O 2º dia do Parenting Brasil tratou de temas tão diversos quanto a comunicação não violenta, lidar com as emoções, mediação de conflitos em família, autocompaixão e resiliência emocional, e, ainda, o uso de jogos e livros nas relações parentais.
Na primeira palestra desta sexta-feira (20), o casal Rodrigo Lolato, coach executivo e engenheiro de formação, e Raylla Andrade, psicóloga clínica, ambos atuantes no mundo corporativo, explicaram os fundamentos da comunicação não violenta, também chamada pela sigla CNV, e deram exemplos práticos de como os pais podem usar esse conceito no dia a dia, inclusive, falando da própria experiência na criação das duas filhas.
“Muita gente pensa que a comunicação não violenta é uma forma de falar, mas é muito mais que isso, é uma nova forma de olhar para a vida”, disse Raylla, que além de psicóloga tem formação em psicossíntese e biospicologia e é consultora em desenvolvimento humano para grandes organizações, em São Paulo.
Ela explicou que a CNV busca melhorar as relações interpessoais e diminuir a violência que, muitas vezes, praticamos consigo mesmos, com os outros e também com os filhos. Como quando autorizamos a criança a fazer algo que não queríamos que ela fizesse (assistir à TV fora do horário combinado), porque estamos ocupados e não temos como lhe dar atenção, por exemplo. “Ao se contrariar, os pais estão se violentando, mas muitos preferem aguentar calados e agredir a si mesmos do que a outros. Isso porém, tem um custo para a relação e a longo prazo pode fazer com que o pai ou mãe “explodam” depois de ouvir várias vezes o mesmo pedido da criança”, relata Rodrigo. Nesse caso, eles podem dizer frases como “Eu já deixei você assistir a TV 12 vezes, não me peça mais isso!”. E a criança, se não sabia do esforço que os pais fizeram para autorizar algo que eles não queriam, pode ficar surpresa e até se assustar com o comportamento dos pais. Atender as necessidades de todos na família, como as físicas, de segurança ou conexão, é um caminho para não se violentar. “Sentimentos são valiosos indicadores para as nossas necessidades e os pais podem oferecer empatia e acolhimento mesmo quando geram desconforto nos filhos e os deixam frustrados, porque isso faz parte da vida”, complementa o coach.
Veja como foi o 1o dia do evento do Parenting Brasil
LEIA TAMBÉM: Parenting Brasil: como a educação parental pode transformar a realidade das famílias
Pais têm de priorizar momentos importantes com os filhos, diz Lorraine Thomas
Na segunda palestra do dia do Parenting Brasil, realizada por videoconferência, a inglesa Lorraine Tomas, consultora dos estúdios Walt Disney para o lançamento de filmes como Divertida Mente e diretora executiva da The Parent Coaching Academy, falou da importância de pais e filhos aprenderem a lidar com suas emoções. Ela listou hábitos importantes que ajudam crianças e adultos a se manterem conectados, entre os quais, dar nome e controlar as emoções, escutar os filhos quando estão falando de seis sentimentos e priorizar o bem-estar da família. “Às vezes, como pais, deixamos de fazer isso, mas é essencial reservar momentos para desenhar com os filhos ou praticar a jardinagem”, exemplifica Lorraine, autora de livros como “A mamãe coach – 10 habilidade essenciais para você ser uma ótima mãe“.
Segundo Lorraine, ao gerenciar as emoções dos filhos é importante ver o que funciona e pensar no que os pais podem fazer diferente. “Lembre-se de falar de maneira positiva em vez de usar uma forma negativa de comunicação. É mais fácil mostrar a eles o que queremos que eles façam e, não, o que não queremos. Se a ideia é que eles parem de gritar, fale baixinho com eles.”
LEIA TAMBÉM: Educar-se para educar – conheça a história da educação parental
Livros e jogos permitem fortalecer vínculos entre pais e filhos
A neuropisicóloga, psicóloga infantil e coach com certificação em mindfulness para crianças, Iara Mastine, apresentou seu trabalho com jogos e livros com crianças para ajudá-las a desenvolver habilidades socioemocionais. Ela explica que os livros, brinquedos e atividades lúdicas como exercícios pedagógicos promovem a aproximação e criação de vínculos positivos entre pais e filhos e podem promover a aquisição de novas habilidades, reabilitação, educação e reflexão para as crianças.
“Quando as crianças brincam com joguinhos, por exemplo, elas têm que esperar a vez do outro, lidar com a frustração e a paciência”, disse Iara que trouxe exemplos de brinquedos e livros para educar os filhos, entre os quais, a história de um menino que viajou atrás da mãe para encontrar o lugar mais maravilhoso do mundo. O menino vai até lugares considerados “as sete maravilhas do mundo” como o Cristo Redentor, no Rio, Machu Picchu, no Peru, a Muralha da China, Chichén Itzá, no México, e Coliseu, em Roma. Porém ele não encontra sua mãe em nenhum deles. Até que ele vai a um lugar não muito conhecido e acha um ninho onde estava sua mãe. O garoto conclui então que o lugar mais maravilhoso do mundo é o colo da sua mãe. “O livro trabalha a perseverança, os desafios, a busca pelos objetivos de vida e a valorização da figura materna”, ressaltou Iara, que foi a primeira facilitadora em Parentalidade Consciente no Brasil.
A mediação de conflitos em família exige empatia, afirma a portuguesa Magda Gomes Dias
Ensinar a mediar conflitos em família foi o tema abordado pela portuguesa especializada em parentalidade positiva Magda Gomes Dias, que participou de forma virtual do Parenting Brasil. Ela afirmou que nenhuma relação está isenta de conflito e disse que o problema não é o conflito e sim a capacidade que temos de repará-lo. Ela abordou a importância do exemplo dentro de casa. “Para atingir a paz, nós devemos ensinar a paz”, disse Magda, que é colunista da Canguru News e fundou a Escola de Parentalidade e Educação Positiva de Portugal e. Ela orientou sobre o que fazer para solucionar conflitos e falou da importância da empatia, que para ela é mais do que a capacidade de se colocar no lugar do outro, é a capacidade de se relacionar com as emoções do outro.
Magda ressaltou a importância da ajuda profissional para certas situações, mas destacou que a família não pode esperar que o terapeuta tome decisões por ela. “O papel do profissional é mostrar qual é o melhor caminho para solucionar o problema”, disse. Em um dos casos práticos, ela contou a história de irmãos que pensam de formas diferentes. “Não é porque são irmãos que eles têm que se amar, mas têm que se respeitar. O amor nascerá do respeito. Não tem problema os irmãos pensarem de formas diferentes”, explicou Magda. Para ela, os pais e educadores de crianças devem prezar pelo diálogo, escuta ativa, observação e comunicação assertiva na educação dos filhos.
LEIA TAMBÉM: Temos um impacto enorme na vida dos nossos filhos, mas não controlamos as suas decisões
Mães que têm mais autocompaixão contribuem para a resiliência emocional dos filhos, mostra pesquisa
importância da autocompaixão da mãe. Esse foi o foco da pesquisa ap tema da palestra da especialista em psicologia positiva, Adriana Drulla, que apresentou os resultados de sua pesquisa feita na Universidade da Pennsylvania (UPenn), na Filadélfia, nos Estados Unidos.
Segundo Adriana, a culpa tem uma função importante no desenvolvimento humano, pois leva a escolher melhores comportamentos. No caso da culpa materna, porém, as expectativas tendem a ser inatingíveis e os valores incoerentes, prejudicando a própria mãe e, por consequência, o filho também. A pesquisadora destacou a importância da mãe ter compaixão consigo mesma – isto é, aceitar os seus defeitos e imperfeições– para servir de modelo aos filhos, que tendem a aceitar também os seus defeitos e se ver de forma mais positiva, favorecendo assim sua resiliência emocional. Por meio de dados, a pesquisa demonstrou que adolescentes com mães autocompassivas se tornam mais resilientes e também praticam a autocompaixão, característica indispensável em uma sociedade em que somos expostos diariamente a comparações.
(Colaborou Norah Lapertosa e Michele Custódio)
LEIA TAMBÉM: “É tão fundamental entender o que nossos filhos precisam”, diz a coach sueca Mikaela Övén