Com certeza você já viu em algum lugar crianças com um brinquedo colorido cheio de bolinhas, que parece um plástico bolha de silicone. O Pop It, como é chamado, é a maior febre do momento entre os pequenos e mesmo entre adultos. A Canguru News já havia publicado uma reportagem sobre como este brinquedo viralizou nas redes sociais, mas a onda de consumo e os tipos de brinquedos Pop It não param de se multiplicar. Além de ser divertido e chamativo, o grande diferencial é que ele é considerado um “fidget toy”, que é feito para acalmar a mente e reduzir o estresse. Não há dúvida de que durante a pandemia todos experienciaram mais ansiedade, incluindo as crianças. Essa pode ter sido uma das razões pelas quais o fidget toy se tornou tão popular. Mas afinal, o Pop It realmente ajuda as crianças a lidar com a ansiedade ou é apenas mais um brinquedo da moda?
O que nem todos sabem é que o Pop It também é considerado um Stim Toy, ou brinquedo sensorial, pois envolve um movimento repetitivo que estimula os sentidos. Este objeto pode ser muito benéfico para pessoas autistas e ajuda a trabalhar a concentração. No entanto, ainda não existem estudos conclusivos que comprovem a eficácia do Pop It no combate da ansiedade em crianças com desenvolvimento típico. “É importante lembrar que trata-se apenas de um brinquedo e não é indicado como tratamento. Portanto, uma pessoa ansiosa continuará com o transtorno, o Pop It apenas será uma distração”, afirma Sirlene Ferreira, psicóloga clínica e escolar de São Paulo.
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‘Ameniza, mas não resolve’
“Nenhum brinquedo, nenhum livro de autoajuda vai auxiliar o sujeito a lidar com o seu distúrbio. Ele pode amenizar um pouco os sintomas, mas não vai resolver”, aponta Thalita Nobre, psicanalista e psicóloga do Grupo Prontobaby. Mesmo assim, o brinquedo pode sim trazer benefícios. “O próprio manuseio do Pop It tem um estímulo cognitivo sensorial que ajuda a criança a lidar com problemas nessa fase de desenvolvimento”, acrescenta a especialista. Desse modo, os fidget toys podem gerar uma desaceleração do fluxo de pensamentos, reduzindo a inquietação dos pequenos, mas não devem ser o único método utilizado para combater a ansiedade.
“Qualquer tipo de atividade que promova o foco de atenção e distraia a pessoa pode reduzir os sintomas de ansiedade. A criança pode se sentir menos ansiosa durante o tempo em que ficar apertando as bolinhas”, diz Regina Maria Fernandes Lopes, neuropsicóloga e pós-doutora em psicologia. Outro fator interessante, ressalta Thalita Nobre, é que agora existem estratégias para brincar com o Pop It, não é só a brincadeira de estourar a bolha.
O brinquedo pode ser usado para ajudar a alfabetizar e fazer contas ao escrever letras ou números na parte de trás. Também foi criado um jogo em que as crianças usam dados e precisam afundar a quantidade de bolinhas respectiva ao número que tiraram: quem afundar todas as bolinhas primeiro ganha.
Além disso, ele pode ser utilizado em exercícios de memória, como gravar a sequência de cores ou memorizar a ordem em que as bolinhas são estouradas. Algumas crianças utilizaram o Pop It até mesmo como forma de silicone para fazer chocolate. Todas essas atividades podem ser benéficas para a concentração e distração.
“Com tanta tecnologia, nós esquecemos que o simples também é atrativo. O Pop it permite que as crianças brinquem com as mãos em movimentos que podem aliviar o estresse”, afirma Sirlene Ferreira.
A ansiedade também se manifesta através de comportamentos compulsivos e o Pop It pode ajudar a diminuir esses sintomas. “Esse distúrbio pode levar o sujeito a se machucar. Compulsões alimentares, puxar os cabelos, cutucar as ‘pelinhas’ e roer as unhas são todos comportamentos compulsivos que podem ser desencadeados. O brinquedo pode ser uma saída sim para lidar com isso”, afirma Thalita Nobre.
As especialistas relataram que, devido à alta no índice de ansiedade, o brinquedo pode ser útil, contanto que seu uso seja responsável e consciente. “Acredito que neste momento, no contexto de pandemia em que todas as pessoas estão mais ansiosas, o Pop It pode sim ser uma técnica de distração para aliviar a ansiedade das crianças”, destaca Regina Lopes, que também é uma das autoras do livro-caixinha “Ansiedade Infantil”, da Matrix Editora.
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Uso consciente
Em pouco tempo, o brinquedo já ganhou diversos tamanhos e formatos. Devido ao sucesso, o Pop It pode ser encontrado como um relógio, sandália, bolsa e até as confeitarias criaram versões comestíveis. Como todo brinquedo da moda, é natural que as crianças fiquem entusiasmadas ao verem os colegas com o objeto e queiram adquiri-lo também. Entretanto, Thalita Nobre alerta que os pais devem tomar um certo cuidado com isso, tanto para frear o consumismo na infância quanto para que os filhos não criem uma dependência e vício no fidget toy.
“Eu acho que o Pop It, assim como qualquer outro brinquedo, tem os seus benefícios, mas também pode acabar se tornando uma armadilha que cause essa compulsão”, diz a psicanalista.
É preciso prestar atenção se a criança se torna mais fechada e passa a maior parte do seu tempo brincando com o Pop It, sem revezar entre outras brincadeiras. “A criança não pode deixar de ter outras interações sociais nem de brincar com outros brinquedos”, diz Nobre.
Isso vale para o Pop It mas também para qualquer outro brinquedo. Inclusive, focar apenas em um item não é interessante para o desenvolvimento da coordenação motora e do plano cognitivo dos pequenos. “O cuidado que os pais têm que tomar é ampliar o repertório de brincadeiras. Quanto mais opções a criança tiver, mais saudável vai ser”, completa.
Regina Lopes concorda que é importante variar, porque a criança pode acabar se entediando de tanto brincar com o mesmo brinquedo e perder o interesse. Segundo especialistas, também existe a possibilidade do uso excessivo do Pop It gerar um vício no movimento repetitivo dos dedos, o que poderia até aumentar a ansiedade. Por isso, além de alternar as atividades, os pais podem fazer um controle do horário em que o filho usará o fidget toy, caso haja necessidade. “Eu acho que o Pop It tem os dois lados, tem um lado interessante, mas também tem um outro lado. É este cuidado que os pais e educadores têm que ter sempre”, diz Thalita Nobre.
Como lidar com a ansiedade infantil?
De acordo com as psicólogas, a melhor forma de lidar com a ansiedade na infância é por meio da terapia, com acompanhamento de profissionais adequados. “O processo de análise da psicoterapia vai estimular o sujeito a falar sobre o sintoma e, à medida em que ele fala, ele vai começar a criar um caminho possível para entender o que está acontecendo”, explica Nobre. Regina Lopes aponta que é fundamental atentar-se ao comportamento da criança, se perceber que a criança está mais triste ou fechada, algo não está certo. “Sintomas comportamentais são como uma febre, estão dizendo que tem alguma coisa errada. Qualquer mudança repentina no comportamento da criança é um alerta”, destaca Thalita Nobre.
O acompanhamento psicológico também pode ser amparado por outras alternativas. “Brincar e socializar sempre faz muito bem para qualquer criança e é favorável à saúde mental”, diz Sirlene Ferreira. Independente da terapia, é interessante que a criança tenha um espaço de produção subjetiva. “As crianças não falam como adultos, elas podem se comunicar através de uma brincadeira ou de um desenho, por exemplo. É fundamental que ela tenha a possibilidade de trabalhar isso de alguma forma”, indica Thalita Nobre.
Além de tudo, os pais têm um papel crucial na saúde mental do filho. Para as especialistas, um ambiente familiar harmonioso, onde a criança tenha espaço para se expressar e ter um diálogo, é imprescindível para ajudar a prevenir e combater transtornos mentais como a ansiedade.
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