Quando os pais recebem o diagnóstico que o filho ou filha tem autismo, é comum que fiquem assustados. O transtorno do Espectro Autista — TEA — é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação, a interação social e o desenvolvimento cognitivo. Os sinais de autismo podem surgir nos primeiros anos da criança, mas nem sempre são percebidos nessa fase.
O TEA não tem cura, mas os tratamentos e intervenções adequados melhoram a qualidade de vida. Por isso, passado aquele susto inicial, os pais começam então uma corrida por clínicas e terapias, a fim de estimular e desenvolver as habilidades e competências nas crianças. Mas são tantas demandas, que com frequência os cuidadores se esquecem de olhar para si e para relação conjugal e parental.
Um estudo publicado em 2010 na revista Journal of Family Psychology comparou a ocorrência do divórcio em pais de crianças com TEA e em pais de crianças sem deficiência. Os pais de crianças com TEA tiveram uma taxa de divórcio mais elevada do que o outro grupo: 23,5% x 13,8%.
LEIA TAMBÉM:
Como orientadora parental, eu apoio, aconselho e ajudo mães e pais a enfrentarem os desafios na criação dos filhos. Um dos principais benefícios desse acompanhamento é o aumento da autoconfiança dos pais e cuidadores, que ficam mais conscientes e preparados, passando a compreender melhor as necessidades, os sentimentos e as capacidades dos filhos com autismo.
Pais conscientes se tornam capazes de entender as preferências de comunicação dos filhos, suas dificuldades sensoriais e sociais e desenvolver estratégias eficazes para promover o bem-estar emocional e o crescimento da criança ou adolescente.
Entender e aceitar o diagnóstico é o ponto de partida para conseguir adaptar a abordagem parental às necessidades únicas da criança e fornecer um ambiente seguro, de apoio, incentivo e crescimento.
Não existe uma receita pronta que vai servir para todas as famílias, mas eu trouxe aqui algumas estratégias práticas que podem ajudar:
- Implementação de técnicas de comunicação eficazes como a CAA (comunicação aumentativa alternativa). Com o uso de gestos, imagens ou dispositivos de fala, os pais podem encontrar maneiras mais eficazes de se conectar e entender as necessidades de seus filhos. Aprender a interpretar os sinais não verbais da criança pode abrir novos caminhos para uma comunicação mais significativa.
- Criação de uma estrutura de rotinas claras e previsíveis. Estabelecer horários regulares para atividades diárias como refeições, brincadeiras, atividades escolares e sono ajuda a minimizar a ansiedade e traz um senso de controle e previsibilidade.
- Manter um ambiente doméstico calmo e organizado. A sobrecarga sensorial pode ser um desafio significativo para crianças com autismo. Por isso é importante reduzir o excesso de estímulos visuais e sonoros e criar um espaço que seja acolhedor e reconfortante para a criança.
- Desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais, o que inclui estratégias práticas para lidar com os comportamentos desafiadores de forma empática e eficaz. Além disso, a orientação parental oferece suporte emocional para que os pais consigam se autorregular para poder ensinar os filhos a lidar com as suas emoções também.
Lidar com o diagnóstico de autismo e as demandas de cuidado pode ser bastante desafiador para a família. A orientação parental representa um caminho importante para ajudar a enfrentar esses desafios pois oferece um espaço seguro para os pais falarem dos seus sentimentos e juntos desenvolverem estratégias de autocuidado e de fortalecimento do relacionamento entre pais e filhos.
Nas sessões, procuramos contribuir para que as famílias possam entender melhor a criança ou adolescente com autismo, estimulando a comunicação e a autonomia em um ambiente de respeito e compreensão. Também fornecemos ferramentas para gerenciar o estresse e a ansiedade criando um espaço mais harmonioso e leve dentro de casa.
Enfrentar os desafios e celebrar as conquistas dos filhos com autismo é uma jornada que pode ser enriquecida com as estratégias e o suporte adequados.
*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.