Quem ainda gosta de inverno? Todo ano é sempre a mesma coisa: passo os primeiros cinco meses do ano reclamando do calor, torcendo para a chegada do inverno. Em meados de junho me arrependo amargamente da expectativa criada, alimentada pelos filmes, que mostram pessoas bem vestidas tomando um chocolate quente em frente a uma lareira. Eu não tenho lareira. Tenho churrasqueira. Churrasco combina com verão, piscina e cerveja gelada. Por que raios torço tanto para o inverno chegar?
Eu ainda me lembro do inverno de 2016 e do motivo de nunca mais entrar na agência do Itaú, que fica na rua Cristiano Machado, em Belo Horizonte. Gripada, como era comum estar nesta época, fui ao caixa fazer um saque sem cartão, como os antigos da nossa civilização faziam antes da era pix. A moça do caixa me pediu identidade. Eu estava enxugando o nariz com um lenço de papel enrolado em forma de charuto, e passei a procurar na bolsa pelo documento, sem perceber que havia largado o lenço enfiado no nariz grudado. Em ambas as narinas. A moça não conseguiu conter o riso. E eu não consegui mais voltar lá. Fechei minha conta no banco.
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Dizem que no inverno nos vestimos bem, mas na prática, sempre temos dois agasalhos bons, só que em um você derramou molho há uns três anos e não há Vanish que salve. Agora virou roupa de ficar em casa ou ir na padaria da esquina comprar pão. Então, por mais que relutantemente você tome banho e troque de roupas, está sempre com o mesmo agasalho e quem te vê diariamente acha que você não toma banho nunca. Imagina aquele crush que encontramos todos os dias no elevador pensando uma coisa dessas? Qualquer expectativa criada em torno de algum romance vai por água abaixo. Pensando bem, inverno não combina com romance. Eu sei, o dia dos namorados cair em junho dá essa falsa sensação de que o romance está no ar. Mas ó, vou te contar um trem: a data é puramente comercial, criada só para esquentar as vendas no mês que era bem parado nesta época. Congelado, repare bem a ironia. Se não fosse a data, não haveria nada de romântico em junho e motéis com aquecedores não lucrariam tanto. Porque, convenhamos, neste frio, quem em sã consciência tiraria a roupa? Tem que estar com muito fogo mesmo para ter a coragem.
Não sei vocês, mas eu estou numa gripe eterna. Aquela coriza que escorre do nariz e, se deixar, desce para a boca. A boca, ah… Essa sofre mesmo. Desde queimaduras de segundo grau, na tentativa de se aquecer com chá quente, até aquele ressecamento dos lábios que começa com uma “pelinha” marota que sai do canto e quando você vai puxar, arranca metade do lábio. Se eu tivesse preenchimento labial, vazaria e eu confundiria com a coriza. Mergulhamos portanto em novos vícios, entre eles, hidratantes labiais. Uma escolha precisa ser feita: ou sua boca fica parecendo que comeu um balde de frango frito com protetores incolores ou assume de vez a cara de palhaça com aqueles que dão cor, que sobreposta à outra, pelas várias camadas que passa, ficam borradas dando aquele ar de louca do circo.
O banho é um caso à parte. Ninguém quer tomar banho morno que no inverno parece gelado. Prefere fechar o registro até quase completamente para um fio de água quente, suficientemente quente para se passar um café, que pingue nas costas em uma tentativa desesperada de aquecê-la ou ao menos uma pequena parte dela. O coitadinho do chuveiro sofrendo, urrando, tentando suprir suas expectativas de banho satisfatório.
Volto a perguntar: por que cargas d’água a gente gosta mesmo do inverno?
*Este texto é de responsabilidade do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Canguru News.