Quem está acompanhando as Olimpíadas de Tokyo 2020 já conseguiu presenciar várias competições emocionantes. Inclusive, nesta semana ocorreram as finais de skate, modalidade olímpica nova, que trouxe momentos memoráveis. Entre eles, destaca-se a vitória da skatista Rayssa Leal, conhecida como Fadinha, que conquistou a medalha de prata. O que chama atenção sobre a garota, além do seu talento, é a sua idade. Com apenas 13 anos, a Fadinha já é vice-campeã olímpica, tornando-se a atleta brasileira mais jovem a subir ao pódio e a sétima medalhista mais jovem de toda a história dos Jogos Olímpicos de Verão.
Mas Rayssa não é a única que espanta pela pouca idade, Momiji Nishiya, skatista japonesa, levou a medalha de ouro e também tem somente 13 anos. O skate street feminino – que é como se fosse o skate de rua na pista, com obstáculos como corrimões, escadarias e paredões – teve a formação de pódio individual mais jovem das Olimpíadas, com média de idade de 14 anos. Atualmente, a World Skate, órgão regulador mundial dos esportes de skate e patins, não impõe limite de idade em suas competições. Um argumento utilizado para defender a liberdade da faixa etária é que a limitação poderia atrapalhar o desenvolvimento da modalidade.
Especialistas do skate concordam que não existe uma idade mínima para começar a praticar o esporte. “O skate ou longboard pode ser aplicado a crianças como forma de brincadeira a partir de qualquer idade, mas claro que com observação dos responsáveis”, aponta Reiton Roger, conhecido como Rei, professor de skate longboard há mais de 6 anos. Essa modalidade de skate usa pranchas maiores e mais estáveis, que permitem atingir maior velocidade. Lucas Araújo, sócio-administrador da Curitiba Skate Park e entusiasta do skate há 28 anos, acrescenta que também não existe uma idade recomendada para começar, tudo vem da própria criança: “Temos exemplos de grandes skatistas que subiram pela primeira vez no skate com 2 ou 3 anos, de forma absolutamente lúdica. O que conta mais é a afinidade da pessoa com o carrinho”.
No entanto, com a introdução do skate como modalidade das Olimpíadas e a possibilidade do aumento de participantes menores de idade, o Comitê Olímpico Internacional discute estabelecer uma idade mínima para eleger os competidores nas próximas edições.
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Por que as crianças se interessam tanto pelo skate?
“O skate proporciona muita diversão e, na sua maioria, é praticado por jovens, o que faz com que as crianças acompanhem e se inspirem, além de ser inclusivo e de fácil acesso”, diz Reiton Roger. A questão da acessibilidade e integração também é destacada por Lucas Araújo.
“Crianças que estão dando os primeiros passos no skate sempre têm a possibilidade de conviver com seus ídolos nas pistas de skate, pois dividem o mesmo espaço no dia a dia, o que não existe em outros esportes. Isso cria um ambiente em que a criança pensa: ‘não é tão impossível assim chegar onde eles estão e fazer o que eles fazem’”, destaca Lucas.
Segundo ele, atualmente, o auge dos skatistas está na casa dos 20-25 anos, mas cada vez com mais competidores mais novos. No entanto, tudo depende das condições em que a pessoa é inserida: acesso às pistas, aos equipamentos e a convivência com outros skatistas que os inspirem. Lucas Araújo destaca que, desde que tenham meios, oportunidades e se permitam evoluir, o skate pode ser interessante para todas as idades.
Segurança na pista
Especialmente com as crianças, é preciso ter um cuidado extra com a segurança, já que elas ainda estão desenvolvendo a consciência corporal e o skate é um esporte radical que envolve muitas quedas. Segundo Reiton Roger, é recomendável que os pequenos skatistas utilizem capacete, para evitar possíveis lesões cranianas; cotoveleiras, porque é uma área que pode sofrer bastante com as quedas; joelheiras, para proteger as articulações que costumam ser lesionadas com cortes e ralados; e protetor de punho (munhequeira), para evitar torções ou machucados nas mãos.
“Os protetores de punho são muito bem vindos, pois as primeiras quedas geralmente nos levam a cair de joelhos e apoiar as mãos no chão, inclusive, costumamos ensinar os alunos a caírem assim, é a maneira mais segura de escapar de uma manobra mal sucedida”, completa Lucas Araújo. Para o skate de transição, que envolve rampas e manobras mais radicais, o protetor de quadril é bastante utilizado, mesmo por atletas de alto nível, pois é comum cair com a lateral do corpo, podendo machucar a bacia e a coxa, explica o especialista. “Para se ter um parâmetro, skatistas que andam na mega rampa utilizam tudo isso e mais acessórios como protetor de coluna, luvas e camisetas para evitar que o corpo fique exposto e ‘queime’ caso escorregue na rampa em alta velocidade”, adiciona.
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Mesmo com todos os riscos do esporte, aqueles que assistiram devem ter reparado que Rayssa Leal, assim como as outras competidoras menores de idade, é obrigada a utilizar o capacete, mas os competidores com mais de 18 anos, não. “O equipamento é obrigatório para as crianças devido à proteção da integridade física delas, mas os adultos têm o equipamento como opcional, porque às vezes pode atrapalhar nos movimentos e eles já são responsáveis pelo próprio corpo”, explica Reiton Roger.
Lucas Araújo indica que o uso de equipamentos é bastante controverso e polêmico, uma vez que o skate nasceu da liberdade de não ter regras. “Para crianças que estão começando, sempre recomendamos o uso de equipamentos, pois o skate pode machucar seriamente. Já num ambiente de competição, existe a discussão de que pessoas que usam equipamento tendem a fazer manobras mais arriscadas por estarem se sentindo mais seguras, mas que perdem um pouco do ‘estilo’ por estarem todas paramentadas”, aponta.
Benefícios de praticar skate
De acordo com Reiton Roger, um dos maiores benefícios do skate é o fato dele proporcionar um estilo de vida aos praticantes, movimentando a cultura, a música e a arte. Lucas Araújo concorda com este pensamento: “É comum skatistas torcerem o nariz quando escutam as pessoas chamando o skate de esporte e o skatista de atleta. O skate envolve muito mais do que campeonatos e notas, ele dita moda, envolve música, comportamento, expressão corporal e personalidade. É algo realmente único”.
O especialista destaca que as crianças podem se tornar mais seguras consigo mesmas e com suas capacidades, a prática do skate pode ser muito benéfica para a consolidação da autoconfiança de cada uma. “A criança se desafia e aprende os próprios limites, mas ao mesmo tempo se inspira e busca a evolução, mesmo que não seja esportivamente”, aponta Lucas Araújo.
A prática traz ensinamentos sobre persistência e também contribui muito para o desenvolvimento de competências sociais e para o aprendizado do conceito de cidadania, explica Reiton Roger. Além disso, pode agregar habilidades cognitivas. “A criança aprende mais sobre a coordenação motora das pernas, do abdômen e dos braços, aprende a cair e se prevenir de quedas. Andar de skate acaba proporcionando um preparo físico adequado para que a criança possa brincar e ter um desenvolvimento melhor, incluindo para outros esportes”, afirma o professor.
Além de tudo, Lucas Araújo aponta que o skate pode abrir portas para outras áreas profissionais. “Dentro do mesmo universo temos inúmeros exemplos de pessoas que, a partir do skate, se tornaram fotógrafos, cinegrafistas, produtores de eventos, empresários, donos de marcas de roupas e equipamentos, educadores e preparadores físicos. O skate traz opções inacreditáveis para pessoas que, muitas vezes, não teriam tantas opções assim pela frente”, relata.
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Manobras mais conhecidas
O skate apresenta o próprio vocabulário para denominar as manobras. Quem assistiu a Fadinha nas Olimpíadas deve ter ouvido as palavras “backside” ou “kickflip”. A Canguru News preparou um pequeno glossário com a explicação das manobras mais famosas para conhecer um pouco do mundo do skate. Confira:
Backside
Manobra realizada de costas para os obstáculos.
Ollie
Saltar com o skate, tirando-o do chão.
Grab
Grupo de manobras que consiste em segurar a prancha do skate.
50/50
Quando o skate aterrissa em um corrimão usando os “trucks” (parte que liga as rodas com a prancha).
Kickflip
Fazer o skate girar lateralmente no seu próprio eixo.
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Onde aprender a andar de skate
Se as Olimpíadas despertaram o interesse dos pequenos em praticar skate, os profissionais recomendam que eles persigam este caminho e se aventurem pelo esporte. “Sejam persistentes, a evolução no skate é como subir uma escada, cada degrau é uma evolução e cada evolução deve ser comemorada, procure um instrutor ou professor e se divirtam”, diz Reiton Roger. Conheça alguns lugares para começar a aprender a se equilibrar sobre a prancha e as quatro rodinhas em São Paulo.
Bowlhouse
O espaço oferece pista com bowl, mini ramp, além de lanches. É também uma escola de skate para crianças e adultos e uma skate shop.
Valor: aulas a partir de R$60,00.
Localização: R. Morgado de Mateus, 652 – Vila Mariana
Mais informações: http://www.bowlhouse.com.br/portal/
Red Beach
Loja de equipamentos e acessórios, além de ter duas pistas para prática do esporte e oferecer aulas.
Valor: aulas a partir de R$15,00.
Localização: R. José de Almeida, 1469 – Vila Medeiros
Mais informações: https://www.instagram.com/redbeachaulasdeskate/?hl=pt
Skate City
Pistas de skate cobertas, com 4 bowls, 2 mini ramps e 2 áreas de street.
Valor: aulas a partir de R$20,00.
Localização: Rua Jaraguá, 627 e Rua coronel Albino Bairão, 356
Mais informações em: https://www.skatecity.com.br/
Anima Skate Camp
Lugar ideal para quem gosta de skate e natureza. Espaço amplo com pista com bowl, pump track com snake e área street em volta.
Valor: entrada R$15,00 e camp R$30,00.
Localização: Estrada de Itapeva, 1100, Araçoiaba (aproximadamente 115 km de São Paulo).
Mais informações em: https://www.instagram.com/animaskatecamp/
Parque Ibirapuera
O parque Ibirapuera é um dos locais mais clássicos para andar de skate na cidade, com áreas delimitadas para a prática do esporte. Reiton Roger costuma dar aulas de skate neste local.
Localização: Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, Portão 10, Vila Mariana
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