Nos últimos dias, um ser microscópico tornou-se o centro de todas as nossas atenções. A
disseminação do coronavírus e os seus efeitos sobre a saúde das pessoas é o assunto principal
em todos os meios de comunicação. O isolamento social é a estratégia mais indicada para
diminuir os efeitos do vírus. Em função disso, foi determinado o fechamento das lojas. Muitas
empresas pararam suas atividades. A economia parou. E um fator agravante é que isso não
está acontecendo somente no Brasil. Muitos países, importantes para a economia mundial,
também adotaram o mesmo procedimento.
Os efeitos já são imediatos. Muitas pessoas que trabalham em atividades autônomas já experimentam a diminuição de sua renda. Em muitos casos, a renda caiu a zero. Muitos empresários já não contam com o faturamento de suas empresas. O endividamento aterroriza muitas famílias. E, no meio desse turbilhão, as crianças são impactadas, uma vez que os hábitos de consumo da família também precisam mudar.
Uma aula sobre economia não é o melhor caminho para explicar para as crianças o que está acontecendo. Elas não têm como compreender conceitos como queda da renda, custos fixos, queda do nível de atividade econômica ou recessão. De nada adiantará, também, simplesmente externalizar toda a insatisfação com os rumos da pandemia. Há um limite de maturidade e de compreensão da realidade que impede que as crianças compreendam o assunto, o que pode ser agravado quando são tratados com hostilidade. É importante traduzir todos estes acontecimentos mostrando claramente quais serão os impactos no dia a dia da família. É uma oportunidade de introduzir o tema de finanças para todos os membros da casa.
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Inicialmente é importante que os adultos tenham mais clareza sobre quais serão as medidas que precisarão ser adotadas. Mostrar despreparo ou desespero pode amedrontar as crianças. Um primeiro passo é fazer um levantamento do orçamento doméstico. Colocar na ponta do lápis ou na planilha eletrônica todos os possíveis rendimentos e todas as despesas. E levantar todas as medidas necessárias para se manter o equilíbrio no orçamento.
É preciso cuidado na comunicação dessas medidas que implicará na redução de gastos. Não é necessário falar de cifras e valores, e nem é recomendado. Segundo alguns especialistas, toda criança tem o que se chama de “síndrome de João e Maria”, ou seja, um medo da privação ou empobrecimento. O melhor é explicar as mudanças na rotina. Medidas concretas como suspensão de atividades extracurriculares ou cortes no plano de TV por assinatura devem ser anunciadas.
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Frustrações podem ocorrer, e é preciso aceitar que as crianças protestem. O importante nesse momento é que elas saibam que seu sofrimento está sendo reconhecido pelos pais e que contam com a sua compreensão. Isso pode ajudar, inclusive, na sua preparação para o futuro. Para a educadora Cássia D’Aquino, as crianças conseguem lidar com a desistência de férias, com o corte da TV a cabo ou com a diminuição das atividades de lazer. Podem ficar irritadas, podem chorar, mas são capazes de lidar com essas mudanças. Segundo ela, o que as crianças não conseguem é lidar com o fato de os pais estarem perdidos no meio da situação.
Outro cuidado que deve ser tomado é cumprir o que foi determinado. Não adianta falar em reduzir os gastos e continuar pedindo comida fora. Isso pode confundir as crianças.
Por mais que o momento seja complicado para muitas famílias, pode ser uma excelente oportunidade de aprendizado para todos, e que acabará resultando em um futuro mais equilibrado para as crianças. Todo pai tem como sonho maior ver seu filho se realizar. E se ele for um adulto bem-educado financeiramente terá mais facilidade para alcançar seus próprios objetivos.
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