podem ser tomadas para evitar a proliferação desse inseto.
Medidas para evitar a proliferação do mosquito da dengue
- Manter caixas d’água, barris ou tonéis bem fechados.
- Encher os pratos de plantas com areia a fim de evitar o acúmulo de água após a rega.
- Cobrir piscinas e aquários corretamente. Lembre-se de esticar bem as lonas de cobertura para não criar poças.
- Remover do ambiente itens como garrafa pet, pneus e latas. Com as chuvas, podem acumular água. Assim, se for preciso guardá-los, deixe-os virados de cabeça para baixo.
- Lavar corretamente e com frequência os bebedouros ou potes de água dos animais de estimação.
- Colocar telas de proteção em portas e janelas para evitar que os insetos entrem dentro de casa.
- Usar repelente corretamente, respeitando o prazo de proteção, principalmente em locais com muitos mosquitos.
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