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Brinquedos de plástico: riscos à saúde e ao meio ambiente
O plástico é um material usado em cerca de 90% dos brinquedos – e isso traz riscos para a saúde das crianças e para o meio ambiente. É o que aponta uma pesquisa realizada pelo Grupo de Estudos e Pesquisa em Química Verde, Sustentabilidade e Educação (GPQV) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a pedido do Programa Criança e Consumo, do Instituto Alana.
Com o título “Infância Plastificada: O impacto da publicidade infantil de brinquedos plásticos na saúde de crianças e no ambiente”, o estudo investigou o efeito “publicidade-desejo-consumo-descarte”. As pesquisadoras Evelyn Araripe e Stefania Fachina foram coordenadas pela Prof. Dra. Vânia Gomes Zuin. Segundo a pesquisa, brinquedos de plástico podem prejudicar a saúde das crianças devido a substâncias tóxicas que muitas vezes fazem parte de sua composição. Os riscos da contaminação tóxica das crianças pelos brinquedos de plásticos estão relacionados não somente ao manuseio, mas também a acidentes, como inalação ou aspiração.
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O policloreto de vinila (PVC), por exemplo, que é o tipo de plástico mais comum na fabricação de brinquedos, geralmente tem adição de ftalatos para ficar mais maleável. Ftalatos são químicos usados para amolecer os plásticos e a exposição excessiva a eles pode causar desde asma a problemas hormonais, de desenvolvimento e reprodutivos. Apesar do Inmetro determinar limite de 0,1% de ftalatos em brinquedos de PVC, um teste de 31 brinquedos feito em 2008 pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) encontrou produtos que excediam em 390 vezes essa marca.
Outro problema trazido pelo plástico é a produção de lixo, já que esses brinquedos têm baixa probabilidade de serem reciclados, devido à mistura de vários tipos de plástico e à adição de outros materiais em suas composições. No Brasil, entre 2018 e 2030, o país vai produzir cerca de 1,38 milhão de toneladas de brinquedos de plástico. “Como comparação, considerando um caminhão de lixo padrão de 7 toneladas de capacidade e 10 metros de comprimento, esse montante equivale a 198 mil caminhões enfileirados de São Paulo a Salvador”, afirma o texto do estudo.
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As embalagens também fazem parte do problema. “[…] Se os brinquedos podem ficar encostados em algum canto ou mesmo serem doados ou trocados, o que dizer das embalagens? Desenhadas para serem tão atrativas quanto os brinquedos, estas também são muitas vezes submetidas a misturas de componentes que dificultam ou inviabilizam a sua reciclagem”, diz o texto, ressaltando que 40% dos plásticos encontrados nos oceanos são provenientes de embalagens.
Considerada boneca mais vendida do mundo atualmente, a L.O.L Surprise, da empresa americana MGA Entertainment, vem embrulhada em camadas de plástico, cada uma contendo uma surpresa. De 2016 a 2018, mais de 800 milhões de exemplares da boneca foram vendidos e o plástico dessas embalagens poderia dar quase 24 voltas em torno da Terra. De acordo com o estudo, “uma parte importante do sucesso das bonecas está na estratégia comercial e publicitária do produto, que é atrelado e difundido por apresentadores mirins e vídeos de unboxing”.
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Para as pesquisadoras, estratégias de publicidade como essa são aceleradoras do consumo e descarte de plástico. “[…] O mercado de brinquedos e o seu marketing está a todo instante inserindo novidades nas prateleiras para que o público infantil queira um novo item todos os anos”, afirmam. É enfatizado pelas pesquisadoras que a publicidade infantil é ilegal no Brasil.
Para diminuir os riscos dos brinquedos de plástico, o estudo sugere algumas soluções, como ações de incentivo ao livre brincar na natureza e troca e doação de brinquedos. Também cita a mudança para uma economia circular, que seja independente de recursos finitos e que vise eliminar a produção de resíduos, além da criação de brinquedos verdes e sustentáveis e mais investimento na formação das crianças como consumidoras.
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Heloisa Scognamiglio
Jornalista formada pela Unesp. Foi trainee do jornal O Estado de S. Paulo e colaboradora em jornalismo da TV Unesp. Na faculdade, atuou como repórter e editora de internacional no site Webjornal Unesp e como repórter do Jornal Comunitário Voz do Nicéia. Também fez parte da Jornal Jr., empresa júnior de comunicação, e teve experiências como redatora e como assessora de comunicação e imprensa.
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