A maternidade é feita de fases. Muitas vezes até sabemos disso na teoria, mas na prática esquecemos e ficamos lutando batalhas que não vamos vencer. Isso pode ser um problema no nosso dia a dia. Um problema que rouba a nossa energia e nos prende. Ficamos ali, muitas vezes repetindo algo que não funciona, sem sair do lugar. Chamo isso de fazer mais do mesmo.
E sabe por que não funciona? Porque é uma fase. E uma fase a gente não muda, não resolve, não pula, a gente maneja. Fase é como um ritmo biológico, etapas do desenvolvimento e toda as crianças vão passar por elas. O crescimento do seu filho se dá passo a passo, num ritmo que é adequado a cada idade.
Por exemplo, seu filho não pode pular adolescência, você não pode fazer que os primeiros três meses de vida passem mais rápido aí na sua casa, também não dá para acelerar as noites mal dormidas do primeiro ano de vida. Vamos sim, ter bebês enjoadinhos na fase dos dentes nascendo, a fase da criança engatinhando que não pode ficar sozinha por meio minuto, aquela fase que a criança parece a nossa sombra e as nossas idas ao banheiro nunca são solitárias.
A verdade é que tudo isso se torna mais pesado quando uma mãe tenta lutar contra uma fase da criança. No consultório, escuto frases assim: “Eu preciso fazer ela dormir a noite toda.” “Ele tem que aprender a dividir os brinquedos”, “Ela precisa parar de me
chamar o tempo todo!”, “Ela precisa aprender a brincar sozinha.”
E me vejo repetindo explicações parecidas, para tantos pais diferentes: “Olha, a maioria dos bebês com 6 meses de idade não dorme a noite inteira.” ou “Tem uma fase que a criança ainda não consegue partilhar os brinquedos” e ainda “É assim mesmo, sua filha vai passar um tempo chamando você o tempo todo e ainda não sabe brincar sozinha”.
São questões que não temos como mudar. Não podemos pular, nem acelerar essas fases do desenvolvimento. Mas saber disso é a ferramenta mais poderosa que podemos ter para alinhar a nossa expectativa com a realidade.
Uma das coisas que mais atrapalha a nossa maternidade, é ter expectativas equivocadas. Esperar coisas dos nosso filho, que eles ainda não são capazes de fazer. E por muitas vezes ficamos ali, insistindo, repetindo, brigando, fazendo mais do mesmo para mudar algo que não vai mudar.
Quando as nossas expectativas estão desalinhadas da fase que a criança está vivendo, nos sentimos numa montanha russa cheia de loopings de frustração, cansaço, esforço, raiva, desespero, desesperança, e muitas vezes ficamos paralisadas.
Lembro de uma fase muito difícil da minha filha, a fase das otites. A primeira foi aos 6 meses de idade e a última aos 3 anos! Foram inúmeras noites mal dormidas, vigiando febre, esquentando uma bolsinha térmica para aliviar a dor, horas de colo no meio da madrugada.
Passamos um tempo os dois exaustos, dias sem dormir, inventando mil estratégias para a próxima noite ser melhor e nunca era. Além de cansados, ficávamos frustrados. Até que um dia, no meio de uma madrugada, meu marido colocou um edredom no chão ao lado do berço da Clara, jogou umas almofadas por cima e me disse: Ninguém dorme há dias, hoje você vai dormir e eu vou passar a noite aqui. Amanhã eu durmo e você cuida dela.
Tentei argumentar que aquela noite seria melhor, que ele não precisava ficar lá a noite inteira. Ele não cedeu. Então, eu cedi. “Ok! Vai ser uma outra noite difícil, você fica hoje, eu fico amanhã.” E eu depois de quase uma semana, eu dormi uma noite toda. Nesse dia, nós aceitamos que aquela era uma fase. Uma fase ruim, cansativa, que não dava para pular. Mas só quando entendemos isso, conseguimos lidar e manejar o problema de um jeito mais eficiente. Providenciamos um colchãozinho para colocar no quarto dela e mudamos os status de pais que não dormiam nunca, para pais que dormiam uma noite sim e a outra não! Kkkkkk
Agora, a gente ri dessa história, mas aceitar que não tínhamos o controle, nos fez tomar uma atitude de manejo da situação e sair do looping da frustração.
Enquanto estamos vivendo uma dessas fases dos nossos filhos, e não reconhecemos, nem aceitamos que é uma fase, corremos o risco de ficar só brigando com ela. Entramos num cabo de guerra e ficamos lá para sempre, exaustos, cambaleantes, mas continuamos fazendo força e não largamos a corda.
Nessa noite, paramos de brigar, soltamos a corda. Aceitamos que quando vinha uma outra otite, teríamos algumas noites difíceis pela frente, mas até aquela fase passar, o nosso foco era: hoje quem vai dormir a noite toda?
E assim sobrevivemos!!
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