“É tão fundamental entender o que nossos filhos precisam”, diz a coach sueca Mikaela Övén

Durante o Parenting Brasil, MIkaela falou sobre perceber as necessidades das crianças para construir uma relação saudável

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O comportamento comunica as nossas necessidades; imagem mostra MIakela durante palestra no Parenting Brasil
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Desobediência, hiperatividade e birra são apenas algumas das atitudes que podem ser observadas em crianças e adolescentes durante seu desenvolvimento. Com frequência, pais e professores interpretam essas condutas como mau comportamento, mas existe uma outra forma de entendê-las. “O comportamento é uma comunicação das nossas necessidades. Através dele, nós comunicamos aquilo que precisamos, aquilo que necessitamos”, explica a coach e facilitadora da parentalidade consciente Mikaela Övén, que é sueca mas vive em Portugal desde 2001.

Mikaela foi uma das palestrantes do Parenting Brasil:1º Congresso Internacional de Educação Parental, ocorrido em São Paulo entre 19 e 21 de novembro, de forma presencial e a distância. No evento, ela falou sobre como os pais podem interpretar os comportamentos de maneira mais positiva e satisfazer as principais necessidades de seus filhos. Um dos principais pontos é a mudança de paradigma: “O comportamento pode ser visto sempre como uma solução. A solução que a criança arranjou para satisfazer a sua necessidade”, afirma. Assim, o ideal não é interpretar o comportamento como mau, mas perguntar como é possível ajudar a criança a encontrar outra solução para a necessidade que apresenta.

“É tão fundamental entender o que nossos filhos precisam”

Quando os recém-nascidos choram, os responsáveis costumam questionar imediatamente o que está acontecendo. Será fome, sono, fralda suja ou cólica? Com o tempo, esse papel de investigador se perde. “Começamos a querer educar as crianças desobedientes e deixamos de interpretar o comportamento como uma comunicação de necessidade”, explica Mikaela.

Por isso, é preciso que os pais voltem a ser detetives dessas carências. “Quando nós percebemos como podemos satisfazer essa necessidade, tal comportamento desafiante deixa de fazer sentido. A criança já não precisa reproduzir aquele comportamento para conseguir satisfazer sua necessidade”, destaca.

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Como reconhecer as necessidades das crianças?

De acordo com a coach, existem quatro energias principais que definem as necessidades dos pequenos. Conhecido como Método LASEr, trata-se de uma ferramenta que ajuda a decifrar os comportamentos e a escolher novas estratégias na forma como os pais se relacionam com as crianças. As principais características de cada tipo são:

LARANJA: “São aquelas crianças que parecem que têm uma energia inesgotável e que nunca param quietas”, caracteriza Mikaela Övén. Falam muito e rápido, e têm dificuldade de permanecer quietas na escola. São rotuladas como tendo déficit de atenção ou hiperatividade, mas não têm necessariamente.

VERMELHA: “Gostam de mandar nas brincadeiras. São bastante competitivas, gostam de ganhar no esporte, serem as melhores na escola. Se não forem as melhores em notas, podem ser as melhores em se comportar mal. Gostam de decidir qual roupa vão vestir e qual comida vão colocar no prato”, define a coach. São vistas como mandonas e desobedientes porque querem as coisas à sua maneira.

AZUL: Fazem muitas perguntas, querem saber tudo em detalhes. “Falam pouco e muitas vezes para baixo. Não gostam de se expor. As brincadeiras são mais calmas e tranquilas. Gostam de organizar coisas”, descreve. Podem ser caracterizadas como introvertidas e tímidas.

VERDE: “É uma energia do toque, de ter a família toda junta. As crianças se sentem mal quando sentem quebra de conexão. Preocupam-se muito com os outros e com os animais”, afirma Mikaela. São descritas como demasiadamente carentes e, às vezes, mimadas. Dificilmente adormecem sozinhas e necessitam de toque físico.

Todos possuem as quatro energias e não há uma melhor, pois todas são importantes. Cada indivíduo possui uma ou duas mais predominantes, no entanto, também podem ser contextuais. “Uma criança pode apresentar uma energia muito azul quando está na escola, mas, em casa, apresentar uma energia mais laranja, mais viva e expressiva”, explica. O importante é saber como usar o Método LASEr na parentalidade consciente.

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As dicas de Mikaela Övén para cada energia

“As crianças que apresentam energia mais laranja, aquelas muito ativas e que parecem ter alguma hiperatividade, têm necessidade de experiência e novidade”, revela a coach. Para lidar com esses comportamentos, a sugestão é introduzir mais momentos de movimento, situações que façam rir e fujam do cotidiano. Por exemplo, fazer um caminho diferente até a escola ou inserir brincadeiras inovadoras no dia a dia.

Os pequenos com energia vermelha necessitam de grande reconhecimento e significância. Durante a palestra, Mikaela contou a história de Inês, uma adolescente que entrava em constante conflito com a mãe e, principalmente, com o pai. Inês queria tudo ao seu jeito e não respeitava os adultos. A estratégia utilizada foi introduzir momentos de satisfação e constante reconhecimento dentro de casa. Os pais delegaram mais tarefas familiares e deixaram com que liderasse as reuniões de família. A adolescente foi inclusive responsável por planejar as férias.

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“As crianças de energia azul têm uma grande necessidade de segurança, de conhecimento e de controle”, afirma Mikaela. Nesse caso, não é necessário haver incentivos, prêmios ou subornos para que interaja mais com outras crianças. Uma rotina estruturada que garanta a sensação de segurança é uma boa estratégia a ser seguida pelos pais.

Por último, são aquelas que gostam de proximidade e precisam de conexão, de ligação e da sensação de pertencimento. Mikaela citou o exemplo de Mafalda, uma criança que havia acabado de entrar no quinto ano escolar, era muito carente e dizia se sentir sozinha. Os pais focavam demais em garantir que ela fosse autônoma, mas sem se preocupar com a principal necessidade da menina.

Com o Método LASEr, “os pais focaram totalmente em assegurar que a Mafalda se sentisse conectada a eles. A família começou a fazer mais coisas junta”, conta a coach. Eles utilizaram momentos do jantar para isso e passeios, além de permitir que a menina fizesse os trabalhos de casa na sala com os pais por perto, mesmo que tivessem outros afazeres. Com o tempo, “até a própria Mafalda começou a propor algumas coisas: ‘Agora vou fazer isso sozinha'”, conta Mikaela Övén.

A coach ainda ressalta que o método não deve ser utilizado para rotular as crianças, mas fazer com que os pais identifiquem quais são as necessidades dos pequenos que precisam ser satisfeitas e ajudá-los a comunicá-las de uma forma mais objetiva.

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