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Sobrecarga mental: precisamos querer menos, de cada vez

Três filhos com idades entre os 3 e os 12 anos. Três horários escolares decorados. Três horários de atividades extra-curriculares na cabeça. Três filhos em fases totalmente desafiantes. Três uniformes para gerir. Três roupas de esportes para confirmar se estão bem feitos. Necessidade de estar perto do mais velho, afinal é uma idade importante. Necessidade de estar perto do mais novo, afinal ainda não sabe algumas coisas e tem passado por uma fase de choro fácil. O mais novo lá se vai arranjando, mas tenho de ter cuidado porque já ouvi falar muito do síndrome do filho do meio. Diante dessa rotina, a sobrecarga mental é inevitável.
Cabeça voa rápido para o fato de, dali a duas semanas ser, simultaneamente, o aniversário de casamento – 15 anos – e os 72 anos do pai. Com o confinamento não vai haver encontros, mas é necessário fazer uma festa virtual, com surpresas e já não sei em que bloco de notas do celular anotei as ideias.
Consegues respirar ou orientar-te depois de leres a descrição acima? É parecida com a tua? Não faz grande diferença ter-se um filho a mais ou a menos que a Teresa (vamos chamá-la assim). Quem é que consegue decorar dois horários por cada filho, saber o que tem na geladeira, pensar nos aniversários, na renovação da anuidade das aulas de natação do filho do meio e que o mais
velho voltou a crescer e os seus jeans já mostram o tornozelo (parece que está na moda), sem se esquecer de ir buscar um deles sempre nos horários certos? Poucas pessoas, com certeza – porque a meio do percurso fica impossível e a gente esquece ou/e não da conta. Mas continua sobrevivendo porque um dia isto termina e temos de aproveitar – é o que nos dizem, e a gente acredita.
Deitamo-nos, exaustos, tendo a impressão que fomos atropelados pela vida. Dormimos cada vez menos, a correr, em alguns dias. Uns dias conseguimos cumprir com os objetivos e percebemos que não sobrou mais nada: nem energia, nem tempo para mais nada. Outros dias, vamos deitar-nos pensando: esquece, deixa para amanhã! Tem dias em que somos múmias ambulantes.
Costumo dizer que “podemos ter tudo, só não podemos ter tudo ao mesmo tempo.” E nessa esfera da nossa vida, na parentalidade, é igual. Esta foi uma das grandes aprendizagens que tornar-me mãe me ensinou. Sou aquela pessoa que quer agarrar o mundo com os braços e que tem uma energia que parece infinita, mas só parece. Neste estilo de vida corrida que muitos ainda vivemos, aprendi que se quero passar bem pela minha vida, preciso de querer menos de cada vez. E mais devagar. Porque os dias estão carregados, e a minha mente estava sobrecarregada.
Costuma-se dizer “You live, you learn”, ou seja, vivemos e aprendemos. Mas se não aprendermos estas coisas que fazem uma diferença esmagadora na nossa qualidade de vida, então passaremos sem aproveitar. De que valeu a sobrecarga mental, então?
Vamos pensar melhor no que andamos aqui a fazer e como andamos a fazê-lo?
Leia também: ‘A sobrecarga materna já é grande e agora está no nível máximo’, ressalta Bebel Soares
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Magda Gomes Dias
Magda Gomes Dias, 44 anos, tem dois filhos: Carmen, 12 anos, e Gaspar, 9 anos. É natural do Porto, Portugal, e fundadora da Escola da Parentalidade e Educação Positivas, onde oferece programas de certificação e especialização na área. Autora do blog 'Mum's the boss', escreveu os best-sellers 'Crianças Felizes' e 'Berra-me Baixo', além do livro 'Para de Chatear a Tua Irmã e Deixa o teu Irmão em Paz'.
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