As dores e delícias da gravidez madura

Engravidar após os 40 anos tem os dois lados da moeda, mas, para mães, o amadurecimento traz um outro olhar sobre a maternidade

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A dores e delícias da gravidez madura; mulher sentada no sofá beijando a testa do filho que está no seu colo
Mães mais velhas se sentem mais preparadas para a maternidade
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“Quando descobri que estava grávida aos 43 anos, tive uma mistura de sentimentos: ao mesmo tempo em que fiquei muito feliz, também fiquei muito preocupada por conta da minha idade”, diz a pedagoga Andreza Machado, que se encontra em sua terceira gravidez. Assim como toda escolha, a maternidade tardia tem seus prós e contras e cabe a cada mulher decidir o momento certo para se preparar para a chegada de um bebê da melhor forma possível.

O caso de Andreza não é isolado, a gravidez madura é cada vez mais recorrente no Brasil. Segundo levantamento divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desde o fim de 1990 até 2018, o número de mulheres que se tornaram mães depois dos 40 anos de idade aumentou em 88,5%. 

De acordo com o ginecologista Mauricio Abrão, especialista em infertilidade e vice-presidente da Associação Americana de Ginecologia, o período reprodutivo da mulher vai da primeira menstruação até a última. “Após os 35 anos, existe uma queda muito importante na quantidade e qualidade dos óvulos e, consequentemente, as chances da mulher engravidar naturalmente vão caindo progressivamente. Depois dos 40, caem com um pouco mais de vigor”, explica o médico. No entanto, a gravidez natural ainda é possível, como ocorreu com Andreza Machado. 

Diferentemente das duas primeiras gestações, essa terceira foi planejada com o seu atual parceiro, que não tinha filhos, mas não havia nenhuma pressão para que acontecesse. Mesmo com o planejamento, ainda havia preocupações referentes à gestação. “Eu fiquei bem aflita, porque eu sei que há muitos riscos de uma gravidez mais velha que podem interferir na minha saúde, durante e após a gravidez, e também pode ser que o bebê tenha algum problema devido à minha idade”, desabafa.

Apesar de existirem perigos relacionados à gravidez tardia, eles estão diminuindo gradualmente devido aos avanços da ciência e da tecnologia, dizem especialistas. “Os riscos da gravidez madura são cada vez menores, se a mulher tiver uma saúde boa, porque os recursos que temos para fazer seguimento da gestação, mesmo em mulheres com mais de 40 anos de idade, são cada vez mais seguros”, afirma Abrão. O mais importante é manter o acompanhamento médico. “É fundamental que ela procure um especialista que saiba orientá-la com todo o respaldo que a medicina moderna tem a oferecer atualmente”, destaca o ginecologista.


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‘Me sinto mais preparada para a maternidade’

Embora haja preocupações, Andreza acredita estar mais preparada para enfrentar a gravidez e a maternidade mais uma vez por já ter passado por tudo isso com os seus dois filhos, de 15 e 18 anos, e saber, em parte, o que vai acontecer. Este também é o sentimento de Renata Chiurciu, jornalista de 50 anos, que engravidou pela terceira vez aos 48. “Essa gravidez madura foi planejada. Meu segundo marido não tinha filhos, a gente demorou um pouco para decidir se a gente ia ter outro filho, mas fomos atrás”, diz. Porém, diferente de Andreza, a gravidez de Renata não foi natural.

Ela optou pela fertilização in vitro (FIV) e, ao contrário do que pensava, foi um processo bem rápido e tranquilo. Devido à idade e à redução da quantidade de óvulos, foram encontrados cinco óvulos viáveis para a inseminação. Destes, dois vingaram e foram congelados. “Em uma segunda etapa, eu preparei o útero, tomei os hormônios, fiz tudo que precisava fazer e fiz a transferência de um embrião só, porque não queria correr o risco de ter uma gravidez gemelar aos 48 anos e, se não funcionasse, teria uma segunda chance se quisesse tentar de novo”, conta. 

Segundo Mauricio Abrão, é realmente mais raro engravidar principalmente após os 45 anos, sendo a FIV e a doação de óvulos os melhores métodos para essa faixa etária. Mas, para a sua surpresa, Renata Chiurciu engravidou logo na primeira tentativa. “Foi uma sensação super boa, a gente ficou muito feliz, mas, mesmo assim, ainda tínhamos alguns receios em relação à saúde do embrião”, diz. Por isso, por volta da 12ª semana da gestação, resolveu realizar um teste para fazer a sequência genética do bebê. “Foi nesse momento que a gente soube que estava tudo bem, que não tinha nenhuma anomalia, porque eu tinha esse medo. Depois disso a gravidez madura foi uma delícia e estamos aqui agora ‘penando’, porque ter um bebê aos 48 é muito diferente do que aos 29 anos”, aponta.

Leia, Pedro e Renata Chiurciu/ Foto: arquivo pessoal

Um outro olhar sobre a gravidez

“Eu tive os dois extremos, engravidei bem nova, com 25 e depois 27 anos, e mais velha, com 43. Acho que agora tenho um olhar muito diferente por estar em outra fase da vida, com mais experiências”, afirma Andreza Machado. Apesar da segurança de já ter passado por essa situação antes, ela acha que esta gravidez não é nada como as outras, principalmente por ser mais madura e por contar também com a companhia e apoio dos filhos mais velhos. “Acho que muito do que eu vou viver vai ser completamente diferente do que eu vivi, tanto em relação à maternidade, quanto ao companheirismo”, diz.

Renata Chiurciu concorda que o amadurecimento traz um novo olhar sobre tudo na vida, inclusive na gravidez. Para ela, muitas condutas mudaram desde a sua última gestação, quase 20 anos antes. “Tive uma grande vontade de fazer melhor em todos os aspectos, como na criação, na amamentação e na alimentação. Então, fui atrás para ler e estudar muito. Procurei também vários pediatras e nutricionistas para me ajudar, o que eu acho que foi muito positivo para mim e para a minha filha”, relata. 

Segundo Renata, a bagagem de ter tido dois filhos que agora já são adultos, um com 19 e outro com 21 anos, também mudou a forma de encarar a maternidade. “Quando você é jovem, você é muito imediatista, você vai aprendendo a valorizar as coisas pequenas e mais importantes ao longo do seu amadurecimento”, afirma. Agora, nesta etapa da vida, ela acredita que supera as frustrações e as dificuldades de ter um bebê recém-nascido de uma forma mais tranquila. “A maternidade ao longo da vida vai te ensinando a lidar com os sentimentos e acho que soube lidar melhor com todos os desafios que apareceram”, acrescenta a jornalista.

As experiências de vida e o olhar mais tranquilo em relação à maternidade também foram destacados por Andreza Machado. “Na gravidez madura, você acaba ficando mais calma por já ter passado por muitas coisas. Acho que vai ser uma maternidade mais calma, mais serena. Você consegue ponderar, pensar bem o que você quer e o que você não quer para o seu filho e procurar fazer escolhas mais acertadas”, ressalta.


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A segurança da estabilidade profissional e financeira

Para Renata e Andreza, ter um trabalho e salário estável é outra vantagem da gravidez madura. Ambas acreditam que ter um emprego fixo ajuda a tornar a maternidade mais tranquila em relação ao desenvolvimento da criança e ficar desempregada é uma grande preocupação das duas.

De acordo com Andreza, saber que vive em uma sociedade patriarcal e etarista, que dificulta que mães mais velhas consigam se reinserir no mercado de trabalho, é angustiante. “As coisas não vão bem no Brasil, a questão do desemprego é alarmante e eu sei que, se eu ficar sem trabalho, vai ser mais difícil de eu conseguir outro só pela minha idade e por ter um bebê”, destaca. Portanto, a estabilidade profissional a deixa mais segura, mas não completamente.

Pedagoga Andreza Machado/ Foto: arquivo pessoal

Do lado profissional, Chiurciu teve experiências muito diferentes entre as primeiras gravidezes e a última. Quando teve o seu primeiro filho, perdeu seu emprego e logo acabou engravidando novamente. Após a segunda gravidez, decidiu dedicar-se aos cuidados dos filhos e ficou dez anos sem trabalhar. “Na época, eu tinha o meu marido que trabalhava e nós tomamos a decisão em conjunto de eu parar de trabalhar para ficar com as crianças. Ganhei coisas e perdi outras, não me arrependo nem um pouco. Mas isso teve um impacto muito forte na minha carreira”, relata.

Depois que se separou, resolveu retomar o trabalho como jornalista e se casou novamente. “Eu acho que a estabilidade financeira faz diferença sim e traz uma maior tranquilidade. Mas é bem diferente, porque antes eu estava exclusivamente com os meus filhos e, agora, eu estou parcialmente”, aponta.

‘Me preocupo em ter menos tempo com o meu filho’

“A minha apreensão é que ele vai crescer e eu vou estar em uma outra fase mais avançada da vida. Quando ele tiver com dez anos, eu vou estar com 53”, diz Andreza Machado. Apesar de que, com a medicina atual, uma pessoa com 53 anos ainda é considerada nova, já existe uma maior propensão para mais problemas de saúde. “Me preocupo em ter menos tempo para passar com o meu filho”, relata. 

A diferença de idade também foi destacada por Renata Chiurciu. “Quando você é jovem, você não tem isso na cabeça ainda, porque você ainda vai ter muitos anos de vida e seu filho vai crescer junto com você”, diz. Mas, aos 48 anos de idade, ela sente que precisa cuidar ainda mais da sua saúde física e mental para conseguir dar a estrutura que a filha vai requerer no futuro. “Ela ainda tem muita vida pela frente e vai necessitar dos meus cuidados”, ressalta. 

Ao retomar o trabalho, também ficou aflita ao pensar que não teria tanto tempo com a filha, mas com a pandemia e a introdução do home office, conseguiu ficar mais próxima dela. “Eu tive seis meses de licença maternidade e, no dia que eu ia voltar ao trabalho, começou o home office. Até hoje eu não voltei a trabalhar presencialmente, então, por 2 anos e dois meses, eu consegui acompanhar a trajetória da minha filha num momento que é muito importante”, afirma.

Por outro lado, trabalhar de casa também teve suas desvantagens. “A demanda dos cuidados da filha, da casa e com a pandemia ainda por cima, que limita a sua rede de apoio, é muito desgastante”, desabafa.

Para Andreza Machado, a falta de energia é outra preocupação da gravidez madura. “Quando eu era mais nova eu tinha uma grande disposição que eu já sei que não vou ter com essa nova criança. Não vou conseguir fazer tudo que eu fazia com os meus filhos. Há ganhos e perdas”, diz.

‘Quando você é mais velha, você já tem um mantra: tudo passa’

A falta de energia foi uma questão alarmante para Renata Chiurciu no puerpério. “Eu não tinha mais aquele gás que precisava. Os seis primeiros meses de vida da Leia foram muito difíceis, eu realmente fiquei muito esgotada”, conta. Porém, a jornalista conseguiu superar essa situação e acha que, por ser mais madura, lidou melhor com o puerpério desta vez do que nas outras gestações, mesmo ficando mais cansada. “Quando você é mais nova, você fica preocupada achando que nunca vai sair dessa situação, você fica louca naquele looping de tarefas. Mas, quando é mais velha, você já tem um mantra: tudo passa”, destaca Renata.

Embora não tenha sido o seu caso, a gravidez pode desencadear problemas emocionais e psicológicos, como a depressão pós-parto ou até o burnout parental, mesmo em mulheres mais velhas, segundo especialistas. “Problemas emocionais durante ou após a gravidez são sempre possíveis em qualquer idade. O importante é o médico ter sensibilidade para detectar isso e encaminhá-la para um time multidisciplinar que possa ajudar nessa questão caso seja necessário”, reforça o ginecologista Mauricio Abrão.

Além disso, ter uma rede de apoio também é fundamental. Renata Chiurciu conta que o suporte da sua mãe, da sua irmã e da sua cunhada também foi crucial nos primeiros meses da filha. “Ter uma rede de apoio quando você é mais jovem ou quando você é mais velha sempre é bem-vindo. Isso ajuda a mãe a manter a sanidade mental e sobreviver bem ao puerpério que, no meu caso, foi bem mais difícil que o período de gestação”, finaliza.


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1 COMENTÁRIO

  1. Onde numa “sociedade patriarcal e etarista” a mulher pode parar de trabalhar para ser sustentada pelo marido para poder cuidar dos filhos, como no caso de uma das entrevistadas? Isso sim é um privilégio da mulher, que nenhum homem tem. Temos que parar de falar que nossa sociedade é patriarcal e etarista porque não é, inclusive, as mulheres entrevistadas trabalham.

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