Pesquisadores já sabem que a vivência de situações de negligência, de trauma e de estresse na primeira infância pode causar inumeros problemas, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento do cérebro infantil. Vários estudos evidenciam isso e indicam que pode haver consequências para o resto da vida.
O estresse tóxico, por exemplo, que ocorre quando a criança passa por situações de adversidade com frequência e por um longo período, sem receber apoio e acolhimento dos pais, pode causar a interrupção do desenvolvimento saudável do cérebro e levar a transtornos como a ansiedade e a depressão, além de mudanças de comportamento e diminuição da imunidade. Ou seja, crianças que são negligenciadas pelos adultos, sem afeto e carinho, podem ter seu desenvolvimento prejudicado.
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Um exemplo visual da diferença do desenvolvimento do cérebro infantil de quem vive em um ambiente afetuoso e acolhedor e de quem vive situações de trauma e abuso emocional pôde ser visto em artigo do psiquiatra americano Bruce Perry. Ele é pesquisador sênior da Academia de Trauma da Criança em Houston e professor adjunto de psiquiatria e ciências do comportamento na Feinberg School of Medicine em Chicago, ambas nos Estados Unidos. No trabalho, que foi publicado em 2017 e tratou sobre como a negligência afeta o desenvolvimento do cérebro infantil, o psiquiatra mostra imagens dos cérebros de duas crianças de três anos, lado a lado. Um deles é visivelmente maior que o outro. Veja a foto abaixo:
O cérebro da esquerda, maior, é de uma criança de três anos saudável, que viveu em um ambiente de acolhimento e carinho e tem a cabeça com um tamanho na média, e o da direita, menor, é de uma criança de três anos que sofreu com trauma emocional e negligência. Segundo Perry, “essas imagens ilustram o impacto negativo da negligência no desenvolvimento do cérebro”. São cérebros de crianças da mesma idade, mas uma delas teve uma vida domiciliar feliz e a outra teve uma vida de abusos emocionais.
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Perry explica que o cérebro da direita é significativamente menor que a média e tem atrofia cortical, ou seja, atrofia do córtex. Isso pode levar a atrasos de desenvolvimento e problemas de memória para a criança. A atrofia cortical é comumente encontrada em pessoas idosas que têm a doença de Alzheimer. O psiquiatra também afirma que a criança com cérebro menor sofre de privação sensorial severa, não tendo tido o contato usual com toques, sons e cheiros.
Segundo o estudo, a negligência emocional na infância também pode acarretar dificuldade de formar relacionamentos saudáveis. Pode haver problemas de apego e dependência excessivos ou então essas pessoas podem se isolar socialmente mais tarde na vida.
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No artigo, Perry conclui que “o desenvolvimento saudável dos sistemas neurais que permitem o funcionamento social e emocional ideal depende de cuidados atenciosos e acolhedores na infância e oportunidades para formar e manter uma diversidade de relacionamentos com outras crianças e adultos ao longo da infância”.
Várias outras pesquisas relacionam o estresse excessivo na infância com problemas emocionais e de memória. Outros estudos também associam altos níveis de estresse nas crianças a pressão alta, doenças do coração e obesidade mais tarde na vida. Por isso, é claro, o mais importante é sempre estar presente e atento aos pequenos, dando-lhes afeto, carinho e proteção para que eles tenham um desenvolvimento pleno e saudável.
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