Grande parte das redes de ensino estadual e municipal devem retomar as aulas presenciais em agosto, graças ao avanço da vacinação em todo o país e à melhora da situação da pandemia – apesar do aumento de casos em alguns locais devido à presença da variante Delta, que é mais transmissível. Nas escolas particulares, todos os Estados já seguem o modelo híbrido, com aulas presenciais e remotas, desde o ano passado. A diferença é que, em alguns lugares, como o Estado de São Paulo, as instituições públicas e privadas poderão receber todos os alunos juntos, já que o governo estadual autorizou o funcionamento das escolas com 100% de sua capacidade, desde que respeitado o distanciamento de um metro entre os alunos.
Diante desse cenário, quais as expectativas e receios dos pais para esse segundo semestre escolar? As famílias se sentem mais seguras para mandar os filhos à escola, visto que professores, profissionais da educação e adultos, no geral, já receberam ao menos a primeira dose da vacina contra a Covid-19? A Canguru News reuniu depoimentos de alguns dos colunistas, que vivem em diversas capitais brasileiras e têm filhos na educação básica, para saber como eles veem este momento, o que esperam das escolas na volta às aulas presenciais neste segundo semestre e qual a situação da educação no local onde vivem. Confira a seguir.
Veja abaixo mapas com situação da educação por Estados, municípios e rede privada.
Escola é mais que conteúdo
A escritora e arquiteta Bebel Soares, mãe de Felipe, 12 anos, que é mineira mas vive na capital paulista, conta que as aulas na escola do filho foram retomadas nesta quinta-feira (29), porém, somente na segunda (2) serão presenciais. Ao refletir sobre o assunto e ouvir do filho “mãe, sabe o que me estimula? A aula presencial”, ela decidiu que ele voltará à escola. “Pudemos escolher se vamos mandar nossos filhos para a aula presencial ou não. Escolhi mandar depois de pesar prós e contras”, afirma Bebel. Ela diz que interferiu na decisão também o fato de já ter recebido as duas doses da vacina, do marido receber a segunda dose em setembro e da previsão do próprio Felipe ser vacinado ainda no segundo semestre. “Sabendo de todas as perdas pela falta de socialização e conhecendo os protocolos do colégio, decidimos mandar ele. Escola é muito mais que conteúdo.”
Maior interesse pelo presencial
Para a psicóloga Andrea Romao, mãe do Rafael, 11 anos, a expectativa é que o filho, que estava no sistema híbrido, indo para a escola em semanas alternadas, se interesse mais pelas aulas. “Ele prefere as aulas presenciais porque consegue prestar mais atenção. Para ele, foi uma adaptação difícil fazer as aulas online. Espero que ele se envolva mais agora com as atividades da escola presencialmente”, comenta Andrea, que mora com o filho em São Paulo.
Um espaço para aprender, socializar e criar memórias felizes
A biomédica e educadora parental Telma Abrahão, que reside na Flórida (EUA), mas passou parte da pandemia no Brasil, diz que desde fevereiro os filhos Lorenzo, 7 anos, e Louise, 5, frequentam a escola em São Paulo, e sempre se sentiu segura quanto a isso. “A gente nunca teve medo de levar as crianças para a escola, eu e meu marido somos muito seguros de que criança tem que ir para a escola. Acompanhamos estudos feitos em outros países, que mostram que a transmissão entre crianças é baixa, e que elas são mais resistentes ao vírus”, comenta Telma.
Ela conta que o retorno à escola foi tranquilo. “Meus filhos usavam mascaras e sabiam do vírus, mas eu evitava ficar falando de mortes e deixar a televisão ligada na frente deles, e eles amaram voltar para a escola. Vamos retornar para os Estados Unidos e agosto e a expectativa é que eles voltem à escola lá também, que estará no início do ano letivo, e possam curtir, socializar, aprender, fazer amigos, se sentir bem no ambiente onde estão, confiar nos professores e criar memórias felizes”, analisa a educadora.
Expectativa de menos pressão sobre as crianças
Em Curitiba, a especialista em educação tecnológica para crianças, Luciana E. Correa, mãe de Arthur, 10 anos, diz esperar que com a volta às aulas presenciais, a escola foque mais no emocional do que em conteúdos pedagógicos. “Minha expectativa é que a escola seja um lugar de mais acolhimento e menos cobrança. Estou tranquila em relação aos protocolos de segurança e otimista, pois quando todos os funcionários forem vacinados pela segunda dose acredito que poderemos respirar um pouco. Acho que essa pandemia tem colocado pressão demais nas crianças. Elas vêm sendo quase que punidas por não poder se vacinar”, reflete a colunista.
Mais alegria com a volta às aulas presenciais
Em Belo Horizonte, o economista Carlos Eduardo conta que para o segundo semestre imaginava uma normalidade maior na vida escolar dos filhos. “Maria Eduarda já estava em um misto de aulas remotas e presenciais, com somente metade da turma em dias alternados, e até agora a escola não sinalizou nenhuma mudança em relação a esse formato. Para ela foi muito importante poder retornar à escola. Ela começou a pandemia com 11 anos, fez 12 e depois fez 13 anos, seu corpo está mudando e ela está longe das amigas, que estão todas crescendo deixando de ser crianças para serem moças. Ela sentiu muito o isolamento. A volta às aulas presenciais a deixou mais alegre”, relata Carlos Eduardo.
Sobre o filho caçula, João Pedro, 4 anos, Carlos Eduardo diz que ele está com aulas presenciais na educação infantil desde o início do ano, com sistema de bolhas em número de alunos controlado. “João adora a escola e os amigos e a escola tem sido essencial no processo de socialização e aprendizagem. Nós sabemos o quanto isso é importante, desde que as aula voltaram, deixamos nosso filho ir, seguindo os devidos cuidados, mas sabendo da importância de frequentar a escola, ainda mais que ele está iniciando o processo de alfabetização e isso de forma online seria muito mais difícil”, aponta o economista.
Durante maior parte do primeiro semestre, somente escolas de educação infantil da capital mineira puderam reabrir. Recentemente é que foram autorizadas as aulas presenciais para turmas do ensino fundamental.
Quatro filhos no online, sem previsão de retorno
Outra colunista de Belo Horizonte, a escritora Sheila Trindade explica que os quatro filhos estudam em escola pública e estão com aulas remotas sem previsão de volta às aulas presenciais. As atividades na escola iriam começar agora em agosto, porém, os professores anunciaram greve por tempo indeterminado, até que recebam a segunda dose da vacina. “Meus filhos vão voltar para a escola assim que possível. O ensino online tem sido um desafio para mim. A minha filha Luiza está com 8 anos e não consegui fazer com que fosse alfabetizada a distância, mesmo tendo o privilegio de ter internet em casa. Meu filho menor, João, 3 anos, também acho que teve o desenvolvimento prejudicado por não estar frequentando a escola”, analisa Sheila que é mãe também de Samuel, 11 anos, e Bernardo, 9.
Para a escritora, a reabertura das escolas deveria ser prioridade do governo. “Acho um absurdo as atividades de serviço e comércio estarem abertas e a escola, que é essencial, não. Meus filhos estão com várias atividades atrasadas, não consigo deixar as tarefas em dia, e sofro pressão por isso, só que eu não tenho as estratégias que as professoras têm para ensinar, e ainda preciso trabalhar, está sendo muito difícil para mim. Acho que as pessoas não estão pensando nas famílias, nas crianças e principalmente nas mulheres, cuja carga de trabalho é muito maior”, queixa-se Sheila.
Abaixo, veja situação do ensino nas redes estaduais, municipais e particular em todo o Brasil. As informações são de um levantamento realizado pela consultoria Vozes da Educação.
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