Pais cansados, esgotados. Não são os adjectivos que todos os pais utilizam mas uma larga maioria, sim. E é sobre eles que escolhi falar hoje.
Equilibrar todos os pratos desta balança, em cima de uma camionete que já leva areia a mais, todos os dias, sem fim à vista, torna-se, no mínimo, desgastante.
Pais de filhos pequenos: todo o meu respeito. Sei o que é trabalhar em casa, com crianças que querem brincar conosco, que choramingam, que chamam por nós cinco vezes no espaço de 30 segundos. Sei o quanto é frustrante não conseguir escrever a resposta a um email, do início ao fim, sem ser interrompido três vezes. Sei tudo isso, afinal estamos todos juntos, não na mesma camionete, mas no mesmo barco.
Infelizmente, o desgaste faz com que nem todos consigamos gerir da melhor forma o nosso cansaço, as nossas emoções e a maneira como nos estamos a relacionar, uns com os outros, dentro de casa. Não bastava a função de equilibrista, agora começou, em muitas casas, a amplificação das discussões, das discórdias e dos gritos. Entre o casal e também com e entre os filhos. De alguma forma, a nossa liberdade de movimentos foi confiscada e isso inclui ter momentos sozinhos, inclui tirar prazer do trabalho, nomeadamente no processo de flow (processo de concentração optimal, aquele em que perdemos a noção do tempo e do espaço e que tanto prazer dá) ou namorar… sem filhos por perto!
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E agora? Esperar que passe? Não sabemos quando é que isso vai ser. Então precisamos de agir já. Ninguém merece estar a viver conflitos atrás de conflitos, ninguém merece estar extenuado ao ponto que muitos estão. Mas, sem podermos sair de casa, quais são as alternativas? Quando precisamos de ficar a guardar os nossos filhos, verificar que fazem as lições e estão atentos aos estudos… cozinhar e por aí fora… enfim, o que fazer?
Na verdade, o ser humano adora complicar a vida. Tudo se torna mais fácil quando asseguramos o essencial. E de que essencial é que falo?
Antes de tudo, preciso de saber se necessitamos de ajuda ou não. Ajuda profissional, para pensar em estratégias de relação com a minha família. E se a resposta for afirmativa, quanto mais cedo procurar, melhor. Chegamos, tantas vezes, a um momento em que a vivência e a convivência se tornam tão difíceis que dar o primeiro, o segundo e o terceiro passo passam a ser passos gigantescos. Então, deixemos o ego de lado, e peçamos ajuda.
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Depois, precisamos de descansar. Então se estamos cansados, porque não descansamos? Porque ficamos horas nas redes sociais e em frente à TV? Para descansar e relaxar, claro. Mas, neste caso, as horas de sono tornam-se uma espécie de cápsula mágica. Dormir o número de horas suficientes ajuda-nos a estarmos mais descansados, no dia a seguir. Eu sei que sabes disso, mas precisas de fazê-lo. Levantar-te e ir dormir. Quando estás descansado, tens mais paciência, mais jogo de cintura e consegues tomar boas decisões. Não é a TV que te vai relaxar – mas antes a forma como vais conseguir lidar com as situações exigentes destes novos dias, percebendo que nem todas são assim tão intensas e dramáticas e muitas são apenas, e só, o reflexo de um olhar que acusa uma fadiga por estarmos a viver circunstâncias fora do comum.
Finalmente, comer bem. E isso significa aumentar a quantidade de legumes, por exemplo, e alimentos da época porque são os melhores, com menos químicos e aqueles que a natureza sabe que são os que melhor respondem às nossas necessidades. Por estarmos em casa, muitos temos tendência em comer e beber como se fosse fim-de-semana todos os dias da semana. E, com isto, sobrecarregamos o nosso sistema. Conclusão: maior cansaço físico, menos energia. E, com isso, menos capacidade para gerir emoções, menos paciência, mais explosões de raiva, muita frustração. E a bola de neve começa a ganhar dimensões gigantescas.
Os pais estão sobrecarregados é um facto. Os pais estão cansados.
Então, estamos à espera do quê para nos focarmos no que é mesmo essencial? De repente, em vez de morrermos da doença, vamos morrer da cura.
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