Menstruação: como ajudar a filha após a chegada da menarca

A pedagoga e bióloga, Joana Viana, explica como os pais podem abordar o assunto sem constrangimento

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útero de pelúcia com menstruação; Menstruação: como ajudar as meninas com a chegada da menarca
Fornecer informações sobre a menstruação é fundamental para a menina não se sinta envergonhada
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A primeira menstruação é sempre um momento muito marcante da vida das meninas e que vem acompanhado de muitas emoções – alegria, satisfação, tristeza, medo, vergonha… Tudo vai depender do significado que ela dará para a menarca. Mas uma coisa é certa: ela vai ter muitas perguntas! E os pais precisam estar prontos para respondê-las e para ajudar as filhas a lidar com esta mudança da melhor forma. Mas como eles podem abordar este assunto sem constrangimento sendo que ainda é considerado um grande tabu?

“Os pais devem falar com naturalidade, mas sem que seja confundido com uma banalização. O que eu quero dizer? É natural menstruar, cerca de metade da população menstrua, mas isso não significa que não possa ser um momento especial para a pessoa que menstrua pela primeira vez”, afirma Joana Viana, bióloga, pedagoga e autora do livro “Em paz com os ciclos – uma jornada de autocuidado da menina à mulher”.

Ela indica que os pais devem reforçar que é uma mudança normal do organismo. “É um dos inícios importantes da vida. O útero vai começar a funcionar de um modo cíclico durante cerca de quarenta anos e o que chamamos de sangue menstrual é algo a ser eliminado para a saúde do próprio útero. O útero que pode abrigar um bebê precisa ser limpo, como os lençóis da nossa cama são limpos de tempos em tempos”, diz.

É possível que, de primeira, o sangue e o cheiro causem um estranhamento. Mas Joana Viana destaca que é importante que as meninas entendam que a menstruação não é algo sujo e que não precisam ter nojo. “Em uma abordagem prática, pensamos a menstruação como uma das eliminações do corpo de quem tem útero. Como eliminamos urina e fezes, a pessoa com útero elimina também a menstruação. As eliminações são limpezas, formas do nosso corpo expelir o que não precisa. Em outras palavras, o interior do nosso corpo é autolimpante”, ressalta.

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Quando abordar o assunto?

Vale destacar que os pais não precisam esperar a menstruação chegar para abordar o assunto com as meninas. “É aconselhável observar o interesse e a curiosidade da filha. Comumente, o crescimento dos brotos mamários e pelos pubianos antecedem a primeira menstruação – que ocorre entre os 8 e 13 anos. É natural que as meninas interroguem a respeito e sintam vontade de cobrir os brotos mamários na praia e na piscina”, diz a especialista. Nesse momento, ela indica introduzir o tema de forma amorosa, através de coisas já conhecidas, como as transformações da natureza. “Ao longo da vida, os corpos dos animais mudam. Da mesma forma, muda o nosso corpo: a mãe é diferente da avó porque são pessoas diferentes, mas a pele, o cabelo, a disposição e a estrutura do corpo passam por transformações”, afirma.

Caso o adulto se sinta seguro, pode ser interessante falar sobre o útero. “O útero abrigou todos os seres humanos que estão sob a Terra. De certa forma, contar a história do útero é contar a história da humanidade, na condição de mamíferos placentários, e dar importância para o corpo de quem tem útero”, sugere Viana.

Sem vergonha

Por ainda ser considerado um tabu, pode ser que as meninas sintam vergonha da menstruação. Para a especialista existe apenas uma forma de combater esse sentimento: fornecendo informação. “Quanto mais ela sente que a menstruação não é um assunto a ser evitado, menos vergonha ela sente. Quanto mais pais e mães estejam abertos para a escuta, mais fácil será lidar com os comentários desagradáveis. Afinal, quem faz comentário desagradável está desinformado e não sabe, ou não quer estar consciente, que, provavelmente, a mãe menstrua e que as mulheres da sua família menstruam ou menstruaram”, destaca.

Sentir-se desconfortável com as mudanças do corpo também é esperado e os pais devem estar dispostos a ampará-las. “Primeiro, é aconselhável interrogar junto com ela, do que ela sente vergonha. Do olhar de homens mais velhos? Do olhar de meninos? Do olhar de outras meninas? Então, refletir que todas as suas colegas estão se transformando junto”, indica Joana Viana. Contar que outras pessoas próximas já passaram por essa fase pode ajudar. “Explique que já nos transformamos bastante desde que nascemos, afinal não somos mais bebês. Os pais e as mães podem compartilhar um pouco como foi a sua experiência na puberdade, e lembrar das sensações comuns de vergonha e de se sentir inadequado/a. Demoramos a nos acostumar com qualquer novidade”, afirma.

Quais produtos são indicados?

Hoje existem muitas opções de produtos de higiene para a menstruação que as meninas podem escolher, além dos absorventes externos descartáveis. “O mercado entendeu que a sustentabilidade é um valor importante. Atendendo ao preceito de que todos nós estamos interessados na diminuição do lixo produzido, calcinhas absorventes e coletores menstruais hoje são excelentes soluções. Mais uma vez, é possível incentivar a adolescente a encontrar a técnica menstrual de sua preferência, que pode inclusive variar de acordo com o fluxo e com a sua fase de vida”, diz Viana.

É muito comum que meninas temam a perda da virgindade com absorventes internos e coletores menstruais, mas, de acordo com a especialista, isso não precisa ser uma preocupação. “O hímen é uma membrana muito fina localizada na entrada do canal vaginal. Ele foi considerado o símbolo da virgindade, como se indicasse se uma menina teve relação sexual com penetração vaginal. Mas a verdade é que o hímen pode se romper em diversas atividades que independem da relação sexual e, em grande parte das mulheres, o rompimento do hímen não é percebido porque não há sangramento ou dor”, esclarece.

Segundo ela, os absorventes internos são completamente seguros. “O uso de absorventes internos e coletores menstruais exige prática, mas não há perigo porque o canal vaginal tem um fim: o colo do útero. Um absorvente, um coletor menstrual ou mesmo um preservativo não pode ficar perdido no corpo da mulher. Eles serão alcançados com um, dois e três dedos (indicador, médio e polegar), na postura de agachamento”, orienta Joana Viana.

Menstruação e autocuidado

Especialmente durante o período menstrual, é importante incentivar o autocuidado. “Incentivar a menina a observar as suas emoções sem que seja preciso reprimi-las de imediato. Sentimentos de tristeza e solidão são comuns durante a adolescência, por ser uma fase de intensa transformação”, diz a especialista. Para ela, o papel dos pais é mostrar que estão disponíveis para uma conversa e para o cuidado. “Mesmo que a adolescente negue que precise dos cuidados dos pais, é importante que ela saiba que eles estão disponíveis. Os pais devem aceitar as expressões da sua filha e evitar julgamentos. Quanto mais a adolescente se sentir tolhida, mais rebelde ela se torna”, afirma.

Os pais também podem estimular o relaxamento, o que ajuda na relação com a filha e a inspira a se cuidar. “O yoga e a meditação são ótimas ferramentas para isso. Importante pontuar que as técnicas de autocuidado devem ser praticadas regularmente, ou diariamente, e não apenas durante o período menstrual”, finaliza Joana Viana.

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