Para pediatras americanos, ensino remoto traz mais riscos que aulas presenciais

Associação Americana de Pediatria recomenda que crianças estejam nas escolas; entidade defende que aulas a distância podem trazer prejuízos educacionais, sociais e de saúde aos pequenos

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Imagem para ilustrar matéria sobre riscos ensino remoto.
Orientações da entidade levam em conta a importância da criança estar na escola
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Os anúncios de planos de retomada das aulas em diversos estados brasileiros têm levantado discussões sobre os riscos envolvidos tanto no ensino remoto quanto nas aulas presenciais. Experiências internacionais mostram a falta de consenso sobre o assunto: a Dinamarca, por exemplo, reabriu as escolas e afirma que o número de casos da Covid-19 não aumentou. Já outros países, como a França, tiveram que voltar atrás e suspender as aulas devido a novos casos da doença.

Nos Estados Unidos, a Associação Americana de Pediatria divulgou orientações em relação à situação das escolas. A entidade faz recomendações para que as aulas voltem a ser presenciais e destaca os riscos do ensino remoto para as crianças. Entre eles, o desafio em garantir que as crianças de fato aprendam, a dificuldade em identificar déficit de aprendizagem a distância e o aumento de problemas de comportamento e de abusos físicos e sexuais de crianças e adolescentes. A falta de apoio a alunos que enfrentam uso de substâncias, depressão ou ideação suicida também é um problema apontado pela Associação durante o período de aulas online. 

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Sean O’Leary, especialista em doenças infecciosas pediátricas na Universidade do Colorado, ajudou a escrever as orientações da Associação Americana de Pediatria. Ele tem dois filhos e ainda se recupera depois que ele e sua esposa contraíram o novo coronavírus. Em entrevista ao jornal The New York Times, o especialista assegurou: ele leva tudo isso muito a sério. “Ainda estou doente”, disse. 

O especialista explicou as razões que levaram a Associação a tomar esta posição. “Como pediatras, muitos de nós já reconhecem o impacto que o fechamento das escolas, mesmo que por uns meses, teve nas crianças”, afirmou ele. “Ao mesmo tempo, muitos de nós somos pais. Experimentamos nossos próprios filhos participando do ensino online. Não havia muito ensino acontecendo”, declarou. Ele ainda falou que há estudos que demonstram essa realidade e citou os riscos do ensino remoto, como os problemas de comportamento e os relatos de abuso pelo fato das crianças estarem em casa. 

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O’Leary comentou ainda sobre o papel das crianças na transmissão da Covid-19, explicando que o coronavírus é diferente de outros vírus respiratórios – como o da influenza, por exemplo, que conhecidamente pode ser propagado pelos pequenos. “O que temos visto até agora na literatura – e também em relatos – é que as crianças realmente parecem ser menos propensas a pegar a infecção e a espalhar a infecção. Parece ser ainda mais verdadeiro para crianças menores de 10 ou 12 anos”, declarou. 

Medidas dentro das escolas 

A recomendação do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) é que seja mantida a distância de dois metros de outras pessoas – mas a Associação Americana de Pediatria afirma que isso não seria viável em muitas escolas, nas quais teria que ser limitado então o número de alunos. Por isso, a entidade afirma que evidências sugerem que o espaço de cerca de um metro entre as mesas seria suficiente, particularmente se os alunos estiverem de máscara e assintomáticos. “Quando você inclui outras medidas de enfraquecimento [do coronavírus], como usar máscaras, particularmente para crianças mais velhas, e lavagem frequente das mãos, você pode diminuir o risco”, defende O’Leary. 

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Para ele, tudo é questão de equilíbrio. “Não vou vir aqui dizer que tudo será perfeito no próximo ano escolar. Haverá casos de Covid-19 em escolas mesmo onde houver os melhores esforços. Mas nós temos que comparar isso com a saúde em geral das crianças”, afirmou ao The New York Times. “Reabrir as escolas é tão importante para as crianças, mas também para a comunidade toda. Tanto do nosso mundo depende de crianças estarem na escola e pais estarem disponíveis para trabalhar. Tentar trabalhar de casa com as crianças está desproporcionalmente impactando as mulheres. Então vai além somente da saúde da criança – que, é claro, é muito importante”, finalizou o especialista. 

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