4° Congresso de Educação Parental: ‘um marco para a história desse profissional’

Os desafios da profissão do educador parental estavam entre os assuntos abordados neste primeiro dia de evento, que teve palestrantes como Elisama Santos, Maya Eigenmann e Alexandre Coimbra

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Ivana Moreira e Jacquline Vilela, organizadoras do evento
Buscador de educadores parentais
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A educação parental desempenha um papel vital na orientação dos pais quanto à educação dos filhos. E embora os profissionais que atuam nessa área ainda enfrentem muitos desafios, é preciso persistir para conquistar maior espaço e reconhecimento no mercado de trabalho, afirmou o psicólogo Alexandre Coimbra, na palestra de abertura do 4° Congresso Internacional de Educação Parental, iniciado nesta quinta-feira (23), de forma presencial, em São Paulo, e online.

“Estar nesse lugar pioneiro que é o do educador parental implica em passar por angústias, sofrimento e solidão. É um lugar indigesto, mas tesudo, promove um rebuliço na gente”, disse Coimbra. E por mais que os desafios gerem frustração – à qual temos, de um modo geral, dificuldade em lidar, segundo o psicólogo – os educadores parentais não devem se deixar impactar por isso.

“Nós, educadores parentais, somos seres em renascimento. Renasça quantas vezes você precisar, mas lembre-se que raríssimas são as pessoas que nascem sozinhas, a imensa maioria dos humanos precisa de uma equipe e de boa assistência para se apoiar. Que esse dia de hoje, aqui no congresso, seja um marco no renascimento da história de vocês, educadores parentais”, disse o psicólogo e autor de livros como “Toda ansiedade merece um abraço” e “Cartas a um terapeuta”.

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O valor da escuta

O primeiro dia de evento também teve a participação da psicanalista e especialista em comunicação não violenta, Elisama Santos. Ela falou da importância da escuta para o educador parental e de ele estar atento às necessidades das famílias atendidas para, em conjunto, definir estratégias que possam ajudá-las.

“A família que senta com você está te pedindo alguma coisa e a gente precisa aguçar o ouvido para saber o que ela está dizendo. Isso permite inclusive ajustar expectativas e estabelecer uma relação de honestidade. A escuta é a base de tudo”, disse.

Isso requer ouvir os pais sem julgá-los por mais questionável que seja a forma como educam seus filhos. “Se você torce o nariz para a mãe que bateu em uma criança, ela vai embora e não vai procurar mais ajuda. Respeitem isso. Lembrem que a teoria é linda, mas ela não está viva, não paga boleto, não pega ônibus, não enfrenta TPM. O julgamento existe, sim, mas eles falam sobre você, não sobre o outro. O educador tem que observar os seus julgamentos o tempo todo e separá-lo dos fatos”, apontou a comunicadora.

Paternidade e masculinidade

Nesse cenário em que tem crescido o debate sobre a função do educador parental, temas como o papel dos pais e as transformações que a paternidade passou ao longo do tempo também têm ganhado mais espaço.

Camila Holpert, fundadora da Studio Ideias e produtora de eventos como “Homens possíveis” e “Pai: desafio das paternidades atuais”, comentou sobre a transição “lenta” na maneira como homens e mulheres compartilham o espaço doméstico e o tipo de presença que eles têm dentro desse espaço. “Ao longo da história, os homens tiveram poder sobre as pessoas da família, mas nem sempre tiveram presentes de maneira afetiva e saudável. Isso faz parte da maneira como a gente olha para a masculinidade, para o ‘ser um homem’, que também vem cercado de muitas expectativas”, disse Holpert.

Provocar mudanças na paternidade implica em mudar a maneira como lidamos hoje com os nossos filhos meninos. Para Tiago Koch, naturólogo e idealizador do projeto Homem Paterno, “precisamos seguir olhando para as meninas, investir em programas de acolhimento e proteção, entre tantos outras medidas, mas é preciso pensar também no que estamos fazendo pelos meninos”.

Ele diz que faltam caminhos propositivos para as crianças do sexo masculino. “Eles recebem uma enxurrada do que não fazer, mas falta definirmos quais são os ‘sims’ diante desse cenario”, declarou Koch, que também coordena o projeto “Meninos: Sonhando os homens do futuro”, que consiste na realização de uma pesquisa e de um documentário para ouvir especialistas e milhares de meninos de 13 a 17 para entender as suas dores e necessidades.

O painel sobre paternidade contou ainda com apresença do educador parental e colunista da Canguru News, Ton Kohler, criador do perfil @papaiemdobro. Ele lembrou que o cuidado com os filhos não é feminino nem masculino e sim humano. “Quando o homem cuida, ele não navega para o feminino, ele adquire mais habilidades para o masculino”, disse Ton sobre preconceitos comuns associados aos pais.

As feridas que o trauma causa

A pedagoga e educadora parental Maya Eigenmann e a psicoterapeuta e pedagoga Cecília Lauriano encerraram as palestras desta quinta-feira abordando um assunto caro à infância: o trauma.

“Não existe essa de querer mudar sem olhar para a nossa história. A gente precisa entender como somos machucados justamente para não perpetuar essa dor nas nossas crianças. A educação parental tem a missão de reestabelecer esse vínculo de apego seguro entre adultos e crianças. Não tem nenhuma outra profissão que substitua a nossa. O que nós fazemos é profundamente transformador”, ressaltou Eigenmann.

Lauriano citou o neurocientista americano Peter Levine para explicar o que o trauma “não é o que acontece a alguém, mas sim o que o sistema nervoso não foi capaz de processar a respeito do que aconteceu com aquela pessoa”. Ela citou alguns mitos que prejudicam a identificação do trauma, como o fato de não lembrarmos do que aconteceu (e por isso acharmos que ele não existiu) ou porque sobrevivemos ao ocorrido e portanto pensamos que não foi nada grave.

“A gente está em um momento importante de virada do que a gente entende da saúde humana e saber disso é o que me deixa feliz, porque nossa sociedade é formada sobre o trauma, uma vida sem trauma não existe, a vida é orquestrada por desafios e todo mundo, o educador parental, as escolas, todos os lugares precisam ser informados sobre isso, reconhecer, dar nome e saber comolidar com ele”, concluiu a psicopedagoga.

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