Com os filhos de férias e tempo livre de sobra, muitos pais acabam fazendo uso de recursos tecnológicos para entretê-los, ainda mais aqueles que seguem trabalhando normalmente. Embora essas ferramentas sejam vistas quase sempre como “inimigas”, pelos prejuízos à saúde que podem causar, é possível usá-las de forma positiva neste período, desde que haja consciência e responsabilidade, tanto pelos adultos como pelas crianças. A afirmação é dos autores do livro recém-lançado “Crianças Bem Conectadas: como o uso consciente da tecnologia pode se tornar um aliado da família e da escola”.
A obra foi escrita pelos psiquiatras Daniel Spritzer e Laura Moreira, as psicólogas Juliana Potter e Aline Restano, e o pesquisador e coordenador do Laboratório de Humanidades Digitais da PUC-RS, Bernardo Bueno. Eles refletem no livro sobre a presença dos meios eletrônicos na vida das crianças e como usá-los de forma benéfica e segura, chamando atenção ainda para o exemplo dos pais e a relação que estes têm com as telas.
De acordo com Daniel Spritzer, o livro traz “uma abordagem que reúne as evidências científicas com a experiência clínica e os princípios fundamentais do desenvolvimento de crianças e adolescentes”.
Estabelecer horários, locais e regras para o uso de eletrônicos é um dos primeiros passos para o uso saudável das telas pelas crianças e pelos adultos.“É a partir dessa relação que meninos e meninas vão construir os valores em que vão ancorar os comportamentos futuros”, relata Juliana Potter.
Também é fundamental que os combinados sejam mantidos e valham para todos ‒ adultos e crianças. “Evitar os eletrônicos durante as refeições e limitar o uso no final do dia e à noite, para preservar a quantidade e a qualidade do sono das crianças, é importante nas férias”, salienta Laura Moreira.
Ela diz ser esperado que o consumo de mídias digitais aumente nesta época em relação aos períodos letivos, mas, ainda assim, é preciso garantir um uso equilibrado. Isso quer dizer que, além do uso de telas, as crianças precisam dormir bem e ter tempo de qualidade para conviver com a família e os amigos, brincar e praticar esportes, explica.
Se o dia estiver chuvoso, tudo bem a criança passar mais tempo jogando e vendo filmes na TV, desde que no dia seguinte outras atividades sejam priorizadas, como jogar bola, brincar ao ar livre, desenhar, passear, jogar cartas ou andar de bicicleta, destaca a psiquiatra. Ela acrescenta que “a ideia é que o uso dos eletrônicos não assuma o espaço de outras atividades importantes para o desenvolvimento infantil. Até mesmo o tédio, que pode ser um bom estímulo para a criatividade, precisa ter o seu lugar”.
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Uma forma de estreitar vínculos em família
Segundo os especialistas, jogos e outros recursos online não precisam ser considerados vilões, desde que sejam usados na faixa etária correta, estimulem as interações em equipe, o desenvolvimento de estratégias e, principalmente, haja cautela com possíveis prejuízos causados nas demais áreas da vida.
A tecnologia pode, inclusive, significar uma oportunidade de conexão em família. “Pais podem pedir aos filhos que os ensinem seu jogo favorito, ou podem assistir juntos a um vídeo que a criança goste”, destaca Laura. Ela diz que os pequenos ficam felizes ao perceber o interesse dos pais por suas atividades “e isso aproxima, fortalece laços, melhora a relação de confiança e oferece ganhos que se estendem por toda a vida”.
Classificação indicativa em jogos*
Outra medida simples, mesmo com a flexibilidade da rotina, é estar atento à classificação indicativa dos conteúdos acessados. Abaixo, veja a idade indicada para alguns dos jogos mais populares entre as crianças.
- Minecraft – livre
- Roblox – 7 anos na Europa e 10 anos nos EUA
- Brawl Stars – 9anos
Hogwarts Legacy – 12 anos
Veja aqui indicações etárias de outros jogos.
Fonte: @criancasbemconectadas.
3 dicas para se aproximar dos filhos por meio da tecnologia
Auxilie na busca de aplicativos: Se o seu filho se interessa por desenho, música ou qualquer outra atividade, aproveite as férias para ajudá-la a encontrar um aplicativo que contribua para o seu desenvolvimento ou até mesmo com a pesquisa sobre a área que ele gosta.
Conheça os jogos que seu filho brinca: Aproveite o tempo menos corrido para saber quais são os jogos que as crianças gostam, os avatares utilizados e com quem estão jogando. A conversa pode ocorrer em ocasiões como as refeições, por exemplo.
Utilizem juntos: As férias são o momento ideal para o uso de telas em conjunto com as crianças, seja jogando com os amigos ou assistindo um filme em família.
Exemplo dos pais
Os autores lembram que as crianças são experts em reproduzir o comportamento dos pais e por isso eles devem ficar atentos ao exemplo que dão em casa. Segundo os especialistas, a cada momento que não estamos verdadeiramente conectados com os filhos por estarmos na frente de telas, estamos plantando uma semente em seu padrão de relacionamento futuro, daí a importância de nos conscientizarmos do nosso próprio uso e do uso dos nossos filhos.
Para Bernardo Bueno, é preciso aceitar que não é possível mais escapar da tecnologia digital no dia a dia, principalmente para a nova geração, que já nasce em um mundo conectado. “Precisamos aprender a como conviver neste mundo digital e conectado, e discutir sobre os problemas e soluções em decorrência desta nova realidade”, destaca.
A psicóloga Aline Restano reforça que não tem como falar de tecnologia para crianças, sem ajudar os adultos a melhorarem sua relação com ela. “Somos a primeira geração de pais que precisa pensar no uso feito pelos filhos da tecnologia digital. Não temos referências da nossa própria infância ou adolescência sobre como lidar ou como não lidar. E como pais e profissionais é importante que possamos receber ajuda”, completa.