‘Trabalhar a educação financeira tem impacto no presente, mas muito maior no futuro das crianças’

Em masterclass para educadoras parentais do Clube Canguru, o economista Carlos Eduardo Costa falou sobre a importância de ter uma relação saudável com o dinheiro ao longo de toda a vida

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Mãe e pai estão sentados em mesa com papéis e laptop e os filhos estão junto a eles
Crianças devem aprender a lidar com dinheiro desde cedo, diz o especialista
Buscador de educadores parentais
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Você conhece alguém que aparentava ter uma boa condição financeira, possuía muitos bens e, de uma hora para outra, se endividou e passou por um grande aperto? Ou tem um amigo que é sempre muito contido nos gastos, mas conseguiu comprar um imóvel, fazer uma viagem ou outras coisas bacanas? Os rumos que a nossa vida segue dependem das decisões que tomamos, seja em âmbito financeiro ou em outras áreas, como a pessoal ou profissional, afirma o economista e colunista da Canguru News Carlos Eduardo Costa. “A nossa vida é uma sucessão de escolhas e é importante que a gente as faça de forma consciente para que impactem positivamente o nosso dia a dia”, diz ele. 

Durante masterclass online para educadoras parentais que fazem parte do Clube Canguru, realizada no sábado (03), ele ressaltou o papel da educação financeira como uma ferramenta que ajuda a fazer escolhas mais adequadas às nossas limitações, levando em conta também nossos sonhos e objetivos.

“A educação financeira é importante para qualquer pessoa, independentemente da renda, porque todos nós temos o mesmo dilema para tentar equilibrar desejos e recursos.”

Para ilustrar o assunto, Carlos Eduardo recordou o poema Ou isto ou aquilo, de Cecília Meireles que fala justamente sobre a necessidade das escolhas:

— Ou se tem chuva e não se tem sol, ou se tem sol e não se tem chuva! (…)
— Ou guardo dinheiro e não compro o doce, ou compro o doce e não guardo o dinheiro.

Ele também deu o exemplo da balança, em que temos, de um lado, o prato do que queremos fazer, comprar, conhecer, e, do outro lado, o prato onde estão os nossos bens e capital. “Os desejos são ilimitados e os recursos limitados, portanto só há um caminho a seguir, fazer escolhas.”

Esse porém não é um hábito comum. Falar de dinheiro ainda é algo mal visto pela sociedade. Segundo pesquisa do Instituto Mindminers, 54% dos brasileiros consideram o dinheiro um tabu. Ao mesmo tempo, 58% gostariam de falar mais sobre o tema. 

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Educação financeira começa na infância

Embora prevista como disciplina obrigatória nas escolas de educação básica, em casa, as famílias pouco falam sobre dinheiro com as crianças, o que é um erro. Para Carlos Eduardo, diferentemente das antigas gerações, os filhos hoje participam ativamente da vida financeira familiar e trabalhar com eles noções de valores, dar uma mesada e definir objetivos para o que recebem é fundamental para que entendam o significado das finanças. 

Explicar às crianças qual é a nossa profissão e mesmo levá-las lá um dia para que conheçam o espaço onde trabalhamos faz com que compreendam como ganhamos dinheiro. Da mesma forma, o especialista diz ser importante atentar para a quantidade de presentes que damos aos filhos, dando a falsa impressão de que é fácil sair comprando um brinquedo atrás do outro. O que dificulta até para criar vínculos com os objetos porque mal a criança se acostuma com um e já chega outro para substituí-lo.

À medida que os filhos adquirem certa maturidade e ganham experiência com as escolhas, estabelecer uma mesada faz com que criem hábitos saudáveis com o dinheiro, o que terá impacto ao longo de toda a vida. “Trabalhar a educação financeira é importante para o presente, mas tem um alcance muito maior no futuro, para que encontrem seu caminho e sejam felizes.” Inclusive, complementa o especialista, a educação financeira serve para mostrar aos filhos que muita coisa na vida não depende do dinheiro. “Que nada paga ou substitui os momentos que a gente pode ter com os filhos. É preciso dar ao dinheiro a importância que ele tem, não mais nem menos.”

Famílias não fazem um planejamento financeiro

Para ensinar aos filhos a lidar bem com o dinheiro é preciso que os pais deem o exemplo. Na prática, porém, muitas famílias não tem uma boa relação com o dinheiro e não são organizadas financeiramente. Pesquisa realizada pela Leve, fintech de educação financeira, mostrou que metade dos brasileiros não sabe fazer um planejamento financeiro.

Uma das etapas para um bom planejamento, segundo o economista, é fazer um registro com todos os gastos e ganhos , incluindo receitas como salário e outros, e despesas obrigatórias, como aluguel, condomínio, escola, telefone, supermercado, e não obrigatórias, como financiamentos, obras, lazer, presentes etc.

“Esse controle é para que no final do mês, possamos saber qual o gasto efetivo que temos com cada coisa e avaliar, por exemplo, se há um gasto exagerado com supermercado que exige mudanças de hábitos.”

Além de conhecer a situação financeira atual, o economista disse ser necessário também estabelecer metas e determinar estratégias para alcançar as metas.

Para manter as contas em dia, ele destacou a importância da qualificação para melhor aproveitar as oportunidades que o mercado oferece. Falou também da possibilidade de transformar alguma habilidade em renda extra, e ainda das pessoas pensarem em formas de diminuir as despesas.

Infidelidade financeira

Estar de bem com as finanças é uma maneira, inclusive, de manter uma boa relação entre o casal. Estudos apontaram que o endividamento é um dos aspectos que pode levar a brigas e a um comportamento de infidelidade financeira – quando um dos parceiros esconde dívidas, mascara gastos ou mesmo omite investimentos e reservas de dinheiro, por exemplo. 

Uma pesquisa feita entre usuários da Ashley Madison – um site de relacionamento entre pessoas casadas com mais de 65 milhões de usuários em todo o mundo – revelou que mais da metade das pessoas (52%) acredita que a infidelidade financeira é tão ruim ou pior do que questões físicas e emocionais. 

Outro levantamento, do site Today.com, revelou que quase metade das pessoas mente para os parceiros quando o assunto é dinheiro e isso é considerado um tipo de infidelidade. De acordo com a pesquisa, 33% das pessoas disseram acreditar que a infidelidade financeira leva à infidelidade sexual.

“A saída é simples, o diálogo. Não existe fórmula única, cada casal vai encontrar o seu jeito, uma forma de colocar o assunto do dinheiro na mesa”, concluiu Carlos Eduardo.

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