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Você enxerga seu filho?
Ouvindo uma adolescente me contar o que mais a encantou na saga “ Harry Potter”, minha imaginação começou a divagar. Ela me disse que gostaria muito de ter a tal capa dele, que o tornava invisível.
Fiquei imaginado a tal sensação. Deve ser muito bom poder presenciar coisas sem ser percebido. Poder transitar sem que ninguém perceba a sua presença.
Outra invisibilidade que me encanta é a das amizades que vão se constituindo no mundo virtual. Tenho seguidores aqui que não tenho a mínima ideia de quem sejam. Mas gostam de mim e do meu trabalho. Sem contar os amigos das redes sociais. Esses são os aspectos positivos da invisibilidade.
Mas, a invisibilidade tem lá seus aspectos negativos. Sentir-se invisível sem querer ser invisível. Ser desconsiderado. Não ter voz.
O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhou oito anos como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. Ali, constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são “seres invisíveis, sem nome”. Em sua tese de mestrado, pela USP, conseguiu comprovar a existência da “invisibilidade pública”.
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Ele garante que teve a maior lição de sua vida: “Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência”, explica o pesquisador. O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não como um ser humano.
“Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim e não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão”, diz.
“Essa experiência me deixou curado da minha doença burguesa”, complementa o psicólogo. Desde então minha vontade de ser invisível não existe mais.
Você enxerga seu filho, sabe quem ele é, de que gosta e o que o faz se motivar? A pior invisibilidade é a que ocorre em família.
Cuide dos seus relacionamentos familiares. Valorize. Não faça das pessoas à sua volta, seres invisíveis.
Cumprimente. Valorize. Não faça as pessoas seres invisíveis
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Priscila Pereira Boy
Pedagoga, escritora e palestrante. Educadora parental. Diretora da Priscila Boy Consultoria e do movimento @familias-conectadas.
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