Os quadrinhos sempre tiveram uma grande influência na formação das crianças e dos adolescentes. É isso que pensa o quadrinista e desenhista Mauricio de Sousa, que concedeu entrevista à Canguru News por e-mail. Para ele, é importante que as narrativas da Turma da Mônica reverberem a realidade, com personagens que trazem diversidade e inclusão, garantindo que todas as crianças se sintam representadas. “A Turma da Mônica é um grupo de personagens que vive e age como crianças normais. Como nossos filhos ou conhecidos. E todos nós temos amigos, por exemplo, com algum tipo de deficiência, num convívio harmônico e dinâmico. Aprendemos as regras da inclusão aí. É importante estarmos sempre atualizados”, relata.
Principalmente nos últimos anos, personagens que trazem representatividade têm sido mais bem-vindos ao universo das histórias em quadrinhos. Recentemente foi anunciado que o filho do Superman sairá do armário e assumirá ser bissexual. Além disso, na própria Turma da Mônica, Mauricio revelou que tem planos para um personagem homossexual, inspirado no seu filho, Mauro, diretor de espetáculos, parques e eventos da Mauricio de Sousa Produções, que é assumidamente gay. Mas antes dele, Mauricio já introduziu vários personagens etnicamente diversos e com deficiências para ampliar o debate da inclusão pelos quadrinhos.
Segundo Mauricio de Sousa, o primeiro personagem pensado com esse objetivo surgiu no início da Turma da Mônica. “Não poderíamos deixar de apresentar, no universo dos nossos personagens, amiguinhos da turma que também tivessem necessidades especiais. Até acho que demorei muito para perceber esse vazio nas nossas histórias. Acho que o primeiro foi quando criamos uma história onde um novo amiguinho da turma surgia de muletas”, explica Mauricio.
Porém, segundo ele, este personagem apareceu apenas em uma ou duas histórias e depois sumiu. “Ficou a necessidade de mantermos esse tipo de convívio. E posteriormente fui buscar um cadeirante para preencher o espaço. Mas Humberto, com deficiência auditiva, surgiu em 1960”, diz o quadrinista. Ao longo dos anos, Mauricio introduziu diversos outros personagens que trazem diversidade e inclusão para a Turma da Mônica. Conheça alguns deles e as suas inspirações!
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Jeremias
“O Jeremias fazia parte do primeiro grupo de personagens que criei ao mesmo tempo em que lançava o Franjinha, Titi e Cebolinha. A Mônica ainda não existia nos meus quadrinhos”, conta Mauricio de Sousa. O personagem negro apareceu nas histórias no início dos anos 60. “Foi inspirado em meus amiguinhos de infância. Mas com o tempo, acabou ficando fora dos principais personagens, embora nunca tenha sido esquecido”, relata.
Pelezinho
Outros personagens negros apareceram na época também. “Depois fiz a parceria com o Pelé e criei o Pelezinho, um dos poucos personagens negros no mundo que tinha sua própria revista com família e amigos. Foi um sucesso, que mais recentemente aconteceu também com o Ronaldinho Gaúcho e o Neymar”, adiciona o quadrinista.
Milena
No início de 2019, a Turma da Mônica recebeu uma nova integrante: a Milena. “Faltava uma nova família de negros criada sem ser baseada em celebridades. Simplesmente baseada em pesquisas e sensações. E, finalmente, a personagem estreou num show ao vivo junto com nossos personagens principais e nos gibis. Hoje a Milena é um sucesso total. No filme ‘Lições’, que estreia em dezembro, ela estará ao vivo no cinema”, afirma Mauricio de Sousa. Milena adora cantar e dançar, como todos de sua família Sustenido. É cheia de atitude, autoestima e é muito habilidosa.
Papa-Capim
Papa-Capim é um personagem indígena e vive na região da Floresta Amazônica. Sempre muito brincalhão e bondoso, tem a sua própria Turma, com histórias protagonizadas. Papa-Capim foi criado para as tirinhas da Folhinha de S.Paulo, em 1960. “Criei uma família para mostrar como os índios vivem junto à natureza”, comenta Mauricio de Sousa. O personagem luta pela preservação da floresta, combatendo o desmatamento e a caça ilegal, assim como as queimadas, as fábricas e os pastos, buscando proteger o planeta do aquecimento global.
Luca
Luca é um garoto charmoso e encantador. Em sua cadeira de rodas, tem uma série de equipamentos tecnológicos que o ajuda a desvendar mistérios, pois ama se aventurar em histórias de suspense. “Luca apareceu nos gibis em 2004, e nas animações em 2008. Ele foi inspirado em jogadores de basquete cadeirantes e no cantor Herbert Vianna”, diz Mauricio.
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Dorinha
Outro personagem que surgiu em 2004 foi Dorinha, que, segundo o quadrinista, foi inspirada na ativista cega Dorina Nowill. Muitas vezes acompanhada de seu cão-guia, Radar, Dorinha é a fashionista do Bairro do Limoeiro. Com o objetivo de quebrar paradigmas na indústria da moda com sua mentalidade inovadora e disruptiva, a menina sonha em ser estilista e criar uma nova linha de roupas inclusiva quando ficar adulta.
Tati
Tati é uma menina com Síndrome de Down, muito inteligente e habilidosa. Na escola conhece os amiguinhos da Turma da Mônica e ensina sobre a inclusão social e o respeito às pessoas com deficiência. “Tati surgiu em 2006, e foi inspirada na autora e atriz portadora de Síndrome de Down Tathi Piancastelli”, relata Mauricio de Sousa.
André
O André é um garotinho fofo e gentil. Diagnosticado autista, ele apresenta particularidades únicas em se comunicar e interagir com os amiguinhos. Mas não é só isso que define a sua personalidade. Ele encanta todos à sua volta com atividades e brincadeiras que todas as crianças gostam de fazer. “André surgiu em 2003 e foi criado para uma campanha de conscientização do transtorno do espectro autista, baseada em conversas com médicos especialistas neste atendimento”, explica o quadrinista.
Humberto
Humberto é um carinhoso e sonhador personagem que não se comunica oralmente, por ser deficiente auditivo. Ele se expressa com olhares, movimentos das mãos, mímicas e caretas. É uma das crianças mais sensíveis da turminha e começou a criar amizade com as crianças do Bairro do Limoeiro ao entrar para o Clubinho dos Meninos, quando foi fundado. Como mencionado, Humberto foi um dos primeiros personagens que trazem inclusão a surgir nos quadrinhos da Turma da Mônica, em 1960. “Nesta época, baseava minhas criações em amiguinhos da infância”, conta Mauricio.
Edu
“Um dos últimos foi criado em 2019, o Edu, que tem Distrofia Muscular de Duchenne, uma doença rara degenerativa”, diz. Apesar de ser uma doença pouco conhecida, é a forma de distrofia mais comum em crianças, principalmente em meninos, de acordo com estudo estadunidense publicado na Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos. “O Edu também foi criado com muita pesquisa e conversa com especialistas nesta doença e familiares que convivem com seus filhos nesta situação. Foram publicadas quatro revistinhas com ele para a Aliança Distrofia Brasil usar em campanhas de inclusão nas escolas”, finaliza Mauricio de Sousa.
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