O autodomínio, ou seja, o controle de si mesmo, é muito importante para que as pessoas consigam administrar os desafios da rotina, não deixando que os problemas que aparecem tenham um impacto maior que o necessário em suas vidas. E esse conceito é ainda mais fundamental em uma época de crise como a atual, com o isolamento social devido à pandemia do novo coronavírus. Mas como manter o autodomínio durante a quarentena?
Primeiramente, é preciso entender alguns conceitos e também como o autodomínio funciona. A psicopedagoga Marisa Bianco explica:
“Quando eu tenho autodomínio, apesar das circunstâncias desfavoráveis que podem surgir em qualquer ocasião, eu consigo não entrar em desespero com essas adversidades, eu consigo organizar meus pensamentos para ver como eu vou, a cada nova circunstância, resolver essas dificuldades. O autodomínio me possibilita que eu continue no meu percurso e não seja regulado pelas alterações da minha emoção e das emoções das pessoas que estão ao meu lado.”
Segundo a psicopedagoga, é comum que as pessoas entrem em um “modo automático” no dia a dia, reagindo às circunstâncias sem que suas reações passem pela regulação das emoções. “Se eu consigo observar cada situação e realmente pensar e regular a emoção, eu continuo tranquilo para dar as respostas àquela situação”, comenta. Ela diz que, para ter o autodomínio, a pessoa precisa ter consciência de sua respiração, seus pensamentos, suas emoções e seu corpo – e que essa consciência pode ser obtida com exercícios simples.
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Entre esses exercícios, está uma meditação diária, que leva poucos minutos. Nos primeiros três minutos, é preciso se atentar à respiração. Depois, mais três minutos são dedicados a se atentar aos pensamentos que surgem. E, por fim, três minutos finais são usados para analisar como os pensamentos influenciaram as emoções. “É necessário fazer isso todos os dias. Depois de uma semana já vou perceber uma diferença de qualidade na minha vida”, diz.
Dicas para pais e filhos trabalharem o autodomínio durante a quarentena
A pandemia do novo coronavírus trouxe alterações de rotina, inseguranças e apreensões. Diante de tudo isso, é possível não perder o autodomínio? Marisa diz que sim. “É um momento muito desafiador e, ao mesmo tempo, enriquecedor. Porque nos faz repensar, ressignificar as nossas vidas. E só conseguimos ressignificar de maneira construtiva, se temos o autodomínio”, declara. Ela traz dicas para manter o autodomínio durante a quarentena – sugestões que servem para os pais e para eles trabalharem com os seus filhos.
Para os pais
Fuja do excesso de informações. É preciso escolher que notícias consumir. “Claro que eu vou me informar sobre os cuidados que eu preciso ter. Mas devo escolher o que eu dou conta de saber. E que me permita continuar com uma qualidade de pensamentos que ajudem minha adaptação a essa situação”, explica Marisa.
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Estabeleça uma rotina. É importante planejar e cumprir uma rotina para manter o autodomínio durante a quarentena. Principalmente quando se está trabalhando de casa. “Você não está de férias”, comenta Marisa. “Você precisa estabelecer um tempo para seu trabalho, para exercícios físicos, para tarefas de casa, para prática pessoal. É para colocar na agenda, mesmo”, afirma. Também determine a agenda das crianças: horários de estudos, que devem ser acompanhados pelos pais, e horários livres. Ainda é preciso definir o momento que os pais brincam com os pequenos.
Tenha disciplina. Se o indivíduo estiver em home office, não há ninguém para regular suas ações. “Eu dependo da minha disciplina. Estou na minha casa e devo trabalhar por quatro ou cinco horas. Neste momento, eu preciso exercer, por mim, a atividade”, diz Marisa. “Tem sido um momento para todos nós estabelecermos mais ainda um critério disciplinar”.
Para pais e filhos
Converse com as crianças. “Explique sobre a interdependência desse momento que nós estamos atravessando. Por que crianças não estão indo à escola e por que pais estão trabalhando em casa”, diz a psicopedagoga. Tudo com linguagem apropriada para cada idade. “A gente começa a conversar com as crianças desde muito pequenininhos, desde bebês. Conforme a criança tem maior entendimento racional, nós vamos sofisticando a conversa”.
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Tenha tolerância com a falta de regulação das emoções. “Para as crianças, a regulação das emoções é mais difícil. Elas ainda não têm esse sistema de regular emoções totalmente desenvolvido”, diz Marisa. Para ela, é muito importante que os pais tolerem os momentos de birra das crianças. “É importante não entrar na indulgência, que é ceder e deixar a criança fazer o que ela quer. Dê o tempo para ela ter seu momento. Só depois mostre que pode entender a emoção do pequeno – mas deixe claro que nem sempre desejos podem ser realizados”, explica.
Cuide de sua atitude. A postura do adulto deve ser interessada e empenhada ao fazer as tarefas escolares com as crianças. “A motivação e o interesse que eu mostro ao acompanhar os estudos dos meus filhos garante quase totalmente que ele vai ser capturado por esse interesse também”, diz Marisa. Assim, os pais ajudam os filhos a também manterem o autodomínio durante a quarentena.
Forme uma parceria com as crianças. Mostre para os pequenos que, apesar da rotina ser diferente, você está lá com eles, estudando, brincando, conversando. E dê a oportunidade de a criança se mostrar parceira também: é possível convidá-la para participar dos trabalhos de casa, por exemplo. “Claro, respeitando as idades”, ressalta Marisa. “Crianças se divertem também com esses afazeres”.
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Reconheça as conquistas. Comemore as conquistas da criança. “Nós até podemos escrever na agenda: ‘hoje eu consegui fazer o meu filho se interessar pela história do Brasil’. E escrever mesmo o depoimento dele. Ir registrando e reconhecendo essas conquistas diárias”, fala a psicopedagoga. Mesmo que a criança ainda não seja letrada, registre e a informe que sua conquista está registrada.
Brinque de meditação. Ensine a criança a meditar como você. “Nós podemos sentar com a criança e brincar de respirar. Fale para a criança observar o movimento da sua barriga ao respirar e ela pode sentar por meio minuto e colocar a atenção nesse processo de respiração. Começa por aí com as crianças, a gente começa brincando assim”, diz Marisa. Também é possível pedir para os pequenos fecharem os olhos por um tempo e depois perguntá-los o que pensaram, o que sentiram, o que tiveram vontade de fazer. “Com brincadeiras, nós vamos praticando com as crianças este autodomínio”, finaliza.
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